A reacção dos portugueses.
Por Sebastião Kupessa.
Em resposta ao movimento insurreicional do Noroeste angolano, o ditador Salazar decreta, pronunciando a famosa frase: "Para Angola, já e em força". Militares aguerridos são enviados para Angola, em princípio de Maio de 1961, para pôr o fim da Revolta dos Angolanos, que reclamavam de maneira violênta a independência. Na região da actual província do Uíge, é enviado, apartir do dia 13 de Maio do mesmo ano, o agrupamento ALFA que compunham os Batalhões dos caçadores 92 e 88. De Luanda, partem os militares para as regiões do conflito, atravêz do caminho de Dondo, Lucala, Camabatela e chegam no Negage, 4 dias depois, percorrendo uma distância de 500 Km.
Do Negage, os dois Batalhões dividem-se. O batalhão de caçadores 92 vai em direcção do Sanza Pombo para reconquistar o Kimbele, enquanto que o de 88 vai apaziguar o eixo Bungo-Makela do Zombo. Os "Caçadores " do Batalhão 88, chegam na Damba no dia 31 de Maio. No dia seguinte, sofrem o primeiro ataque! Ficaram surprendidos que apesar da sua presença imposante, os revoltosos não se deixaram intimidar, como dirá o Sr Alberto Trindade que foi militar do dito batalhão :"... os nossos homens que apartir de Luanda se mostravam confiantes, julgando que vinham brincar com os pretos e viram maravilhas!..." e deram contam que a guerra era uma realidade, e ao mesmo tempo admiravam a audácia, a coragem e a determinação dos combatentes dambianos. Como não tiveram tempo de se instalar, os soldados portugueses formaram improvisando, um rectángulo, com isso conseguiram horas depois se defender e repelir o ataque. Alberto Trindade adianta ainda com precisão que no total, o batalhão disponha de 900 militares e estimou que os atacantes podiam ser 1500 elementos .
Juntamos ao presente artigo, o vídeo que conta, realmente o que passou, com as imagens de adeias da Damba a arder, algumas cubatas haviam mesmo pessoas dentro, como dirá Mário Pádua, também militar português do referido Batalhão. O jornalista português que faz o comentário que acompanha as imagens confirma dizendo que " ...mesmo ordenando métodos e práticas (desumanas), embora tinham sidos usados, foram rejeitados pela consciência de muitos militares...". Otelo S. de Carvalho, declara memo que tinham ordens, de " quando na deslocação para o Norte da Angola, no encontro com terroristas, para matar e depois cortar as cabeças e espetar, para mostrar aos outros ( terroristas )...". Aqui todos "pretos" são considerados de terroristas. O outro português diz ter descoberto, na Damba um documento oficial que ordenava o extermínio dos pretos (está no vídeo). Os aviões vindos do Negage, pilotados pelos os homens como Soares de Moura, que sobrevoavam as aldeias, largavam bombas de Napalm em muitas aldeias que se suponham não haver terroristas, porque situavam-se distantes da vila da Damba. As cubatas da Damba, são feitas de pau a pique e de capim, materiais bastantes inflamáveis, imaginam o inferno vivido por africanos, na sua larga maioria inocentes. O que provocou a fuga de muitos deles para o Congo, em condições fora de comum.
Chegando no Congo, os refugiados angolanos em sofrimento extremo, compõem um hino de lamentação, que foi imortalizado pelo Bileku Mpasi. A canção dizia assim:
Oh Só (O português) Manueno umbanzanga
Eh Só Manueno Umabanzanga
Eh muani nki diambu ya vanga
Ya yendela (fua) muna Zanza (nzila) Kimpamgu.
Tala nde dikambu.
Tradução:
Ó seu Manuel (português)
Pensa em mim
O que eu fiz
para vir morrer
no caminho de Kimpangu (no Congo Belga)
Olha como estou a sofrer !
Recordar o passado não significa promover o ódio de quem que seja, como dirá um português "nós matamos os pretos porque senão eles nos matam." Era a guerra. O presente vídeo foi produzido pela RTP, numa realização do Joaquim Furtado, com as imagens e testemunhas dos portugeses e dos angolanos que participaram na batalha.