«A FNLA está morta»
Por Kim Álves
A FNLA continua dividida por quezílias elutasinternas,passados sete meses depois de Lucas Ngonda ter realizado o «seu» cotroverso congresso, que o reelegeu para presidente e ficou marcado por violência e pancadaria na abertura. Desta feita, Ngonda é acusado, para além de «diabolizar» os que considera como «adversários internos», de expulsar velhos militantes e altos quadros do partido, pela simples razão de quererem uni-lo. Até Carlitos Roberto, filho do líder histórico e fundador da FNLA, Holden Roberto, tido como uma figura pacífica, de consenso e que prima pela unidade, não escapa à «fúria» do homem .
Depois de realizado o contestadíssimo IV Congresso Ordinário da FNLA, antecedido de pancadaria que causou um morto e diversos feridos; enquanto se espera pela pronúncia
do Tribunal Constitucional (TC) pela impugnação do mesmo por parte de alguns militantes em que se destacam dois dos três concorrentes à presidência do partido, Fernando Pedro Gomes e José António Fula; diversos militantes não têm poupado esforços na busca da almejada reconciliação e harmonia interna com a união de todas as tendências do partido.
Na altura, a realização do conclave estava condicionada à pacificação dos espíritos para unir e harmonizar o partido que continua fraccionado há vários anos. Desta feita, segundo de clarações de Fernando Pedro Gomes ao Semanário Angolense (SA), Lucas
Ngonda, à semelhança do que já fizera no referido IV congresso de triste memória, efectuou uma pretensa reunião do Bureau Político, cujos participantes foram maioritariamente familiares
seus e amigos «que nem sequer são militantes ou simpatizantes do partido».
«No relatório da tal dita reunião do Bureau Político, afirma-se que estiveram presentes 59 membros. Mas nós, que somos os verdadeiros membros não estivemos lá porque não fomos convocados e antecipadamente já fomos considerados expulsos, então quem são os tais membros que deliberaram a nossa expulsão à revelia dos estatutos?», questionou o político.
De acordo com o que disse, Lucas Ngonda «vê fantasmas em todo o lado e desconfia até da própria sombra. Primeiro ele já nos considera ‘inimigos’ porque concorremos à sua sucessão e
impugnamos o dito congresso junto do TC; depois a situação agravou porque constituímos uma nova comissão para harmonizar e unir o partido; o passo seguinte seria a realização de um congresso extraordinário para se eleger uma comissão de gestão que deveria reorganizar tudo nos termos dos estatutos e conduzir o partido para um congresso ordinário de verdade e democrático. Ora esta situação, de união, harmonia e concórdia não interessa a Ngonda porque ele está a fazer da FNLA sua propriedade privada, onde faz o que quer e dá todos privilégios à sua família», afirmou.
O também professor universitário disse que a pretensa expulsão de membros de proa da FNLA por Ngonda, para além dos concorrentes citados, abrange também o filho de Holden Roberto, Carlitos Roberto, Ndonda Nzinga, Big Ben, entre outros, que se juntam aos anteriores cinco que, mesmo com a ordem do TC para que fossem reconduzidos aos seus cargos, Ngonda não cumpriu.
Na altura, o TC tinha considerado que Lucas Ngonda tinha usurpado poderes de outro órgão do partido que é o Comité Central. Até ao momento presente o Tribunal Constitucional ainda não se pronunciou sobre a validade ou não do congresso dos «irmãos».
Fernando Pedro Gomes espera que haja «honestidade jurídica na apreciação do Tribunal Constitucional, porque foram apresentadas provas suficientes de que aquele congresso foi uma palhaçada».
Visivelmente agastado, o político reitera que solicitou a impugnação do congresso por irregu-
laridades e aponta o dedo ao actual presidente, acusando-o de estar a ser instrumentalizado e a manter o partido refém de gente alheia aos interesses da FNLA.
«Nós sabemos que o homem está a fazer de tudo para se manter na liderança e nem teve ver-
gonha de ir pedinchar na sede do MPLA para que pressionem o TC a fim de que o seu congresso seja creditado para que depois ele possa cuidar da unidade da FNLA», revelou.
Em sua opinião, «o partido continua estagnado, hibernado, alheio aos problemas e nas mãos
de Lucas Ngonda acabará por extinguir-se», sublinhou, acrescentando que desafia Ngonda a
apresentar a lista dos membros que participaram na reunião do Bureau Político que ele organizou, para que se saiba quem sãos os que lá estiveram e se houve quórum. «Este foi mais um cenário montado por Ngonda para dar a entender que o partido está a funcionar, quando na verdade a FNLA está morta e por isso, ninguém a vai ver em 2017», rematou.
Deliberação do TC bastante demorada.
Recorde-se que os militantes solicitaram aoTribunal Constitucional a impugnação do congresso, por alegadas irregularidades cometidas antes e durante a realização do mesmo.
Dentre as irregularidades citadas consta, por exemplo, a alteração do programa de trabalhos
sem consulta dos candidatos à presidência do partido; o credenciamento dos delegados feito
poucas horas antes da eleição do presidente; alteração e credenciamento viciado dos delegados, uma vez que depois dos tumultos, o credenciamento foi feito sem fiscalização e tomaram parte dos trabalhos delegados que não foram eleitos nos órgãos locais; não participação de delegados ao congresso originários da ala de Ngola Kabango, nem dos membros da Comissão Política Nacional; dispersão dos delegados ao congresso devido ao pânico instalado no local, que também tirou a possibilidade de escolha consciente do
militante, tonando o voto em medo e a escolha intimidada, beneficiando apenas quem preten-
deu, a todo custo, mesmo com a morte de pacatos militantes, manter-se a frente dos destinos do partido, entre muitas outras irregularidades.
Junta-se a tudo isso, a forma como a própria comissão preparatória foi constituída, sem re-
flectir os interesses de todos os concorrentes e a inclusão, na comissão, de indivíduos alheios
ao partido, familiares e apaniguados de Lucas Ngonda, o que, à priori, retirou a lisura e trans-
parência que se pretendia para um evento de ampla magnitude.
Assim sendo, o TC emitiu um despacho, datado de 23 de Fevereiro de 2015 e assinado pelo
Venerando Juiz Conselheiro Presidente, Dr. Rui Ferreira, recaído sobre o Processo No 445-D/2015 – Impugnação do Congresso a fls 11.
Tendo acusado a recepção do pedido, o TC ficou de deliberar sobre o assunto, o que deixa
esperançosos todos quantos desejam ver uma FNLA reconciliada, em paz e harmonia entre
todos os que se revêm naquele partido histórico.
Via SA