Por Miguel Kiame
Resolvi, hoje, falar de Kazumbi, uma aldeia do Município da Damba. Contudo, o móbil dessa decisão não reside só da beleza natural daquela aldeia, situada num dos picos mais altos da geografia do território da nossa região e, por este motivo, muito bafejada por correntes de ar frio provenientes das cordilheiras da Lemboa. Daí que Kazumbi seja um local de muito frio e denso nevoeiro. A região de Kazumbi e arredores foi, em épocas de um passado não muito distante, o grande entreposto produtor e comercial do maravilhoso líquido que os portugueses convencionaram designar de vinho de palma e que nós chamamos de malavo. Kazumbi reunia as mais famosas "castas" de produção de malavo que era comercializado nas sedes da Damba e 31 de Janeiro. É também nas matas de Kazumbi que se localizavam as florescentes lavras de café robusta e outros produtos agrícolas.
Mas o que me leva a falar de Kazumbi são essencialmente as suas gentes. Dessa laboriosa aldeia brotou uma geração de intelectuais de se lhes tirar o chapéu. Sem desprimor ao vasto leque de intelectuais cujas origens se sedimentam pelos quatro cantos da Damba, isto é, da Lemboa ao Nkama Ntambo e do Mpete Kuso ao 31 de Janeiro, ressalto os de Kazumbi pelo inaudito nivel de estoicismo evidenciado ao longo do processo da sua formação de base. Todos eles galgaram aproximadamente 30 km / dia, a pé, com chuva, com sol ardente, com frio das manhãs de cacimbo e outras intempéries que a mãe natureza oferece. Nada disso obstaculizou a que estivessem na Missão Católica da Damba diária e pontualmente às 08h00 para o início das aulas. Por voltas das 13h30 retomavam a caminhada épica, uns e pelas 17h30 outros. Portanto, o percurso de aprendizagem dessa destemida gente foi todo ele construído numa atmosfera agreste, completamente envolto em obstáculos. Todavia, reparem:
Na primeira fornada de formandos da Missão Católica o ícone foi o indiscutivel D.Afonso Nteka, primeiro prelado de Mbanza Kongo, do qual não me atrevo a descrever, em tão poucas linhas, a finura e a agudeza do seu talento. Ele foi filho de Kazumbi e, simplesmente, o astro maior do Município. Esta avaliação é da minha e exclusiva responsabilidade.
Na geração imediatamente a seguir despontou outro génio, menino de quadro de honra. Foi professor, posteriormente trabalhou no INABE. Um número considerável de bolseiros angolanos formados no exterior passou por ele. Nos últimos anos da sua existência abraçou a Magistratura judicial onde o seu profissionalismo deixou rastos reluzentes. Embora essa individualidade dispense apresentação, estou a falar-vos de Fernando Fulevo. É natural de Kazumbi.
Kazumbi não parou por aí. Mais estrelas encheram o seu firmamento. Falarei de um outro menino prodígio. Contra todos os ventos e preconceitos a sagacidade do seu saber na área da Fiscalidade fê-lo uma autoridade nos meandros do Ministério das Finanças e meritoriamente atingiu o cargo de Inspector Geral do Ministério. Falo do meu benquisto sobrinho João Manuel Landa.
Prometo continuar a falar de Kazumbi, doutras aldeias e personalidades do nosso Município.
Esta é uma tentativa de uma humilde e singela homenagem e um sério convite a todos mindamba para um painel que nos leve a honrar condignamente os ilustres filhos da nossa terra.