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07 Jan

As Origens do Kôngo e Arqueologia

Publicado por Muana Damba  - Etiquetas:  #História do Reino do Kongo

 

Por Patrício Cipriano Mampuya Batsikama


 

Batsikama

 


 

É importante dizer que a arqueologia na zona kôngo ainda é muito pobre em termo de linhas de pesquisas, levanta- mentos e, sobretudo, existência de instrumentos jurídicos que reforça a ideia de “patrimônio material”. Em princípio, o pa- trimônio material que se encontra é da igreja católica romana,
no caso das ruínas da Catedral de São Salvador. E, o “patrimônio imaterial” existente relaciona-se com algumas árvores, alguns sítios e, principalmente, o local das ruínas latente no termo “Kûlumbîmbi” e, sobretudo, a cultura kôngo espalhada em África Centeal austral e, como consequência da escravatu-
ra, nos outros continentes.


Por essa razão, alguns especialistas defendem a ideia de restauro das ruínas de Kûlumbîmbi, uma vez que têm uma im- portância na memória local. A respeito disso, vamos tentar nos familiarizar primeiro com as teorias de John Ruskin e Eugène Violet Le Duc. Eugène Violet Le Duc foi um arquiteto apaixonado pela arte gótica. Para ele, o restauro de um edifício não consiste em “mantê-lo, reparando ou refazendo-o”, mas em “restabelecer num estado completo [que, ao finalizar,] poderá não ter existi-
do nunca há um dado tempo” .

 

kulu.jpg

 

Se for assim aplicado para as ruínas de Kûlumbîmbi, uma das consequências será: divórcio entre Tradição Oral e seu suporte material.10 Daí, surge a necessidade de buscar uma força jurídica perante o “restauro e preservação” dos monumentos históricos, mas tendo em conta todo substrato preser-
vador da memória local. E, no caso de Angola (território da capital do Kôngo), o suporte jurídico deverá prevenir a memória local. Aliás, as autoridades locais não poderão aceitar “profanar” Kûumbîmbi (imagem A direita)sem prévias consultas às outras autoridade sedeadas no Congo Brazzavil e Congo Kinsâsa.


Falando de John Ruskin, um crítico da arte inglês perspicaz, parece-nos interessante começar com uma pequena história do restauro. Na Roma antiga, o papel de Curatum Statuarum velava pelo realismo. Já na Idade Média, a restauração enfrentou dificuldades por causa da falta de matéria-prima, pobreza e ausência de instrumentos jurídicos ou especializados que levaram à destruição de monumentos. Foram trabalhos utilitários, dependendo de gostos dos “poderosos”. No Renascimento, o restauro obedeceu aos novos olhares estéticos e ao aperfeiçoamento técnico: transformou o que pretendia “preservar” (Violet Le Duc). Entre Iluminismo e Industrialização (XVIII e XIX), ideias claras sobre Conservação/Restauro vão germinar. É justamente no final dessa época que aparecem Violet Le Duc, de um lado, e John Ruskin, de outro. Este último valoriza os “critérios” do restauro avançados pelos arquitetos, mas sobretudo nos materiais que têm um valor histórico: prefere uma preservação preventiva e restauro in situ e enfatiza o papel do ambiente.

 

Este espírito romancista, que assola as actividades desse crítico, coloca-lhe na coesão histórica que a
Inglaterra ainda apresentava sobre as correntes quer religiosas, quer políticas, quer filosóficas.
Dessa experiência, Françoise Choay ilustra didaticamente a posição de Ruskin sobre o valor histórico do monumento, e reconduz esteticamente a importância de um monumento histórico (posição de Eugène Violet Le Duc) que, por razões ambientais, necessita de suportes jurídicos para prevalecer nos
Estados modernos atuais.


Ocorre-nos que as posições de Eugène Violet Le Duc e        John Ruskin obedecem à realidade dos seus “espaços” (França/Inglaterra), embora a preocupação seja a mesma: restauro/conservação. Em relação ao Kûlumbîmbi, o que poderia ser o seu restauro ou sua conservação? Verificamos, perante alguns
sobas locais, que essas “ruínas” são intocáveis e não podem permitir qualquer profanação.

 

Transportando as duas acepções, na realidade das ruínas de Kûlumbîmbi, importa salientar dois
aspectos: (i) o primeiro é buscar outros paradigmas para o caso específico de Kûlumbîmbi; (ii) segundo é velar pelas políticas e dispositivos da gestão cultural em relação à preservação das fontes e a sua diversificada natureza.


A título de exemplo, mencionamos o projeto “Desenterrar a cidade de São Salvador”, partindo da memória local, baseado nas escritas antigas que mencionam cerca de 12 escolas e 12 igrejas, pressupõe o seguinte: (a) existiriam partes da cidade antiga do reino do Kôngo, hoje ruínas, debaixo da
terra. Pelo que se sabe, e verificamos isso no Soyo, em Mbânz’a Kôngo e arredores, em alguns mazûmbu, aldeias abandonadas (antes da chegada dos Portugueses), deveriam estar enterrados
antigos chefes, esculturas em pedra ou em madeira, cerâmicas com sementes antigos13 etc. Essa realidade pode valer para o resto do território kôngo. As administrações coloniais, aliás, advertiram, em publicações oficiais e em pareceres, quanto às implementações das políticas coloniais, sobre as ruínas: algumas zonas foram interditadas de qualquer construção sem pré- via autorização. Agora, falar de “Desenterrar a antiga cidade de São Salvador” que supõe uma grande cidade enterrada, ainda
está longe de qualquer verificação; (b) a confusão presente na própria Tradição Oral, em relação às ruínas do Kûlumbîmbi e ao local onde estão erguidas, traçam horizontalmente duas urgências por verificar: (i) existência de várias tumbas dos antigos monarcas onde devem estar grandes riquezas; (ii) existência de múltiplos enterros da “cultura material” identificando diferentes épocas (ou dinastias) do antigo Kôngo. Perante essas questões levantadas, a necessidade de trabalhos arqueológicos, por um lado e, por outro, de restauro/preservação sobre Kûlûmbîmbi parece imprescindível. Para arqueologia, importa mapear concretamente os sítios, e, para restauro/preservação, é preciso optar por um modelo que não fere as sensibilidades locais, ao risco da Tradição Oral local desaparecer ou perder outros suportes colaterais.

 

 

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