Augusto Kiala Bengui nasceu há 74 anos, na comuna «31 de Janeiro», município da Damba, província do Uíge. Tem apenas a 4.ª classe, mas garante que aproveitou as suas entrecortadas mas longas estadas na cadeia para obter conhecimentos que podem equivaler ao «quinto ano do liceu». Teve apenas o azar de não conseguir realizar então os exames que lhe poderiam conferir este «título». Seja como for, ele é um ancião que parece entendido em vários domínios, com uma oratória assinalável, que foi aliás capaz de nos causar muito boa impressão, o suficiente para termos dado o tempo que passamos com ele como bem proveitoso.
Tocoísta confesso, Augusto Kiala Bengui diz que o «movimento prfético» criado por Simão Toco teve um importante papel na mobilização do povo angolano, sobretudo na sua principal zona de influência (norte da então colónia) para a luta de libertação. «Ele era religioso e político», diz o «mais-velho», quando interrogado sobre a eventual influência do tocoísmo nos acontecimentos do «4 de Fevereiro», altura em que o seu fundador já se encontrava encarcerado.
É nesse ambiente de religião e política que Augusto Kiala Bengui cresceu, pois morou nos antigos «Blocos de Simão Toco» durante quase toda a sua juventude.
«Se por altura do ‘4 de Fevereiro’ tinha pouco mais de vinte anos, como é que conseguiu ser elevado à categoria de ‘comandante’ no meio de tantos ‘mais-velhos?’», interrogámos-lhe.
«Eu já tinha a quarta classe (e a quarta classe daquele tempo não era de brincadeira), sabia ler e escrever bem, além de que era um jovem viajado (ia muito ao Congo Belga), pelo que não foi difícil impor-me», argumenta. Antes de insistir: «Continuam a me esconder, mas eu fui mesmo o comandante e o maestro do ‘4 de Fevereiro’».
Augusto Kiala Bengui é pai de 15 filhos com várias companheiras.
Fonte: facebook/Salas Neto