Overblog
Edit post Seguir este blog Administration + Create my blog
07 Nov

Casamento, Nome e Deus como Vestígios das Origens

Publicado por Muana Damba  - Etiquetas:  #História do Reino do Kongo

 

 

 

Por Patrício Cipriano Mampuya Batsikama


 

Batsikama



Princípio da Família



O Princípio da família, isto é, o casamento, tem uma correspondência abundante. Esta união de homem e mulher, antes de mais legal, com o único objectivo de construir uma família, tem várias apelações, consoante os casos e circunstâncias, como por exemplo entre os primos cruzados, entre cunhado e cunhada, etc.


Em umbûndu, Côkwe, Nyaneka-Nkumbe, Kôngo e Kimbûndu, o acto de casar está ligado à casa. O homem nunca estará pronto para se casar sem ter primeiramente a sua casa, um lar. Este lar ou casa é constantemente oferecido (garantido) pelo membro da família (pai, tio, avô, etc). Em umbûndu e Kim-
bûndu, onjo e inzo significa casa. Nzo é a forma Kôngo que significa morada, onde se vive, uma casa normal para não confundir com palácio, por exemplo. ONJO, INZO ou NZO é, em princípio, uma casa e esta localiza-se dentro de um quintal, ou numa concessão. O quintal é HÛMBU, em umbûndu, e WÛMBU,
em Kikôngo. Nyaneka, portanto, utiliza EUMBu para casa, e na mesma língua, OHOMBO, quer directamente dizer casamento.


Em Nyaneka, temos vários termos que designam casa, como OPATA (dibata= aldeia em Kimbûndu; vata = aldeia em Kikôngo); ONKHANDYO (kanda = grande família em Kikôngo; ndyo, nzo em umbûndu, Kikôngo e Kimbundu) e NGANDA (ngânda = lugar público, principal em Kikôngo, Cokwe, etc). Mais correctamente, diz-se EUMBO para designar CASA em Nyaneka: mwene weumbo (dono da casa), por exemplo. Apesar de entrever a raiz «NDYO» que é, sem dúvida, variante bantu de NZO e INJO, a palavra ONKANDYO não significa uma simples casa. Pelo contrário, designa uma concessão, o quintal, tal
como podemos ver nesta frase «va nkhandyo o vita, Veumbo ovifwanga»: os da HABITAçãO são gente que fazem a guerra, os da CASA são salteadores, citado pelo autor do Dicionário Nyaneka-Português. Claro, ONKHANDYO, em Nyaneka, é uma concessão, habitação, grande quintal onde há coexistência de
várias CASAS. Em umbûndu, chama-se HuMBO e, em Kikôngo, WUMBU. De igual modo, temos ONGANDA (casa) em Nyaneka-Nkumbe que em umbûndu, Kikôngo, Kimbûndu e Côkwe se traduz por concessão, corte, lar público, praça principal. Portanto, na mesma língua, a casa de Deus diz-se ONDYWO YA
HuKu. É prova que numa certa idade, ONDYWO significava CASA. Mais tarde, a religião cristã (católica ou protestante) institucionalizou a igreja que designava uma grande casa, onde todos iam rezar vindo de várias casas e de moradias diferentes. Entrevê-se que ONDYWO HuKu contem a ideia de CASA porque é
só uma e grande. Ora, aqueles que a frequentam são originários de várias casas, de onde originou a ideia de grande concessão, quintal. Contudo, neste caso, ONDYWO leva consigo um duplo sentido, arcaico e recente. Em Nyaneka-Nkumbe, o «sebe que cerca uma casa chama-se ONGuMBu» (de umbu) ou ONGANDA.


Mas o «aposamento de uma casa qualquer» é ONDYWO. Isto prova que, numa certa idade, a casa era chamada NDYWO, variante de ínjo, ínzo e nzo em umbûndu, Kimbûndu, Kikôngo e Côkwe.

 

O pedido

 

 

O casamento entre os Cokwe, Kimbûndu, Kôngo, umbundu, Nyaneka e Nkumbi é um processo que leva um certo tempo. Começa pelo pedido, pelo sacrifício gentílico ou ainda pela apresentação. Quem faz o
pedido? Como isto se faz? Quem está implicado? Vamos tentar responder a estas perguntas de acordo com o vocabulário de cada grupo etnolinguístico acima enumerado. Essas são respostas que ajudar-nos-ão entender, mais uma vez, as origens do Kôngo disseminadas em usos umbundu,
Kimbundu, Nyaneka e Cokwe.


Geralmente, a família do rapaz dá o primeiro passo, isto é, pede a rapariga em casamento. As palavras confirmam que o rapaz PEDE a rapariga em casamento e, assim, a rapariga é PEDIDA em casamento. Em
contrapartida, ela não pode PEDIR o rapaz em casamento. Nyaneka e Nkumbi têm lOMBA; Kôngo: lÔMBA; Kimbûndu: LOMBA, Côkwe: lOMBA, SOMBOlA e umbûndu: LÓMBA ou SóMBOLA.


Esses verbos significam PEDIR (kikôngo, Kimbûndu) ou, mais precisamente, PEDIR EM CASAMENtO (umbûndu, Nyaneka Côkwe e Kimbûndu). Em Nyaneka e umbûndu, o homem «lOMBA» (pede) a mu-
lher em casamento, mas jamais pode «lOMBWA» (ser pedido) em casamento. Este verbo não é possível para os rapazes, o que mostra e atesta uma certa «proeminência unilateral» da parte do rapaz (homem) e da sua família. Aliás, existe, por isso, um termo específico usado somente para a rapariga pedida em casamento: Em Nyaneka, «ONDOMBWA» (derivado do verbo lombwa) ou ainda «OMuI-LUlWA»; Em Kôngo, «NDUMBA», isto é, rapariga pronta a ser pedida, moça com idade de se casar.
Entre Nyaneka e Nkumbi, o casamento realiza-se de uma forma que instiga os etnógrafos ou sociólogos a pensarem que, em certa medida, a mulher pode também pedir o homem ao casamento. Pois têm por suporte nesta hipótese o facto de após o casamento, quem pede ao casamento deve no fim entregar um símbolo (boi). Ora, as noivas, assim como os noivos, são obrigadas a fazê-lo também. Em princípio, isto não implica que ambas as partes possam pedir em casamento. Quando o homem entrega o seu
símbolo, a palavra própria usada é «TONA». Isto é entregar o símbolo. Mas quando a família da mulher o recebe (e sobretudo no pensar dos Nkumbe é a forma conveniente e frequente em uso) usa o termo OMONTHUNYA.


O termo deriva de thunya, ou melhor, thunwa, reflexivo. Contrariamente ao pensamento desta classe de etnógrafos e sociólogos, a mulher não pode de maneira alguma pedir o homem em casamento. De facto, os verbos «thuna» e «thunywa» atestam isso: diz-se «thuna» quando o «homem vai entregar o símbolo à família da mulher depois do casamento». Isto significa «começar o pedido com um símbolo». Além des-
te termo, esta instituição oferece outro para designar o «presente de estilo para o pedido de casamento»: OTYILOMBO. Mas não OTYILOMBWA!


Assinalamos que TONWA é usado quando a família da mulher reclama ou ainda obrigam o homem a entregar os bois (como símbolo) depois de casamento, ou seja, «consentir (concluir) o casamento». Pois bem, tantotHuNWA (tonwa) como lOMBWA são verbos reflexivos de THUNA (tona) e LOMBA (sombola), o que confirma, uma vez mais, que a mulher não pode pedir o homem em casamento, mas o contrário é possível.


Não sendo exclusivamente Nyaneka, abraçamos este facto para confirmar o caso dos umbûndu. OLOHWELA ou OVALA significam casamento e união de homem e mulher. Aí, enrolam-se muitos termos para o casamento:

Kwela: unir-se por casamento; kwelula: casar-se mais do que uma vez; kwela utiku: casar sem cerimónias; kwela okulubaka: casar sem a idade requerida; kwelisa: ligar em casamento; lemuka: unir-se através do casamento; sokala: casar-se (kimbûndu?); tulunha: unir-se por casamento;
pisa uvala: fazer o casamento; litokeka v’olohwela: unir-se por casamento.

Numa primeira observação, OlOHWElA deriva do verbo kwela, portanto uVAlA não deriva de nenhuma palavra ligado ao acto de casar ou unir. Significa, para já, casamento, união, eis o porquê de termos de
empregar o termo PISA (realizar), sinónimo de lTOKEKA (v’olohwela). O sentido é formar o berço da sociedade que é a família (aqui uvala é origem do lar).


Em princípio, a palavra OlOHWElA significa casamento, como união legal para CONStItuIR uMA FAMílIA. Neste caso, o verbo que deriva desta «união legal» é kwèla, pois implica a ideia de casa ou morada
(ONJO), onde vão viver os recém-casados, o que compromete toda a sociedade consoante a trama semântica que vimos atrás.


A expressão KWÊLA UTIKU (casar sem cerimonias usuais) faz acreditar que esta união de duas pessoas de diferentes famílias deve acompanhar uma cerimónia. Quando dizemos uMINGANJO, isto significa o casamento entre cunhada e cunhado depois da morte do irmão. A palavra «Njo» explica que esta união não salta os muros de NJO, ou seja, do quintal, da habitação, do quintalão. todavia, deparamo-nos com uma curiosidade: porquê somente a morte do irmão faz intervir o cunhado mais novo (irmão do falecido) casar com a cunhada e a morte da irmã não implica que o viúvo case com a irmã da defunta? Seria outra prova de que apenas os homens podiam casar as mulheres e não o contrário.


Entre os umbûndu, o casamento é, antes de mais, um processo marcado por cerimónias. Isto acontece, porque pedir em casamento é LOMBA ou SOMBOLA, o que significa pedir a, isto é, solicitar outra pes-
soa, outra família. Ora, «ligar em casamento» é KWElA ou KWElISA. No momento em que a primeira palavra faz entrever o engajamento de uma pessoa com a sua família (pedir), a segunda (ligar) ilustra que, desta vez, o acto se torna um assunto de todos (público) com o objectivo de juntar duas
pessoas, duas famílias.


Os termos mudam em cada caso. «OBRIGAR O SEDUtOR A CASAR COM A SEDUZIDA» diz-se vuvumbila, ou seja, o sedutor recusa pedir em casamento a mulher que engravidou e, por conseguinte, a família da
mulher atira-lhe à mesma. A expressão correcta é vuvumbilwa ou vuvumbwilai e quando o homem recebe a sua «seduzida», utiliza-se vuvumbila. Isto mostra ainda que sempre foi o rapaz o primeiro a dar o passo, a este respeito.


Portanto, cada vez que o homem aceita entregar dignamente os artigos (dote) que a família da mulher «obrigar», o substantivo kwêla presencia. O facto de casar várias vezes «KWELULULA» obriga a cerimónias específicas, desde que não rompa com a normalidade dado que os seus filhos vão ter relação de consanguinidade entre mais de duas famílias. Também kwêla presencia. é o mesmo caso de um homem idoso quando pretende casar, KWELA OKULUMBAKA (implica as cerimónias). Kwêla presencia como nos outros casos. A expressão sugestiona uma união normal acima ou ao lado de uma outra união entre 1) duas pessoas de famílias diferentes 2) entre duas pessoas de gerações diferentes. De facto, a
palavra «Kwêla», que é unir naturalmente ou juntar normalmente, implica cerimónias. E estas são especificadas pela aposição: lula, okulumbaka, etc.


O contrário é Silula (não casar). De modo idêntico, o casamento entre os Kôngo começa pela famí-
lia do rapaz. Na primeira etapa, o rapaz envia o seu símbolo de noivado, kidimbu, símbolo de pedido. Geralmente, é a mãe do rapaz ou a sua tia paterna que leva este símbolo de pedido. Se for aceite, uma longa lista de cerimónias se estabelece: n’land’e kidimbu (seguir o pedido). Os umbûndu dizem okavetapito; mbondekel’e kidimbu (molhar o pedido com malavu), etc. Esse casamento denomina-se ma-longo e o acto de casar é kwêla.

 

Extrato do livro: " As origens do Reino do Kongo " editado por:

 

 Mayamba Editora

Rua 3 – n.º 231 – Nova Vida
luanda-Sul Angola
Caixa Postal n.º 3462 – luanda
E-mail: mayambaeditora@yahoo.com

 


 


Archivos

Acerca del blog

Página de informação geral do Município da Damba e da história do Kongo