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30 Nov

A DANÇA.

Publicado por Nkemo Sabay  - Etiquetas:  #Cultura

“Herança Africana em Portugal” de Isabel de Castro


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A Música está naturalmente associada à dança: desde o século XVI, os africanos são também reconhecidos pela sua flexibilidade corporal e pela capacidade de dançar. Na Lisboa quinhentista encontramos “no Beco da Cortesia, Francisco de Sousa, homem preto que ensina a dançar”. Mas estas danças “espontâneas”, marcadas pelos ritmos e pelas regras da movimentação do corpo,começam cedo a ser proibidas, mantendo-se contudo por ocasiões dos mais variados festejos e dos muitos peditórios organizados em grande parte pelas confrarias, e que se verificavam, sobretudo nos centros urbanos, a fim de obterem meios para concretizar os projectos e obrigações destas
instituições religiosas.

As críticas e censuras mais ferozes em relação às danças africanas vêm de autores estrangeiros,que aproveitam para desvalorizar os portugueses que aderem a estas práticas, e da Igreja, que não pode deixar de condenar todos os movimentos que põem em contacto os corpos masculino e feminino.

Em 1723, um viajante suíço, citado por Lahon, nota que “se bem que os portugueses se divirtam muito a ver dançar os pretos com as pretas, um estrangeiro deve evitar semelhantes festas. Passam ali (…) cenas contrárias aos bons costumes e podem ir até à relaxação”.

Um autor inglês, no último quartel no século XVIII, assiste a uma dança africana, integrada num espectáculo teatral,” que está em uso entre os pretos e as pretas de Lisboa” e que classifica de “indecente”, criticando implicitamente o gosto dos portugueses, pois essa “parte final do espectáculo arrancou grandes aplausos”.

Refira-se também uma dança muito censurada – a fofa – que teria chegado a Portugal por volta da primeira metade do século XVIII, que Tinhorão afirma ter origem nos africanos provenientes da Bahia, baseando-se, em particular, num folheto da época intitulado “Relação da fofa que veio agora da Bahia”. Na segunda metade desse século, a dança estaria tão integrada em Portugal que um autor francês, o general Dumouriez, a descreve como “ a dança nacional (…) dançada a dois, tal como fandango, ao som de uma viola (…) (sendo) os movimentos extremamente indecentes, pois
imitam de facto um orgasmo.

Finalmente, convém referir a organização do banzé, forma de dança e de movimento pelos africanos, mas aceite e integrada nas festas populares pelos lisboetas, sem deixar de sublinhar que o banzé, tão popular na Lisboa da segunda metade daquele século, provém da língua quimbundo - a língua autóctone de Luanda e de uma vasta região do território angolano. Esta “africanização”, que já vinha do passado, adquire raízes novas nas relações entre os dois continentes – Europa e África-, que implicam a circulação dos objectos, das ideias, que torna cada vez mais frequentes.

 

                                                                                          In Revista Associação dos Amigos do Uige.

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