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07 Oct

A introdução do Cristianismo no reino do Kôngo

Publicado por Muana Damba  - Etiquetas:  #História do Reino do Kongo

 

 

Por Patrício Cipriano Mampuya Batsikama


 

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A bula papal Romanus Pontifex, de 8 de Janeiro de 1454, dividia o mundo pagão em dois. Complementarmente outra bula, a Inter Caetera, de 4 de Maio de 1493, assinada pelo Papa Alexandre
VI, fez o mesmo já depois das primeiras evangelizações portuguesas no Kôngo. Nestes dois decretos papais a Espanha e Portugal foram responsabilizados pela cristianização e catolicização do mundo pagão, dum pólo a outro passando pelas ilhas de Açores e do Cabo Verde. Enquanto a parte direita cabia a Portugal evangelizar, a da esquerda ficava sob responsabilidade da Espanha.

Como mostrou a história, essas bulas foram importantes e sua influência atravessou séculos ao ponto de exercerem alguma influência durante os debates da famosa Conferência de berlim.

Espanha e Portugal teriam se tornado nessa época renascentista países radicalmente católicos e muito zelosos quanto a execução desse projecto. um dos pontos focais das bulas era a descoberta de outro caminho que devesse levar ao país de Preste João, um rei cristão, localizado nas vizinhanças da região de baixo-Nilo, com vistas a ajudar na rivalização da propagação da cultura e religião dos Árabes na África.

Foi assim que o Infante Dom Henrique, o Navegador, em Portugal, irá pessoalmente empenhar-se nas expedições para a África ocidental (mas também orientais). Durante a sua vida pública activa, as frotas portuguesas chegaram a Costa do Marfim, Ghana, Serra Leoa, Guiné, El Mina, etc. Ao longo do seu mandato, os navios portugueses atingiriam as costas do actual gabão, embora com várias perdas materiais e humanas em naufrágios, resultado das incertezas nas descrições geográficas da época. Num desses naufrágios Diogo Cão se destacaria ao ponto de desempenhar, em circunstâncias pouco favoráveis e por força da necessidade, as funções de Capitão.

Durante o reinado do rei João II, Diogo Cão seria então feito capitão. logo na sua primeira missão, em 1482, descobre o rio Mwânza, que no primeiro instante lhe terá parecido como a ponta da África. Depois deu-se conta que seria provavelmente o “rio poderoso” do qual falavam os antigos cosmógrafos. Nessa viagem, o novo capitão captura alguns cidadãos que habitavam essas região e, com alguma precipitação, retomara o rumo de regresso, aparentemente por duas razões:

1) A descoberta do rio Zaire (nzâdi’a Mwânza = rio Mwânza) era importante visto que era conhecido pelos cosmógrafos. O mito o fazia nascer na mesma região que o rio Nilo. A foz do rio Mwânza, tal como pareceu a Diogo Cão, só podia ser aquele contado pelos antigos geógrafos, já que desconhecia o curso total desse rio poderoso, o que levou a que fosse explorado só muito mais tarde, no século XIX. Naquela época pensava-se que o rio conduzia até ao reino de Preste João.

2) O facto de levar alguns Kôngo para Portugal era importante para que: (a) fossem cristianizados (aportuguesados) e, ao eventual regresso, servissem de intérpretes e testemunhos da boa vontade
que Portugal manifestava para celebrar amizades com o reino do Kôngo; (b) fossem estudados e educados em língua portuguesa, para que fossem capazes de, por um lado, fornecer informações
sobre o seu país (sistema político, económico…) e suas populações (sistema social, sua cultura, sua religião sobretudo), e por outro, fossem capazes de colaborar nos esforços de penetração e explo-
ração portuguesa no velho Kôngo.

Por causa desses dois propósitos, Diogo Cão será feito Cavalheiro da Casa de João II no dia 8 de Abril de 1484, com um novo título: Capitão-Mor. É assim que em 1485, este inteligente capitão-mor voltará ao Kôngo acompanhado de três Padres, desta vez com uma missão bem planificada. Esses padres, nomeadamente João da Conceição, João da Costa e António Pedro, acompanhados pelos cidadãos kôngo já cristianizados que conheciam bem as regiões (ainda desconhecidas aos exploradores), serviriam de importantes intermediadores dos contactos entre Portugueses e Kôngos. Parte da missão consistia em contactar o chefe máximo da região, nesse caso Mani Nsôyo, que era o consagrador de Nzîng’a Nkuwu, naquela época rei do Kôngo. Durante a curta expedião Diogo Cão se lançaria em seguida em expedições exploratórias que o levariam a descoberta de outras terras meridionais em relação ao rio Mwânza, onde irá erigir os seus famosos “Padrões”.

 

Ao voltar a Mpînda, notou que os Padres ainda não tinham voltado às praias de Mpînda, mas deparou-se com grande ansiedade das populações ao entrar para o seu navio, por causa do pacto das
amizades. Mas preferiu mesmo regressar para Portugal afastando-se pouco a pouco da costa de Mpînda. De acordo com alguns autores isso terá criado um clima desconfortável nas relações entre ele e as populações: por um lado, porque alguns Kôngo dentro do navio se lançavam ao mar para morrer, e pelo outro, porque os familiares destes punham-se a prantear perante o navio, à moda kongolesa,
pelos seus familiares capturados.

 

Contudo, cerca de quatro Kôngo teriam chegado vivos em lisboa. Em 1487, Diogo Cão voltaria novamente ao litoral do reino do Kôngo, e desta vez vai ter a Mbânza-Kôngo para encontrar com os Em 1487, Diogo Cão voltaria novamente ao litoral do reino do Kôngo, e desta vez vai ter a Mbânza-Kôngo para encontrar com os padres missionários que lá já trabalhavam e gozavam de boa saúde e
hospitalidade encantadora. Ao monarca kôngo, o rei Nzîng’a Ñkûwu, Diogo Cão levara presentes enviados pelo rei João II de Portugal, e presumivelmente por alguns Kôngos que se encontravam em
Portugal, e um requerimento de amizade etre os dois reinos.

Em 1491, ano da cristianização do Kôngo, ditames das mencionadas bulas papais (Romanus Pontifex e Inter Caetera) passariam a ser decididamente aplicadas no reino do Kongo. Por esta época já se
podia notar também, graças as actividades civilizadoras dos missionários, que muitos cidadãos kôngo esforçavam-se para comunicar em língua portuguesa. Este esforço civilizador culminaria com a criação de uma plataforma operacional voltada para a criação das instituições religiosas católicas no Kôngo. Em Abril desse ano Mani Nsoyo foi baptizado e recebeu o nome cristão de Dom Manuel. um mês depois o rei do Kôngo recebia o nome do seu padrinho português, Dom João I4 uma cerimônia de baptismo para o qual foram convidados todas as individualidades que os portugueses consideravam nobres. Nesta
tentativa de civilizar pela cristianização os monarcas Kôngo, foram devidamente observados os costumes tradicionais do reino ao baptizar primeiro o monarca de Nsôyo, Nsaku Ne Vûnda, que era
o consagrador do rei Nzîng’a Ñkûwu, representante herdeiro de Ne Ñkaka dya Ne Kôngo (o mais velho do reino). O rei, sendo apenas um ungido dos mais-velhos, será a segunda personagem na escala
hierárquica a ser baptizada no reino do Kôngo.

O baptismo do rei em Maio 1491 incluiu o batismo de todo o seu executivo sedeado em Mbânza Kôngo, além da esposa do Mani Kôngo, Dona Eleonora, em Junho daquele mesmo ano, em consideração da sua madrinha rainha de Portugal, e o seu filho Mvêmb’a Ñzînga, que receberá o prenome de Dom Afonso em homenagem ao príncipe português do mesmo nome. Desse periodo em diante todos os nobres baptizados recebiam o título de Dom, em prejuizo mesmo dos seus nomes nacionais que passavam a ser ocultados da sua identidade social: Dom Mateus, Dom António, Dom Pedro, Dona Maria, Dona Joana, etc., que no linguajar dos autóctones se transformaria em Ndo Matezo, Ndo Ntoni, Ndo Mpetelo, Ndona
Madiya, Ndona Nzwana, etc. Cantar-se-á por isto que “Kôngo dyawônso dibotekelo”, isto é, “todo o reino do Kongo é baptizado”, quando na verdade apenas uma pequena parte da nobreza e da
classe executiva recebera o batismo cristão.

Do ponto de vista da cultura espiritual, o baptismo cristão pode aqui ser intrinsecamente compreendido de duas maneiras: como renascimento do Kôngo com o envio dos bansîmbi (espíritos do mar) por Nzâmbi (Deus), os chamados ngâng’a Nzâmbi, e a reestruturação social do reino com o surgimento ds novos ntemoni (iluminados).

Talvez por isso as pessoas no Kôngo passariam a buscar o baptismo cristão e a ter crescente apreço por nomes aportuguesados que se traduziram na multiplicação de nomes como Ndo Mingyêdi (Dom Miguel), Ndo Luvwâlu (Dom Álvaro), Ndona Ngalasa (Dona Graça ou Engraça), Ndona Nteleza (Doma Teresa), apenas para citar estes.

 

 

Extrato do Livro: A origem meridional do Reino do Kongo.

 

 


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