Mostras confirmam antiguidade da cidade
Por Kayila Silvina
A coordenadora do projecto arqueológico “Mbanza Congo - Cidade a desenterrar para preservar”, Sónia Domingos, afirmou, ontem, que uma das amostras enviadas para os laboratórios arqueológicos fora do país confirmou que Mbanza Congo é a cidade mais antiga de Angola.
Os laboratórios ajudaram a confirmar a data registada nos arquivos da cidade, onde a criação de Mbanza Congo é apontada como tendo ocorrido no ano de 1439, antes da chegada dos portugueses à foz do rio Zaire.
O dossier sobre a candidatura de Mbanza Congo a património mundial da Humanidade vai ser entregue à UNESCO, em Janeiro de 2015, altura em que são concluídas as várias fases desenvolvidas pelo Executivo, através do Ministério da Cultura.
A informação foi reconfirmada por Sónia Domingos, num encontro que reuniu diversos especialistas estrangeiros e autoridades tradicionais do Zaire. A reunião serviu para a restituição dos dados arqueológicos e balancear o processo das escavações desde o seu início até ao momento.
“Estão a ser concluídas as fases das escavações arqueológicas e as equipas de trabalho estão a realizar estudos para a redacção de dados arqueológicos que vão ser também entregues à UNESCO”, disse a responsável.
Sónia Domingos explicou ainda que foram escavados oito locais arqueológicos que resultaram na descoberta de mais de 4.000 vestígios históricos, com destaque para as missangas, pulseiras, cachimbos e talheres.
A arqueóloga disse que antes de Janeiro de 2015, o Executivo vai ter o pré-dossier para que os peritos da UNESCO possam fazer uma avaliação exaustiva e pronunciar sobre as correcções e alterações que devem ser feitas, a fim de se melhorar o texto final.
A coordenadora solicitou ainda mais ajuda das autoridades tradicionais no sentido de facilitarem na descoberta de documentos relacionados com a história de Mbanza Congo e na recolha de dados capazes de darem mais ideias na elaboração do processo de candidatura.
“Estamos a recolher, principalmente, as informações universais, aquelas que apenas existem em Mbanza Congo, para a UNESCO aceitar, com maior facilidade, a cidade como património mundial da Humanidade”, acrescentou Sónia Domingos.
Após o processo das escavações vão nomear um comité de gestão da cidade. Sónia Domingos informou também que os oito locais escavados são o antigo cemitério do bairro Álvaro Buta, a antiga Sé Catedral do Kulumbimbi, a actual residência do Bispo Dom Vicente Carlos Kiaziko, a Mpindi a Tadi (local onde antes se defumavam os corpos dos antigos reis), o quintal adjacente do museu do Reino do Congo e a Tadi dia Bukiaku.
“Alem das escavações, os especialistas, nacionais e internacionais, vão trabalhar com a administração municipal de Mbanza Congo, para criar um plano de desenvolvimento do município, a ser incluído no dossier da candidatura”, aclarou.
O encontro com os especialistas contou ainda com a presença do coordenador do núcleo das autoridades tradicionais do Museu do Reino do Congo, Afonso Mendes, dos chefes da unidade do património mundial da UNESCO para a região de África, Edmond Moukala, e do bureau regional multissectorial do mesmo organismo para a África Central, Christian Ndombi.
Além destes, participaram ainda a directora-geral do Instituto Nacional do Património Cultural, Maria da Piedade Jesus, representantes da UNESCO em Windhoek e três arqueólogos internacionais, provenientes dos Camarões e Portugal.
O projecto de inscrição da cidade de Mbanza Congo na lista do Património Mundial da Humanidade da UNESCO foi lançado em 2007, com a realização da Mesa Redonda Internacional, “Mbanza Congo - Cidade a desenterrar para preservar”.
Património cultural
O chefe da unidade do património mundial da UNESCO para a região de África, Edmond Moukala, considerou “bastante rico” o património material e imaterial da histórica cidade de Mbanza Congo.
A constatação foi feita depois do especialista ter tomado conhecimento mais amplo do andamento do trabalho em curso para a sua inscrição na lista do organismo que representa.
A influência do antigo Reino do Congo, que tinha Mbanza Congo como capital, é, hoje, incontestável a nível mundial, “porque as suas raízes se estendem até às Caraíbas, Cuba, Colômbia e até mesmo Estados Unidos”, destacou Edmond Moukala.
“Hoje, ao visitar Mbanza Congo, pude descobrir mais do património tangível da cultura da antiga capital do Reino do Congo, facto que me impressionou bastante e me fez reviver a ancestralidade dos meus antepassados, como africano”, enfatizou.
Edmond Moukala adiantou ainda à Angop que o património mundial conta já com cerca de mil sítios classificados pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), mas nenhum deles tem a dimensão e a contribuição que teve o antigo Reino do Congo no contexto mundial, cujo território abarcava toda a África Central, desde Angola, Congo Brazzaville, Gabão, República Democrática do Congo e parte dos Camarões.
“O lugar do Reino do Congo na história do mundo é incontestável, pela sua contribuição no domínio económico, estratégico, militar, da medicina tradicional e diplomático de África”, reconheceu o responsável da UNESCO, que defende também a divulgação destas e outras valências que marcaram o Reino.
A direcção-geral da UNESCO, informou ainda Edmond Moukala, está igualmente em permanente contacto com as autoridades angolanas, no sentido de acompanhar e assessorar adequadamente a formulação do dossier de candidatura de Mbanza Congo a património mundial, visando o êxito deste processo.
Via JA