A produção de café, as verbas têm sido insuficientes.
Por Esteves Martins
Sector cafeícola do País à espera de investimentos para alavancar a produção. No presente ano, o INCA prevê aplicar 5 000 000 USD para os diferentes programas
de relançamento da produção cafeícola em curso no País. No entanto, os valores são considerados irrisórios face às inúmeras dificuldades do sector.
A produção de café em Angola tem registado crescimento desde o fim do conflito armado em 2002, altura em que o Executivo começou a traçar algumas políticas para o seu desenvolvimento.
O Instituto Nacional do Café (INCA), órgão do Ministério da Agricultura e do Desenvolvimento Rural, é o responsável pela execução prática das políticas do Governo. Angola já foi o terceiro maior
produtor mundial de café nos anos anteriores à independência, tendo em 1973 exportado 200 000 toneladas do produto. Porém, nos dias de hoje, a suaprodução não passa das 13 000 toneladas/ano (ver
infografia), estando na cauda dos maiores produtores mundiais, liderados por Brasil e Vietname.
O INCA tem levado a cabo programas de relançamento da produção e desenvolvimento a nível das 10 províncias produtoras de café no País, nomeadamente Cabinda, Bengo, Kwanzas Sul e Norte, Uíge,
Benguela, Huambo, Bié, Malanje e Huíla, tanto a nível da produção e assistência técnica, como da co-
mercialização e da industrialização.
O plano do INCA contempla ainda a melhoria da produtividade e qualidade do produto, bem como a participação de mais produtores, tanto pequenos, médios e grandes.
Nos últimos dois anos, por exemplo, o INCA produziu cerca de 25 milhões de mudas (plantas) de café e plantas sombreadoras, que foram entregues gratuitamente aos produtores.
Brigadas técnicas
As brigadas técnicas, estruturas executivas que têm por objectivo apoiar os produtores, funda mentalmente os camponeses isolados ou associados, em termos de assistência técnica, são também
responsáveis por este incremento da produção de café nesses últimos anos.
Na província do Bengo, por exemplo, estão localizadas nos municípios de Quibaxi e Nanguangongo. No Kwanza Norte se encontram nas localidades de Golungo Alto, Samba Caju, Ambaca, Cazengo e
Quiculungo. No Kwanza Norte, as brigadas estão localizadas nos municípios do Libolo, Amboim, Conda, Seles e Cassonge.
No que toca ao Uíge, elas estão situadas no Negage, Songo Kitexe e Mucaba. Em Cabinda localizam-se no Buco Zau, em Benguela, na Ganda, Bié, município do Andulo e na província do Huambo. O País é
produtor do café ará- bica e robusta Amboim, Cazen- go e Cabinda. De acordo com o director do INCA, João Ferreira, a reputação internacional de Angola como produtor tradicional de café não traz
vantagens
económicas significativas, uma vez que o café é negociado internacionalmente ao modo de matéria-prima ou commodity.
Unidades fabris
A fonte notou ainda que o café nacional, antes de ser vendido ao consumidor estrangeiro, passa a
ganhar o seu diferencial como produto final ou marca, através de processamento empreendido
dentro dos próprios países im- portadores.
Com efeito, João Ferreira é de opinião que urge apostar numa indústria interna de café que permita ao País não só produzir como exportar café de alta qualidade, moído e processado por
torrefadores nacionais.
O plano nacional do INCA contempla também investimen- tos nesta cadeia, que poderão no futuro facilitar a criação de gru- pos industriais privados de café, a exemplo do que acontece em diferentes
partes do mundo. Assim sendo, segundo João Ferreira, a província do Kwanza--Sul, que lidera a produção nacional de café – em 2012 produziu cerca de 2400 toneladas de café comercial – será
beneficiada nos próximos anos com seis fábricas de torra e moagem.
O segundo maior produtor nacional, a província do Uíge, que em 2012 produziu igualmente 2400 toneladas de café comercial, terá cinco unidades industriais.
Nos últimosdois anos, o INCA produziu cerca de 25 milhões de mudas de café e plantas sombreadoras, que foram entregues aos produtores
Para esta campanha agrícola, a província espera colher cerca de 6000 toneladas de café mabuba
(3000 toneladas de café comercial), de acordo com o chefe do departamento do INCA na província, Vasco Gonçalves. O Bengo e o Kwanza-Norte terão quatro fábricas cada. Nas províncias da Huíla e
Benguela, está prevista a construção de duas unidades fabris em cada região. As províncias de Cabinda,
Huambo e Bié terão uma fábrica cada uma. Apesar de não ser produtora de café, a capital do País,
Luanda, será contemplada com oito indústrias de torra e moagem.
Em relação aos destaques, João Ferreira acentuou que o País necessita de 110 descasques nas regiões produtoras de café. A província do Kwanza-Sul precisa de 29, Uíge (25), Kwanza-Norte (15) e
Bengo (15). Cabinda tem necessidade de 9 descasques; Huíla, 5; Benguela, 6, e Huambo e Bié, 3 cada uma delas.
Nesta altura está em preparação a campanha de colheita para o corrente ano, que terá início em finais deste mês de Maio, e a província do Uíge regista sérios problemas. Dos oito descasques
existentes na região, a maioria está avariada, sendo que apenas as máquinas dos municípios do Uíge, Mucaba e Sanza Pombo estão operacionais. As restantes re- giões produtoras do País estão com os
mesmos problemas, daí a urgência desses meios no País.
Valor para investimento
No presente ano, o INCA prevê aplicar 5 000 000 USD para os diferentes programas de relançamento da produção cafeícola em curso no País. Com este valor, considerado irrisório pelo seu director
João Ferreira, o sector prevê prestar maior atenção às escolas de campo, que são locais onde os cafeicultores têm contacto com as novas técnicas de cultivo.
Na província do Kwanza Sul, por exemplo, cujo processo de dinamização começou em 2011, existe um total 54 escolas do género, envolvendo 1245 camponeses. O facto, na opinião do responsável máximo
do INCA, é um dos factores do aumento da produção na província, que tem o município do Amboim como maior produtor, que colheu cerca de 1500 toneladas de café comercial em 2012.
Ainda para este ano, o INCA prevê investir na revitalização dos circuitos de comercialização e nos mercados rurais, apoiando mais de 90 comerciantes, com vista a promover a venda do produto nas
províncias do Bengo, Cabinda, Kwanzas Norte e Sul, Uíge, Huíla, Bié e Huambo.
De acordo com João Ferreira, o sector antevê investir 1 000 000 USD no Programa de Investigação Agrária e de Desenvolvimento Tecnológico. Entre osprojectos de investigação da instituição consta a
renovação do café arábica na região planáltica do País e aplicar técnicas agronómicas integradas no melhoramento da produção do café.
O montante será igualmente aplicado em novas tecnologias de reprodução do cafeeiro, com a introdução de reprodução vegetativa dos cafeeiros em Angola. Na opinião de João Ferreira, o projecto será
coordenado pelas três estações experimentais do café existentes em Angola, nomeadamente a do Uíge, do Amboim, no Kwanza Sul e da Ganda, na província de Benguela, que se dedicam à investigação do
café e experimentação por bioma do produto.
Para além do estudo científico, as estações experimentais têm por missão validar as tecnologias e conhecimento importa- do e recomendar a transferência de tecnologia para o País.
O sector antevê investir 1 000 000 USD no Programa de Investigação Agrária e de Desenvolvimento
Tecnológico. A renovação do café arábica no planalto central é umadas prioridades
Café como diversificação da economia
Para o engenheiro agrónomo Fernando Pacheco, para se chegar às 180 000 toneladas de café que Angola vinha produzindo na era colonial, o Governo deve, em primeiro lugar, olhar para o café
como uma possibilidade concreta de diversificação da economia.
“O Executivo tem de colocar o café no centro das suas atenções e aprovar um programa ambicioso que contemple a organização dos pequenos produtores. Deve ainda facilitar o acesso ao crédito, em
condições especiais no que diz respeito aos juros e períodos de graça, tendo em conta as características da cultura”, afirmou.
No seu entender, o Governo deve garantir a assistência técnica para permitir o aumento da produtividade, o que exigiria uma ruptura total com o que se tem feito nas últimas décadas em
Angola.
Segundo disse, as entidades do País devem apostar na melhoria das técnicas pós-colheita a fim de evitar perdas e garantir uma boa qualidade do produto. Na sua análise, urge aplicar uma política
de preços justa e audaz no sentido de motivar os produtores.
Em relação aos poucos investimentos do sector empresarial privado na produção de café, Fernando Pacheco notou que o facto se deve à falta de uma política adequada por parte do Executivo, que tem
apostado em outras actividades, entretanto sem sucesso.
A ausência de políticas adequadas para o sector faz com que o empresariado deixe de investir numa actividade que geraria re- sultados depois de cinco ou seis anos, pois as plantações preci-
sam de reabilitação e renovação, segundo disse.
Expansão
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