A produção de café, as verbas têm sido insuficientes. (3)
Por Esteves Martins
“Angola pode produzir 50 mil toneladas de café comercial nos próximos cinco anos”
Entrevista com João Ferreira
O director do Instituto Nacional do Café (INCA) defende a aplicação de sérios investimentos no sector paraalavancar a produção de café a nível do País, que já foi o terceiro maior produtor mundial do “bago vermelho”.
Qual é a situação actual da produção de café em Angola?
A produção de café em Angola é caracterizada por um ambiente de recuperação das plantações e
de toda a cadeia produtiva, que necessita de sérios investimentos, depois de longos anos de
abandono durante o conflito armado que assolou o País. Por ser o café uma cultura perene, exigente quanto à mobilização de activos, como maquinaria e equipamentos de beneficiamento e com início
da fase produtiva ape- nas de três a quatro anos após o plantio, o processo de recuperação produtiva é muitas vezes longo.
Quais são as regiões produtoras de café no país?
O café é actualmente produzido em 10 das 18 províncias do País, nomeadamente Cabinda, Bengo,
Kwanzas Sul e Norte, Uíge, Benguela, Huambo, Bié, Malanje e Huíla. A estrutura produtiva compreende cerca de 50 mil produtores inscritos em todo o território nacional. Deste universo, 98%
representam as explorações agrícolas familiares. Temos igualmente as explorações agrícolas empresariais nas províncias do Bengo, Kwanza Sul e Uíge, num total de 9440 cafeicultores registados.
“No Kwanza Sul, registam-se índices elevados de comercialização colectiva de café e assinaturas de
contratos de venda, o que garante um aumento no preço do produto”
Quais são os investimentos que foram feitos no sector nos últimos anos com vista ao in-
cremento da produção?
Uma das acções mais importantes que desenvolvemos foi renovar o parque cafeeiro do País, acção que prossegue em todas as regiões produtoras. Nos últimosdois anos, por exemplo, o INCA produziu
perto de 25 milhões de mudas (plantas) de café e plantas sombreadoras, que foram entregues gratuitamente aos produtores. Este facto fez com que a nossa produção aumentasse gradualmente nesses
últimos anos, com o pico da produção registado em 2011, com 13 210 toneladas.Faceàestiagemregistadaem
2012, tivemos uma relativa baixa na produção, onde registámos 11 950 toneladas de café comer-
cial. Para este ano esperamos colher 12 000 toneladas de café.
Uma das grandes dificuldades dos cafeicultores tem que ver com a comercialização do produto. Face ao crescimento que se tem verificado na produção, quais são os passos que até aqui foram dados para o escoamento do café?
O INCA tem vindo a implementar programas de comercialização através da compra directa do café por agentes comerciais privados e por intermédio da realização de mercados rurais em colaboração com as autoridades locais. Notamos que a implementação destes programas contribuiu significativamente para o escoamento do café, aumentando assim o interesse na produção e no agronegócio do produto.
Que exemplo concreto pode citar?
A província do Kwanza Sul, que é a maior produtora de café do País, é pioneira desses programas. Como resultado desses sistemas de comercialização introduzidos com a criação de cooperativas e
associações de cafeicultores, registam-se actualmente índices elevados de venda colectiva de café, assinaturas de contratos de venda futura de café, o que garante um aumento no preço praticado em
benefício dos
próprios cafeicultores. Contudo, em todas as províncias produtoras de café verifica-se quantidades residuais de café não comercializado, como resultado da tradição do cafeicultor que tem no café
a sua cultura de poupança, vendável consoante as suas necessidades.
Quais são os investimentos que o INCA prevê realizar nos próximo anos?
O plano do INCA a médio prazo contempla programas que aglutinam o relançamento da produção cafeícola em Angola, através do aumento das áreas de cultivo, com a produção de mudas de café, da
melhoria da produtividade e qualidade, bem como da participação de mais produtores, sejam eles pequenos, médios ou grandes. O INCA prevê ainda fomentar a industrialização e ex- portação de café
com a instalação de indústrias de torra e de moagem. Prevemos ainda implantar nas regiões produtoras
unidades de descasques e de fábricas de lavagem de café.
“O INCA prevê fomentar a industrialização e exportação de café com a instalação de indústrias de torra e de moagem, assim como implantar unidadesde
descasques e de fábricas de lavagem”
Qual é a produção que se pretende alcançar a médio prazo com a materialização desses projectos?
Os estudos realizados recentemente pelo INCA indicam que a médio prazo (5 anos) com investimentos direccionados para a cafeicultura, Angola poderá produzir 50 000 toneladas de café comercial. O potencial é enorme, pois 50% das fazendas nacionais de médio e grande porte licenciadas e adjudicadas para a produ- ção do bago vermelho estão inoperantes. Por outro lado, cerca de 400 hectares de terras localizadas e comprovadas como potencialmente aptas estão disponíveis para a produção de café.
Quais são as características do café produzido em Angola?
A principal característica do nosso café é a sua diversidade. Devido a diferenciação dos solos, con-
dições climatéricas, espécies e variedades cultivadas, a cafeicultura angolana produz os mais variados tipos de grãos e qualidade de bebida, onde se destaca o café Amboim, produzido na província
do Kwanza Sul, Cazengo, em Malanje e Ambriz, na província do Uíge. Por outro lado, as duas
espécies economicamente im- portantes são também produzidas no País. Com maior implantação e tradição no cultivo, o café robusta é cultivado em 5 das 9 províncias nacionais que produzem café.
Devo referir que o cultivo do café robusta é responsável por cerca de 95% da produção nacional.
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