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Portal da Damba e da História do Kongo

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Página de informação geral do Município da Damba e da história do Kongo


CONTACTO DE CULTURAS NO CONGO PORTUGUES (11)

Publicado por Muana Damba activado 18 Noviembre 2011, 03:04am

Etiquetas: #História do Reino do Kongo

 

 

 

CONTACTO DE CULTURAS

NO CONGO PORTUGUES

ACHEGAS PARA O SEU ESTUDO.


 

Por Dr MANUEL ALFREDO DE MORAIS MARTINS. (Administrador da Damba 1945-1953).


Alfredo de Morais Martins.

 

 

Achamos que vale a pena transcrever um passo da Relação de Pigafetta e que é uma síntese valiosa desta matéria: “ Naquele Reino empregam-se as medicinas naturais das ervas, das árvores e de seus córtices, dos óleos, das águas e das pedras, que a madre natura lhes amostrou; a febre é a doença mais comum que corre; a qual costuma atacar mais homens no Inverno, por motivo das chuvas, portadoras de calor e de humidade ( Deve referir-se às febres palustres , que nessa época, não se sabia serem transmitidas pelos mosquitos anófeles ) do que no Estio; além disso, o mal, a quem chamam, aqui, francês e, no idioma de Congo, Quitangas ( Doenças venéreas  que, segundo Cavazzi foram introduzidas no Congo pelos portugueses que a contraíram no Brasil ) não é ali perigoso nem difícil de sanar como nestas regiões.


 “ A febre cura-se com o pó do pau nomeado sândalo vermelho e citrino, que é pau de Àguila; o qual pó misturado com azeite de palma, e duas a três vezes com ele unta-se o corpo do enfermo, da cabeça aos pés, se acha bem. Doendo-lhes a cabeça, tiram o sangue das fontes com uns pequenos cornos, golpeando um pouco a pele, e depois adaptando-lhe aqueles corninhos e sugando com a boca, se enchem se sangue, o que também se usa no Egipto: e assim em tosas as partes da pessoa, onde sintam dor, naquela maneira se sangram e se curam.

 

Também medicam a enfermidade a suso chamada Quitangas com o mesmo unguento de sândalo, denominando-se o vermelho Tacula, e o citrino Quicongo, sendo o citrino mais estimado, pois se dá um escravo por um pedaço dele; e purgam o ventre com umas cascas de árvores, feitas em pó, tomadas em qualquer beberagem, e fazem grandes operações, não e resguardando eles do ar. As feridas mundificam-nas com o suco das ervas e com as próprias ervas; e afirmava o dito Senhor Duarte que vira um escravo, trespassado de sete golpes mortais de flecha, guarecer tão – somente com o suco de certas ervas bem conhecidas deles; por onde aquelas gentes não andam empachadas com tantos médicos em cirurgia e física, nem com drogas e xaropes e electuários  e emplastros e mezinhas, mas curam-se simplesmente com as plantas nativas, não havendo sequer disso misteres , porque, vivendo eles sob um céu temperado e não atafulhado de comidas variadas que lisonjeiam o apetite, nem se ingurgitando de vinho, as suas doenças não precedem do alimento nem de bebida indigesta”


 A “Tacula” atrás referida é o “ Ptetrocarpus cabrae de Wild”; o pó da casca, além de servir de remédio, é também usado em muitas cerimónias rituais e, misturado com o óleo de palma, era unguento muito usado pelas mulheres, que com ele untavam todo o corpo, por motivos de ordem estética. Ainda hoje, é usado nalgumas regiões do Congo.


 Quanto ao “Quicongo”, presumimos que seja a “ Tarchonantus Camphorratus Jonh Gossweiller” atribui a este arbusto o nome indígena de Kicongo entre os povos da Huíla não regista a sua existência no Congo. Atribuí à sua madeira, reduzida a pó, propriedades medicinais e diz que é  “aromática , tendo cheiro prenunciado a cânfora “. Pigafetti diz do “Quicongo”: fazem dele um pó, que é de suave odor, e compõem remédios”. É provável que se trate da mesma planta.


 Actualmente ainda são usados muitos dos remédios então existentes. Nos últimos tempos da nossa permanência na Damba começámos a colher elementos respeitantes à terapêutica indígena e chegámos a anotar a existência de vinte remédios e respectiva forma de aplicação. Como a maioria já conhecemos os nomes indígenas, vamos referir apenas aqueles que conseguimos identificar pelo nome botânico:
 “Kiseka-seka” ( Lonchocarpus sericeus Kunth. ) – Arbusto que chega a atingir proporções de árvore. A casca, em fresco ou seca e reduzida a pó, é empregada no tratamento de feridas. O suco da mesma casca é bom desinfectante.


“Gipepe ou pepe” ( Monodora myristica Gaertn  Dunal )  --Grande árvore cujo fruto, redondo, encerra muitas sementes que, pisadas e misturadas com outros ingredientes, constituem remédio para curar inflamações e dores de cabeça.


 “ Mkombe” ( Swartzia madagascariensis Desv.) – Arbusto cuja raiz pisada e misturada com água é mezinha muito usada no tratamento das dores de ouvidos.

 
 “Kupire” ( Piper guinieense Shumach ) – Planta trepadeira que já fizemos referência quando tratámos da alimentação e cujo fruto substitui a pimenta. Mastigado com um pouco de sal, alivia dores abdominais. Pisando juntamente com raiz de “mukombe” e introduzida a mistura no ânus, dizem ser remédio eficaz no tratamento das hemorróidas.


 “Kixiriximba” ou erva-de santa-maria ( Chenopododium ambrosoides L. ) – É uma ervas cujas folhas pisadas juntamente com sementes de “gipepe” são ministradas; sob forma de clisteres, nas doenças intestinais. Clisteres só com “kiririximba” são dados às crianças como vermífugos. Uma decocção das folhas bem pisadas, e ingerida depois de coada e arrefecida, é excelente calmante.


 “ Nkolokoso ( Urena lobata L. ) – Planta têxtil muito conhecida. Com as suas folhas preparam-se clisteres usados pelas mulheres grávidas.


 “Mbili ou bire” ( Canarium Shweinfurthii Engl ) – Árvore cuja resina, muito aromática, é conhecida por “kifabre ou mubafo”. Esta resina, dissolvida em azeite de palma, é unguento muito utilizado para combater as febres. Os doentes, depois de com ele untarem todo o corpo, agasalham-se muito bem até transpirarem. Bem torrada, reduzida a pó e misturada com um pouco de sal, toma-se em pequenas quantidades para combater certas doenças das vias respiratórias. Misturada com azeite quente, aplica-se nos tumores e inflamações.


 “Mogôno” ( Jatropha curcas L. ) – É a purgueira. Com as suas folhas pisadas preparam-se clisteres muito usados pelas mulheres grávidas como preventivo contra perturbações a que estão sujeitas nesse estado. O óleo extraído do fruto também é medicamentoso. Cavazzi cita-o.


 “Musoco u aba” ( Folhas terminais de palmeira dendém – Elaeis  guininieensis Jacq. ) – Bem pisadas, são misturadas com água fria, que depois se côa. Com esta água dão-se clisteres às mulheres grávidas para evitar as perturbações antes referidas.


 “ Mukua” ( Julgo tratar-se de Xilopa aethiopica Dunal ) – É uma árvore frondosa que produz vagens denominadas “Kua-Kua” pelos indígenas do Congo e que têm várias aplicações terapêuticas. Já as temos usado, com óptimos resultados, contra a dor de cabeça, queimando a vagem e inspirando o fumo. Pisadas juntamente com “kupire, “mukombe” e “gipepe” e misturadas com azeite de palma ligeiramente aquecido, constituem um unguento usado nas inflamações. Esta mesma mistura, aplicada nas regiões parietais e frintal, abranda as dores de cabeça. A decocção de “ Kuaku , mulombe, gipepe e kiririximba” é aplicada em clisteres contra as dores abdominais. Os clisteres são ministrados por meio de uma cabaça cujo gargalo se introduz no ânus.

 

 

                                                    Em colaboração com João Garcia e Artur Méndes.

 

 


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