"As Origens do Reino do Kôngo" reinterpretadas pelo historiador.
Por Adriano de Melo

Primeiro livro de Patrício Batsîkama mostra as várias facetas da cultura do Kôngo
Fotografia: DR
O historiador Patrício Batsîkama apresenta amanhã, às 18h00, no hall do Banco de Poupança e Crédito (BPC), em Luanda, o livro "As Origens do Reino do Kôngo", no qual faz uma desconstrução das
grandes teses sobre as diversas facetas sociais, políticas e culturais do grupo etnolinguístico do Kôngo.
Resultante da sua monografia, defendida em 1995, no Instituto Pedagógico Nacional de Kinshasa, no Congo Democrático, o livro, resultado de um trabalho de investigação, analisa e rebate os
conceitos históricos das pesquisas feitas sobre o Reino do Kôngo por historiadores como Rui Pina (em 1491), Pigafetta (1591), Cardonega (1680-1683), António Cavazzi (1687), frei Rafael de Castelo
de Vide (1782) e outros mais recentes, entre os quais Anne Hilton, Rafael Batsîkama, John Thornton e Jan Vansina. Além disso, cria, segundo o autor, uma longa discussão metodológica sobre a
credibilidade das fontes, em especial a oral, existentes no estudo da História de África.
Terceiro volume da colecção Biblioteca da História, o livro foi lançado durante o IV Encontro Internacional sobre História de Angola, realizado no Centro de Convenções de Talatona. "Na altura
vendemos 600 exemplares, mas na sexta-feira é o dia da apresentação oficial, no qual colocaremos à disposição do público os 1.400 restantes, dos dois mil editados", disse o autor ao Jornal de
Angola.
Obstinado em prosseguir e aprofundar ainda mais o seu trabalho, Patrício Batsîkama tem na forja um outro livro que será a continuação da obra agora lançada e que irá intitular-se "! Kung A Origem
do Reino do Kôngo". "Neste livro vou analisar outros aspectos da cultura dos Kôngos", explicou o autor.
Além disso, o historiador pretende igualmente publicar, ainda este ano, a "Anatomia do Nacionalismo Angolano", um trabalho no qual apresenta um sistema de compreensão dos vários movimentos para a
independência nacional. "É uma abordagem do nacionalismo do ponto de vista histórico e antropológico".
Para a professora da Universidade de Brasília, Selma Pantoja, este trabalho, baseado numa recolha junto de fontes orais, pode ser um bom ponto de partida para discutir alguns temas polémicos da
História angolana dos dias de hoje.
"O texto de Patrício Batsîkama é uma reflexão que interroga o acontecido e daí retira uma possível interpretação. Nesse caminho o autor parte dos vários elementos da língua kikongo comparando-os
com termos dos diferentes idiomas dos grupos etnolinguísticos da região, caracterizados como vocábulos ligados às origens", afirma a professora.
Para a docente, que escreveu uma das duas introduções do livro, o uso das tradições orais na reconstrução dos percursos históricos faz parte da renovada historiografia africana e, adianta, a sua
aplicação ganhou actualmente outras dimensões. "O grande contributo da História Africana para uma História geral, nos séculos XX e XXI, foi o uso da tradição oral, aplicada ao estudo das
sociedades contemporâneas capitalistas", aclarou.
Com quatro capítulos e 370 páginas, a obra é publicado pela Mayamba Editora.
J.A