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19 Dec

AFRA SOUND STAR: “Fizemos diplomacia com a música”

Publicado por Muana Damba  - Etiquetas:  #Entrevistas

 

Por Analtino Santos

 

“ Na altura, éramos considerados anglófonos, pois o nome era na língua dos “imperialistas”… Na altura éramos das poucas bandas que fazíamos música que fundia vários ritmos. Muitos pensavam que fossemos estrangeiros…”

 

Entrevista com POP SHOW

 

Afra-sound-star.jpga.jpg

Foto de N´Guxi dos Santos

 

Surgido no mercado na década de 70, os Afra Sound Stars aparecem depois da extinção do grupo Liberdade África, um conjunto criado em 1976 por Pop Show e integrado por jovens que na altura faziam parte das fileiras da Organização do Pioneiro Angolano (OPA). Residentes na Bélgica. O grupo partiu em 1988 para o Brasil de onde iniciou um périplo pelo mundo, para produzir e divulgar a música angolana. Tubarão, um dos elementos do grupo, fala da trajectória do agrupamento e dos projectos futuros.

 

Como está o AFRA SOUND STARS ?


Estamos firmes, constituímos famílias e fizemos projectos fora da Banda, sem no entanto estarmosdesligados. Afra Sound Star é uma família. O Pop no Açores, o Xerife na Inglaterra, mas o nosso grossoestá na Bélgica. O Gato foi o homem que avançou para a banda.

Continuam com a mesma forma dos anos 80?


Claro que sim. Apesar de termos estado a aparecer pouco em shows, mas continuamos a fazer o nosso bom trabalho e sempre disponíveis a animar grande eventos. Relativamente à década de 80, devo reconhecer que éramos muito populares, fazíamos muitos espectáculos nas escolas, digressões nas localidades, enfim e isto deu-nos algum reconhecimento. Lembro-me ainda que chegámos a actuar nos jogos da África Central que foi muito marcante para a nossa carreira. Em 1983, o grupo foi considerado a coqueluche da juventude angolana, pois neste período havia as chamadas caravanas musicais mas o Afra não era contemplado. Quando gravámos a música “Sisi Mama”, sucesso na altura, o embaixador cubano convidou-nos para nos deslocarmos a Cuba. Ainda cantámos na despedida do General Ochoa e mais uma vez os cubanos ficaram maravilhados.

Mas vocês chegaram a mudar de nome?


Sim, na verdade, inicialmente o nome era Liberdade de África, mudámos em 1979, para Afra Sound Stars. A denominação soava bem à juventude mas os kotas estavam preocupados porque não tocávamos apenas o nosso kilapanga, fazíamos incursões no rock, reggae, blues e outros ritmos. Na altura éramos das poucas bandas que fazíamos música que fundia vários ritmos. Muitos pensavam que fossemos estrangeiros.

Apesar da popularidade na altura, ainda assim, tiveram de cumprir o serviço militar que era obrigatório?


Pois é. Voluntariamente fomo-nos apresentar a 18 de Março de 1983. Pesou o facto de não sermos muito respeitados por alguns elementos ligados a sectores da cultura. E mais uma vez sentimos que havia tratamento desigual para com os músicos. Naquela altura, desportistas e artistas faziam a tropa em Luanda e os músicos eram incorporados na banda de música, ou criavam bandas nas unidades. Os Afra eram tidos por muitos como rebeldes (risos), mas orgulhamo-nos de ter feito parte deste processo todo, tendo cumprido uma missão em São Tomé e Príncipe para onde levámos também a nossa musicalidade.

E de facto eram mesmo rebeldes?


(risos) Sempre fomos muito conscientes, eu (Tubarão) já me questionava porque que uns eram man- dados em Cuba e outros para os demais países comunistas. O facto de cantarmos reggae incomodava muita gente. Nunca fomos “yesmen”. A forma como nos apresentávamos na altura era muito avançada, dai o rótulo de rebeldes e anarquistas…

O que o Bonga representa nesse vosso trajecto?


Muita coisa. Repare que conhecemos o Bonga em 80. Ele tocava connosco quando viesse para Angola porque achava que era uma maneira de nos puxar para o semba. As tantas digressões juntas despertaram o interesse de outros cantores de semba e solicitaram o nosso suporte musical

Como se dá o encontro com o Abel Dueré?


O Abel contactou-nos após ter lido o jornal. Achámos estranho quando aquele jovem “branco” com sotaque brasileiro surgiu dizendo que era angolano. As dúvidas foram sanadas quando fomos a casa dele e começou a cantar temas de Elias Dya Kimuezo e Filipe Mukenga. Ele manifestou intenção em fazer parte do projecto Afra Sound Stars e daí sai o álbum “Criolinha” de Afra Sound Star e Abel Duerê, editado pela BMG, que foi disco de ouro. Assinámos um acordo com a Warner Brothers, uma das grandes com- panhias da indústria discográfica mundial. Na altura, africanos que mexeram com o Brasil eram apenas os míticos Ossibisa. Uma outra banda africana que teve sucesso, foi o Obina Shock, mas estes eram filhos de diplomatas africanos.

Ouviam-se opiniões que vocês queriam mudar de identidade?


Nunca negámos as nossas origens, vivemos da nossa música. Fizemos diplomacia com a música. Lembramos de um período em que nos apresentávamos com um visual tipicamente africano.

E porque deixaram o Brasil?


Queríamos outros horizontes. Pesou o facto de Collor de Melo ser eleito Presidente do Brasil. Collorcancelou parte das verbas da lei do mecenato e prejudicou claramente os artistas que apoiaram Lula da Silva. Nós, Afra e muitos dos grandes artistas brasileiros na altura apoiámos o Lula. Europa foi a outra paragem. Abel Dueré ficou pelo Brasil mesmo porque tinha estru- turas e raízes por lá.

Mas ainda no Brasil, vocês passaram por situações difíceis?


Realmente. Recordo-me que no Brasil com visto de turista não se podia fazer o que mais gostamos. Tocar. Chegámos a passar por dificuldades ao ponto de termos apenas uma nota de 100 USD para sobreviver.

E conseguiram viver só com esse valor?


Claro que não. Num belo dia fomos dar uma volta pelo Rio de Janeiro e encontramos uma banda de Reggae a tocar num bar, cuja vocalista principal era uma ganense, Nabby Clifford. Pedimos para tocar no intervalo, com o argumento de que éramos angolanos de férias por aquele país. Graças a Deus conseguimos conquistar a plateia e o dono da casa. Dali em diante, passámos a ser a banda residente da casa.

 

“Angola e África sempre estiveram dentro de nós, com a música”

 

Depois de muito tempo de ausência, este é definitivamente o vosso regresso?


O nosso regresso definitivo faz parte de um processo. Olha que são muitos anos fora do país. A nossa estrutura familiar e não só esta fora de Angola. Temos vontade em contribuir para o desenvolvimento da Nação e voltar a fazer grandes performances. Angola e Africa sempre estiveram dentro de nós.

 

Para quando um grande show do grupo?


Fomos homenageados no dia 29 de Abril no Complexo Weza Paradis e em Julho pela produtora Casa Blanca numa Gala no cine Tropical. Posteriormente outros shows virão.

Projectos futuros


Continuar a fazer música. Agradecemos aos nossos fãs que apesar da ausência física no País mantém o carinho que sempre tiveram por nós.

 

 

Perfil

Afra sound starb

Constituído por Pop Show, guitarra e voz, Hagaha, teclado, Tubarão, bateria, Gato Bediseyel, percussão, Groove, igualmente percussão, e Sheriff, viola baixo,só começou, no entanto, a fazer furor no mercado a partir da década dos anos 80 com temas como “Kimbele”, “Mano António”, “Menina chora” e “Mulata”.


Com três cd´s no mercado, os Afra Sound Stars tiveram passagem pelo Brasil, São Tomé e Príncipe, Portugal e Bélgica, depois de terem deixado o país em 1987.

 

Via NJ

                                                                                                    

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