Clã Ondonga
Por Patrício Cipriano Mampuya Batsikama
“Ekuyu laendamena k’Ondonga / Ovanu avese ok’efyo vatelele…” (Assim como uma velha figueira está inclinada para Ondonga / Todos os homens têm de enfrentar a morte).
Uma outra tradução deste provérbio, não menos incorrecta, seria: “todos os homens que a enfrentam defrontam-se com a morte”. Com efeito, Ondônga designa em princípio linhagens e territórios.
Como
linhagem, Ondonga tem relação com as famílias dos soldados, dos conquistadores e comerciantes. Já como território refere a lugar fortificado não só entre os Kwanyâma, mas em quase todas as
populações
meridionais de Angola. O mesmo se pode dizer dos Kôngo, que por sua vez afirmam: “Mbôma Ndôngo: vo Nioka, Na Mboma na Kôngo, Mandûngu ma Kôngo Nsundi Mboma Ndongo’a Ne Kôngo. Nzing’a
Ntinu wa Mpasi za Nkênge wawuta mbambi, wawuta Mboma”.
Mboma é jibóia e simboliza “defesa” na linguagem tradicional militar. Na linguagem popular ela designa frequentemente a “protecção” assegurada pelos soldados. Na primeira parte deste estudo
(primeiro volume) mencionamos as observações de Virgílio Coelho dizendo que Ndôngo significava 1) cidade, 2) montanha, 3) cidade-real. Mencionamos ainda que Mani Ndôngo é aí assinalado como
equivalente de Ministro das Relações Exteriores. Com efeito, Rapahël batsîkama localiza esta linhagem nas regiões fronteiriças do reino. Aqui convém atentar para o facto de que,
curiosamente, o termo “ekuyu” designa em várias línguas meridionais uma “árvore” típica e delimitadora de fronteira, que na oração em análise relaciona-se com Ondônga.
4) Yinga ou Dinga (de Origem Kwanyama /!Kung)
Na sua obra sobre os chefes coroados, Mertens faz-nos perceber que a eleição consiste sempre na concorrência de três candidatos.
No entanto, o Mani Mbâmba ma Mpângala, que se encontra em Kôngo-dya-Mpângala (país chamado “nações Nzing”, ou Dzing, ou ainda Mavînga, por vezes Zinj ao trono. Terá este facto alguma conexão
cultural que assuma que Kôngo terá começado em Mbângala, entre os !Kung?
Segundo reza a mitologia Kwanyama/!Kung, do Norte da Namíbia, Cungo (!Kung) é a aldeia da mãe Hînga; por outro lado Dînga(ne) ainda era (até bem pouco tempo) o nome de família dos reis zulu, mas
também designava o “candidato ao trono entre os Tswana, da África do Sul, entre os !Kung da Namíbia. Sendo o sistema de parentesco matriarcal, parece fazer sentido a versão que Mertens, apresenta
sobre os Dzing de Mandûndu, acerca das suas presumíveis origens em Angola (país além de Lûnda)
Assinale-se ainda que na língua dos! Kung o termo Ding significa “concorrente ao trono”, facto aliás confirmado pelo dicionário English-Africaans que confirma esclarecendo que “Dingaans dag”
significa “Festival ou Dia de Acordo”. Acordo este simbolizado pela “escolha” do representante unânimo do povo,
dos vivos e dos mortos.
A semântica de “Ding” também se assemelha à de “Zînga”, isto é, acordo (agreement), enrolamento, círculo, assembleia, que derivaria dum mesmo grupo de verbos “Hinga”, “Yinga” ou “Dîng” que em
Kwanyâma e na língua dos !Kung significam a mesma coisa que “Jinga” em Côkwe e Kimbûndu, e “Zînga” em kikôngo, com o sentido de enrolar, proteger, pactuar, juntar-se, hospedar-se num mesmo
recinto, etc.
Extrato do livro: A origem meridional do Reino do Kongo