Por Muanamosi Matumona
Padre Luzizila afirma que as seitas fomentam a feitiçaria prática que a sociedade condena
Fotografia: Jornal de Angola
A província do Uíje é considerada, de uma forma geral, como um espaço favorável à criação de muitas seitas, que aproveitam a religiosidade popular. Hoje, a religião cristã enfrenta muitos
problemas, já a partir dos próprios crentes que se declaram cristãos. Pelo menos, no contexto actual, um dos problemas que aflige o cristianismo é a proliferação de seitas. E muitas delas
fomentam uma das práticas que a sociedade também condena: a feitiçaria.
O Uíge surge, em tudo isto, em destaque, na medida em que nunca deixou de ser visto como um grande “celeiro” de muitas igrejinhas que levantam problemas de vária ordem. Neste horizonte, Jornal
de Angola falou com uma voz autorizada, e competente, para abordar esta matéria. Trata-se do reverendo padre Luzizila Kiala, doutor em espiritualidade, Vigário-Geral da diocese do Uíge, e
pároco da Sé Catedral, que começou por frisar que “o fenómeno das seitas se desenvolve rapidamente em muitos lugares da diocese (província) do Uíge e com um certo êxito.
Por incrível que apareça, de dia para dia, aparecem novas seitas, que, por sua vez, dão origem a diversos outros grupos. Daqui nascem problemas pastorais muito sérios. Mas no meio de tudo isto,
as chamadas igrejas missionárias procuram ajudar as famílias a serem coerentes nas suas opções religiosas”.
Sem se deter: “A maior acusação que se pode fazer a uma seita é que abusa das boas intenções e dos desejos de pessoas insatisfeitas. As seitas obtêm maiores triunfos onde a sociedade, ou a
Igreja, não consegue responder a intenções e a desejos de uma forma imediata, como os ‘aflitos’ querem. Ora, o verdadeiro crente nunca exige respostas imediatas a seu Deus.
O fenómeno é frequente devido a carências na compreensão da fé e tende a ser caracterizado pelo sincretismo. Porém, as seitas têm muito êxito e a sua acção e influência na vida cristã do
nosso povo são relevantes. Mas esta sua influência pode tornar-se desastrosa. Neste sentido, reconhecemos a atracção que estas seitas exercem sobre muitos cristãos”.
A seguir, foi tocado o ponto sobre a estatística, que confirma que a maioria de fundadores das seitas são naturais do Uige. Sobre este dossier, o Vigário Geral da diocese do Uíge concorda
plenamente com esta leitura. E reagiu com estas palavras: “Sabemos que uma das causas da expansão das seitas é o facto de os seus fundadores quererem ter fortes apoios económicos. Eles vêem as
seitas como fontes de enriquecimento pessoal. Além disso, querem uma visão religiosa que possa harmonizar tudo e todos. Por isso, as seitas parecem oferecer uma experiência religiosa
satisfatória, um largo espaço à herança religiosa cultural de tradição, um acento sobre a salvação, a conversão, um lugar para as sensações e emoções”.
Afinal, mesmo com estes “conflitos”, a Igreja Católica procura conviver com estas igrejinhas, no âmbito do ecumenismo. “A Igreja Católica convive com estas seitas, procurando levar uma vida
cristã de entrega a Deus e aos demais irmãos, desenvolver a fé cristã com o estudo da palavra de Deus, participar dos sacramentos, estimular e renovar a sua linguagem e o modo de evangelizar,
buscar formas de atender de modo eficaz às necessidades mais urgentes do povo”, frisou.
Quando se fala de seitas, surge sempre outro tema que é colateral ao fenómeno religioso: a feitiçaria, uma mazela que está na moda, constituindo, até, como que a “essência doutrinal” de muitas
seitas, ou movimentos religiosos. E nestas circunstâncias, a província do Uíge volta a ser referenciada, já que também tem a fama de ser a região mais fértil no que diz respeito a esta prática.
Quanto a isto, o padre Luzizila Kiala reconhece e afirma: “A feitiçaria é outro fenómeno que está a afectar negativamente o nosso povo. Há quem procure nas seitas uma resposta contra a
feitiçaria, contra o fracasso, o sofrimento, a doença e a morte. Porém, há sempre vítimas que são, principalmente, velhos indefesos e crianças”.
Mesmo assim, da parte da Igreja Católica que está no Uíge, e de outras comunidades idóneas, há sempre soluções. Procuram saídas porque “o homem tem direito à vida, que é um valor sagrado que
não deve ser violado. É mal atentar contra a vida. Por isso, a feitiçaria aparece como uma falta gravíssima. Neste prisma, os pastores aproveitam encontros, pregações e palestras para
sensibilizar as pessoas sobre o este fenómeno. Para combatê-lo, os pastores têm realizado um trabalho de mentalização das pessoas no sentido de abandonarem a crença na feitiçaria. Além dessa
ajuda espiritual, promovem a assistência das crianças acusadas de serem feiticeiras pelas próprias famílias”, concluiu o Vigário-Geral da diocese do Uíge.
J.A