CONTACTO DE CULTURAS NO CONGO PORTUGUES (12)
CONTACTO DE CULTURAS
NO CONGO PORTUGUES
ACHEGAS PARA O SEU ESTUDO.
Por Dr MANUEL ALFREDO DE MORAIS MARTINS. (Administrador da Damba 1945-1953).
DISTRIBUIÇÃO E CIRCULAÇÃO DE BENS.
Diversos passos da Relação de Pigafetta e da História do Reino do Congo, da Biblioteca do Vaticano, mostram claramente que a apropriação de certos bens pelos Congueses não era inteiramente individual, livre e completa, mas estava condicionada pelo cumprimento de certas prescrições costumeiras. Para não citar outros, basta referir os casos de pesca e e da caça. Certos animais e peixes, no todo ou em parte, tinham de ser entregues ao rei, sob pena de pesadas sanções. Sobre os peixes, diz Pigafetta: “e outro que tem duas mãos e cauda do feitio de um adarga, e se “Ambisse Angulo”, isto é peixe porco, por isso é gordo qual porco, e tem carne boníssima, e dele se faz gasto e conserva, nem sabor tem a peixe, e não sai nunca da água doce, e pasta erva da margem, e tem o focinho como de boi, há deles que pesam 500 libras em grosso. Apanham-no os pescadores naquelas suas barquetas, observando os sítios onde pasce; e, depois, com arpões ou fisgas o ferem, e, morto, tiram fora das águas e o levam em postas a el-Rei; pagando com a vida quem quer que o não fizesse; o mesmo se determina também para a Truta e a Tinca e outro peixe, dito Cacongo, formado á guisa de salmão, salvo que não é rosado, mas tão gordo que se apaga o lume assando-o, e outros peixes, a que chamam reais, todos levadoa a el-Rei, com rigorosos bandos para quem fizesse o contrário; e pescam outras castas de peixes, os nomes dos quais julgamos supérfluo aqui recitar”. Aquele peixe- porco não deve ser mais que dugongo ( Halicove dugong ) ou manatim ( Trichechus senegalensis ), mamífero da ordem dos sirénios que se encontram nos estuários de muitos rio. A poética sereia não merecia, entre os Congueses, mais do que a prosaica designação de peixe-porco!.
Quanto á caça, deviam também ser levados ao rei certos animais abatidos, no todo ou em parte, e algumas peles. Quanto às de onça e leopardo ( Felis ( Leopradus) pardus ), ouçamos Pigafetti:
“ e acrescentava que naquelas regiões se tem por veneno mortal os bigodes de onça, os quis, dados a comer, provocam morte quase frenética: pelo que el-Rei castiga quem lhe levar a pele sem os
bigodes”.
Ligando o que depreende destas transcrições com o que ainda hoje se pratica, somo levados a concluir que os chefes gozavam da prerrogativa de receberem tributo em espécie, pelo menos em
relação aos peixes ou animais capturados nas áreas da sua jurisdição. Além deste, outros tributos eram arrecadados. Os chefes de aldeia têm sobretudo que ter em atenção a cobrança de impostos que
os inferiores pagam ao Rei..”
Dada a existência da agricultura e da pecuária, abundância de produtos espontâneos fornecidos por um meio natural rico e o relativo progresso de certas industrias, já havia entre os
Congueses um comércio activo. Tão activo e tão evoluído que já não se limitava à simples permuta.
Além do sistema de permuta, á usavam nas suas relações comerciais um padrão de valorização, uma moeda, que era constituída por conchas do molusco gastrópede “ Ciprea moneta”, designadas
entre eles por “nzimbo ou jimbo” e que se colhiam sobretudo nas praias da ilha de Luanda. Sobre esta moeda, diz Pigafetta: “ Esta ilha ( de Luanda ) é a mineira da moeda que gasta El –Rei de
Congo e os povos das regiões circundantes; porquanto, nas suas praias, é recolhida por mulheres que, mergulhando no mar duas braças , e mais enchem as cestas de areia e depois separam o
saibro dos búzios pequenos; discernindo-se o macho da fêmea por este ser mais fina a fêmea que o macho, e estimada na sua cor tersa, reluzente e grata à vista. “Estes marisquinhos nascem em todas
as praias do Reino de Congo; porém as melhores são os de Loanda, porque se mostram subtis e de cor brilhante, morena ou parda, e também de outra cor não tanto apreciada.