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05 Sep

AS ORIGENS DO REINO DO KONGO (5)

Publicado por Muana Damba  - Etiquetas:  #História do Reino do Kongo

 

 

Por Patrício Cipriano Mampuya Batsikama


 

Batsikama

 

 

b) Tradição alterada pela dinâmica do próprio povo

 

O segundo problema relaciona-se com o facto de os africanos alterarem a sua história, sem o quererem ou saberem directamente, para além dos seus esforços ajudarem-lhes a contribuir algumas vezes com a
alteração. Salienta-se citar aqui um entre outros exemplos dos etno-historiadores congoleses.

 

Muitos entre deles afirmam que o topónimo KINSHASA vem de algaravia têke e significaria mercado. Alguns deles evidenciam-no fazendo hipotéticos esquemas das linhas etimológicas: Kinshasa, dizem, derivaria da palavra nsyâla que significaria vender, trocar, fazer comércio. Prefixado de I locativo, a forma Insa-insa quer dizer “pequeno mercado” (repetição de Insa, grande mercado), forma que se terá
comprimido em Insasa.


É verdade que Batêke tinham uma semana com quatro dias65: Mpîka, Nkoy, Nsya e Ukhonzo. Portanto, de acordo com os usos e costumes, os mercados do Kôngo tinham o nome da linhagem fundadora e, no caso contrário, existiam duas possibilidades principais:

 

1) Ora o mercado tomava o nome do lugar onde estava erigido;

 

2) Ora o mercado era simplesmente chamado segundo o dia que tem lugar. Citaremos exemplos do topónimo de Nsôna-Mbâta (Nsôna yi Mbâta) que encontramos na província de Bas-Congo (R.D. Congo) e o nome de Khônzo-Ikhulu (Kônzo yi nkulu) que Henry Morton Stanley assinala como um dos mercados à beira do rio quando passou por Kintâm(b)o. Além disso, o mercado de Manyânga tinha simplesmente o nome da planície na qual foi erigido. todos nós soubemos do famoso mercado de Mpûmbu
que fez ecos dos POMBEIROS como traficantes dos escravos. Ora, esse mercado foi simplesmente designado pelo mesmo nome do território, MPUMBU.


O pequeno mercado que se refere, comentado pelo H.M. Stanley parece ter lugar no dia Nsyâ, porque oficialmente aberto no terceiro dia. De acordo com as realidades linguísticas, é possível que a palavra
NSYA esteja vestido de outros sentidos ligados ao mercado (a metáfora, por exemplo). Exemplo: 1) em kikôngo, mundândila-Mpîka traduz-se em retardatário do mercado e 2) a expressão kutômbi kimfûmu kuna Nsôna ko significa «a autoridade não é procurada no Mercado». Mpîka e Nsôna são nomes dos dias da semana do velho Kôngo, mas aqui são equivalentes a mercado. Neste caso, se existiu o verbo nsâla ou nsyâ,  filologia pode providenciar elucidações. No entanto, isto é possível, porque as palavras nascem em quase todas as línguas, ganham algumas dimensões, dão origem a outros termos e podem até desaparecer, senão morfologicamente, pelo menos, semanticamente: isto é, perder o seu sentido inicial e ganhar outros ipso facto.


Não obstante, estas hipóteses sobre Kinshasa parecem-nos pouco tendenciosas e demasiado simplistas. Para o contra-argumento, digamos que Stanley considerou, também, a luwôzi um pequeno mercado que levava o nome da planície na qual se encontrava, ou ainda Ukhonzo-Ikhulu, que citámos acima. Estes mercados eram de dimensão pequena, mas nunca o autor terá mencionado algum insa-insa, senão teríamos bastante insâ-insa, visto que lá encontramos inumeráveis pe-
quenos mercados, de acordo com o relato de viagem de Stanley. O segundo contra-argumento consiste na irrealidade, de acordo com a cosmogonia do Kôngo, que o mercado dê nome a uma aldeia, mas sim
o contrário, isto é, da mesma forma que o território Mpûmbu deu origem a Mpûmbu-mercado.


Ainda para mais, Kinshasa, ou melhor, Kinsâsa encontra-se, em muitos sítios, como topónimo e não só no Mpûmbu. Neste caso, a palavra sugere a sua anterioridade em relação a este mercado. Ficaria fora
do sentido de que a recente expressão nascida junto a NSYA dê origem a Kinsâsa da mesma lógica que a palavra sol não poderá ser precedida pelo assolar. Será que a palavra negritude nasceu antes de negro? De ponto de vista morfológico escrever-se-ia KINSÂSA amputando o H.


Muito antes de este povo chegar a este espaço, onde encontramos o topónimo, existia «nzo’a lunsâsa», isto é, casa da iniciação das autoridades administrativas e a palavra «lunsâsu», etc. Kinsâsa deriva do verbo nsâsa – sâsa é variante – que significa educar, elevar, instruir, formar e aprender. Kinsâsa significaria literalmente «lugar da instrução», «sítio da Educação», ou seja, onde foi reservado a educação dos escravos, os prisioneiros de guerras, os criminosos, entre outros. Aliás, este Kinsâsa encontra-se em Mpûmbu, território-Mercado dos escravos.


E como podemos ver, desta vez, o Africano, querendo esclarecer o seu passado, é vítima de contribuir na alteração da mesma. Isto é normal, mas não se pode dogmatizar as opiniões sejam elas mais lúcidas e evidentes. Nada é absoluto.

 

 

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