Por Dr. Camilo Afonso Nanizawu a Nsaovinga.
Meus Irmãos os que podemos dizer neste momento quando os olhos dos que devem ver os acontecimentos, os mantêm fechados perante os factos.
Para que relembrarmo-nos das nossas histórias familiares, Mvila za Makanda? Que no fundo é o nosso Património identitário, histórico e cultural. Por que cuidar dele? Se temos a coragem de botarmos fora aquilo que descreve a história da presença colonial no espaço em que nascemos? Como nos relembrarmos das lutas de resistências travadas neste espaço, pelos nossos Heróis? Mfumu Nzau a Mbakala; Mfumu Ntu-a-Nkombo; Mfumu Nakunzi; Mfumu Namputu; Mfumu Nkama-Ntambu; Mfumu Mbyanda Ngunga; Mfumu Kyala kya Ntalu; Mfumu Kyala kya Nzinga; Mfumu Ndwalu Mbuta ye a nkanka.
Como apagarmos das nossas mentes que no longínquo Abril de 1961, um heróico Filho da Ndamba retirou do mastro da Administração do Concelho da Damba a Bandeira Portuguesa, um facto inédito na história do País. A Damba foi referenciada nesta altura nos jornais portugueses, nos manuais escolares, quiça do mundo, o que levou Salazar a mandar para Angola o seu Ministro do Ultramar, Adriano Moreira.
Quem gostaria agora que lhe fossem demolir o seu Zumbu ou Mazumbu dos seus ancestrais?Ou ainda o túmulo onde repousam os restos mortais dos seus entes queridos? Certamente que alguém iria bater-se por este acto. Por não o consentir e lesar a sua identidade familiar e dos seus próximos. Como não respeitarem os nossos mais-velhos, que tudo fizeram nos momentos em que já não tínhamos esperanças de vida no Município, ousaram defender este Patrimônio Comum, de todos os Mindamba e nossos amigos que ali nasceram e registaram ricas memórias das suas gentes, das suas belezas, da sua arte de artesanato inconfundível, do nsombé, do malavu, do kyundulu, do safú, da granja que fizeram e fazem da Ndamba aquela "Suíça" de Angola.
"Os demolidores são mentes dos que só agora começaram a ver o dinheiro, sugado por vias impróprias e sem dignidade."
Quanto orgulho nos trouxe este facto heroíco e histórico da nossa Ndamba! E os testemunhos foram estes edifícios que os olhos dos míopes entenderam botar abaixo, bem o referenciou e tristemente constrangido o nosso Kota, Mfumu Mingyedi mya Kyami (Miguel Kiame - ver o artigo precedente). Eles não falam, mas registaram estes factos. E como razão da sua existência neste espaço. Já não bastou o derrube da Antiga Administração do Concelho, Mongo Vwá, que era uma peça única em Angola. Facto que ainda dói a todos aqueles que a conheceram e nos enchia de orgulho. Assim são as mentes dos que só agora começaram a ver o dinheiro sugado por vias impróprias e sem dignidade.
Como voltarmos falar destes factos, quando por trás somos apunhalados por gente que nem o minimo de respeito têm por todos quantos defendemos este Patrimônio Comum. O que legarmos ou mostrarmos aos nossos filhos nascidos nas várias paragens onde nos encontramos a viver?! E muitos com vergonha e medo de lá voltarem, e muitas vezes a levantarem motivos subjectivos e sem nexos, como motivo de justificarem que estão bem no espaço que habitam, e que também custou vidas e sacrifícios para manterem o patrimônio que exaltam com orgulho. Entretanto, os nossos Mais-Velhos e ancestrais nos legaram a máxima: kifwa-fwa, Ki mpinga-mpinga. É bom que se saiba interpretar e preservar esta máxima que carrega consigo vários ensinamentos socioculturais. No fundo são o suporte da nossa identidade cultural e da defesa do Patrimônio material e imaterial.
Finalmente, porque fomos convidados para nos pronunciarmos sobre a História da nossa querida e amada Ndamba, aquando das Primeiras Festas Municipais da Ndamba? E porque o fizemos? Por simples vaidade? Ou por orgulho de ali termos nascido e possuirmos o que de melhor podemos defender e exaltar a nossa Históra e a nossa Identidade Cultural.
Finalmente, tudo quanto ali existe de modo material e imaterial pertence a todos Mindamba. Digam o que quiserem como justificação sobre o acto presente e outros já passados, a história os condenará. A Ndamba tem vários espaços inabitáveis e que requerem trabalhos de demarcação e requalificação para tornarmos a nossa Ndamba, um dos belos Municípios para se viver.
Tem gente que a podem fazer reviver os belos tempos do Empreendedorismo de gente de feliz memória como: Mfumu João Nzenguele; Mfumu Mingyedi Nkila; Mfumu Moniz Mbunga; Mfumu Zoau Mudyaki; Mfumu Fonseca Mwanza; Mfumu Alves dya Kyala kya Ntalu; Mfumu Mpanzu a Mpanzu; Mfumu Sebastião Mbengui. Enfim, todos os anónimos que naquela altura deram o melhor de si para rerguerem a Ndamba e torná-la mais conhecida e desenvolvida. Estes seguiram a dinâmica e o orgulho de gente como: Mfumu Kyala kya Ntalu; Mfumu Kyala kya Nzinga; Mfumu Zenzu; Mfumu Nganga Mabidi; Mfumu Dwalu Mbuta; Mfumu Makanda; Mfumu Yokola;Mfumu Kituma; Mfumu Mengawaku; Mfumu Fulevu; Mfumu Mazambilu; Mfumu Mpaka Kyasasuka; Mfumu Nzaydi; Mfumu Mpanzu Nsaovinga; Mfumu Yundula; Mfumu Kabata; Mfumu Vadila; Mfumu Moniz Nkandu. Estes foram os primeiros Homens que se destacaram no ramo da agricultura com a produção do café na Ndamba. Muitos destes tiveram descasques de café e compraram carros nos anos cinquenta. Que orgulho termos que relatar este passado tão lindo dos nossos mais-velhos.
Bem hajam por este legado histórico e patrimonial.