AS ORIGENS DO REINO DO KONGO (3)
Por Patrício Cipriano Mampuya Batsikama
Tradição Travestida
A seguir explicar-se-á como e quanto a tradição Oral é duplamente travestida. Primeiramente, pelos não-Kôngo que a escrevem pela primeira vez, traduzindo nas suas línguas e, em segundo lugar,
pelo próprio povo herdeiro.
Pois questionamos: «Quantos Kôngo têm sistematicamente estudado os dados preciosos deixados pelos não-Kôngo colonizador?». Esta pergunta parece acompanhar-se da seguinte «Quantos Kôngo têm
escrito de maneira científica a sua História em Kikôngo?». É sabido que a maior parte dos estudos que publicamos são simples repetições das escritas já publicadas (relativamente olvidadas). E
cada
qual tenta definir-se a uma ou outra corrente de ideia, ou produz obras com as influências das escolas científicas específicas.
É de notar que o colonizador não-Africano escreveu a História de África com os valores do seu continente, uma vez que não podia renunciar aquilo que ele era. Não-Africano, claro! Apesar do rigor
científico, defende- se a ideia de que, não terão dado a esta África a sua própria expressão. Acontece que ultimamente, são os próprios Africanos que estão a escrever sobre as suas civilizações
fora da própria expressão ou contexto deste continente, dando acesso às outras lacunas. Mas independentemente disso tudo, a obra não-Africana ainda é abundante, e cheia de aspectos nucleares
à civilização africana.
teorema nº2: “dado que toda tradição é condicionada pelo convencionalismo, a Tradição nuclear não se altera intrinsecamente porque independente da interferência extrínseca: somente os seus repetidores que aparentam vulneráveis a possível alteração sejam eles povo-autor (Kôngo nesse caso) ou povo-não-autor (não-Kôngo)”. Pois, visto que “a história interpreta-se, mesmo para o escriba (egípcio) que a transcrevia em primeira-mão”53, pode-se hipo- tecar que todo “acontecimento” é uma interpretação sempre contextual, por sinal incompleta no relatado e que seria necessário “re-construir” com a variedade de vertentes (variáveis). De todas formas a tradição nuclear estará sempre nas partes, mesmas as mais modificadas que sejam.
Embora o não-Kôngo tenha mais porosidades que lhe conduzem a travestir a tradição, é de salientar o seu trabalho relevante que se fez à respeito ao Kôngo, em termo de quantidade e de qualidade, e
que ultrapassa o que ainda foi feito pelos próprios Kôngo: a sociologia/história de Jean Van Wing ainda é uma referência embora concerne uma ínfima parte do povo Kôngo; a genealogia Nkutama mvila
de Jean Cuvelier é uma menção obrigatória para os especialistas da Oralitura; a monumental obra de Karl Laman vai de The Kongo até Dictionnaire Kikôngo-Français que ainda não foi rivalizada até
hoje em dia por algum Kôngo assim como as obras de Léon Derau (Cours de Kikôngo54/Léxique kikôngo-français – français-kikôngo55), Léçons de kikôngo56 (louvain), l. Declerq (Grammaire du
Kiyômbe57), Père A. Coene (Vocabulaire français-kikôngo-latin58); Georges Balandier, Wyatt MacGaffey, John thornton, Jan Vansina, Anne Hilton,… são os nossos contemporâneos… Citar-se-á os enormes
trabalhos publicados nas revistas da reputação internacional tais como Congo, Zaire, Kukiele,… além dos mais outros dispositivos bem conhecidos tais como The Journal of Negro History, African
Historical Studies, The Journal of African History, African Stu- dies Review,The Geographical Journal, Bulletin des Scéances de l’Institut
Royal Colonial Belge, Paideuma: Mitteilungen zur Kulturkunde Wiesbaden, Boletim da Sociedade de Geographia de Lisboa, etc.
Obs: Por tratar-se de uma obra literária histórica rica em notas explicativas e referenciais que acompanha o texto e por razões de comodidade, renunciamos reeditâ-las neste portal. No entanto, aconselhamos os nossos visitantes, a adquirir o livro completo, publicado em volumes, na:
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