A quarta província do Reino do Kongo: KÔNGO-DYA-KATI
Por Patrício Cipriano Mampuya Batsikama
Essa parte constitui o espaço que Pigafetta descreve como o reino do Kôngo, baseando nas informações de Duarte lopez. Eis a seguir sua estrutura administrativa:
Primeiro Município: MBÂMBA
Pigafetta informa que na sua época este município constituia-se das circunscrições administrativas de Lêmba, Dande, Bêngo, Luwânda, Corimba (Kwîmba), Kwânza, Kasanzi no litoral e Chinghengo,
Motollo, Cabonda, Ambundu, no interior de Angola. Observe-se que Pigafetta não seguiu uma ordem tripartida,
provavelmente porque a desconhecesse. Mesmo assim, se Lêmba, Corimba (Kwîmba), Kasânzi (Nsânga), Chinghengo (Kinkênge ou Kinkânga), Motollo (Musulu) e Cabonda (Kambanda ou Kabunda) podem ser
tomados por administrações comunais, Dande, bêngo, luwânda198 e Nkwânza parecem não passar aí de simples localidades.
Seria também por ignorância, ou deficiência das informações na época à seu dispor, que Pigafetta incorpora no Mbâmba central os bairros de Musulu e dos Ambundu que seriam, pela sua posição
geográfica e segundo a literatura histórica existente, partes integrantes de Nsûndi de Kôngo dya-Mpângala. É possível que tivesse existido um Musulu nessa Mbâmba do Mbâmba central, já
que estaria localizado ao Norte, isto é, no Nsûndi (deste Mbâmba).
Se assim for, esse local seria aquele que assinala o Padre Lorenzo da Lucca quando escreve: “Tinha chegado a Musulu que é capital do marquisado”, dependente do Duque de Mbâmba. Alguns anos antes
António de Oliveira de Cadornega, em 1681, assinalava a existência de “marquez de Musulo” na jurisdição de “duque de Bamba”.200 Essas amostras adequam-se. Contudo, eis os bairros que
compunham o Mbâmba central:
a) No Mbâmba, ou na primeira zona, situava-se, a Oeste, o Kinkênge ou bukânga e o Mpângala ou Kikyângala, sob cuja jurisdição se encontrava luwânda; a leste, o Wându cuja capital era
São-Miguel202 e o Kambânda ou Mazînga.
b) No Mpêmba, ou na segunda zona, situava-se, a Oeste, o Ndêmbo (lêmbo) e o Kwîmba; a leste o Nsânga (Kasânzi) e o Mbwîla.
É do Mani deste Mbwîla e aquele de Wându, da zona de Mbâmba, de que os Portugueses se utilizaram para fazer guerra ao rei M’vêmb’a Nzînga VI (Vit’a Ñkânga ou Dom Antonio Iº), em 1665.
Deles António Cadornega escreve: “Os mais Dembos têm seu capellão e capitão com seus officiaes de milícia e escrivão para os mocanos e sem embargo que fizerão as armas do Princípe nosso Senhor
guerra e conquista ao Dembo Ambuila, Namboa Amgongo, Motemo Aquingonga, e a quitexi Candambi são senhores de tão dilatadas terras…”.
Com esta descrição supõe-se que de Ndêmbo/lêmbo até Mbwîla estaríamos perante um mesmo bloco, o Dembo Ambwîla. Isto é, ambos bairros são vizinhos, e parece que todos eles dependiam
directamente do Mbânza.
c) No Nsûndi, ou terceira zona, situava-se, a Oeste, o Vûngu (Mahûngu) e o Mbêmbe, os dois mencionados no mapa de Albuquerque; a leste, o Ndâmba e o Nsônso, chamado Wêmbo. É nesta zona que
deveria se encontrar Musulu, que referimos atrás.
“Dambi’a Ngônga” seria Ndâmbu’a Ngôngo (Nambu’a Ngôngo) que, com base nos escritos de Cadornega e na exploração da província angolana de bengo, a primeira localidade meridional de
Nsûndi.
Extratos do livro: A ORIGEM MERIDIONAL DO rEINO DO kONGO.