PDP-ANA quer monumento histórico com nomes de Neto, Savimbi e Holden Roberto
Por Efraim Chitetulo
O presidente do Partido Democrático para o Progresso de Aliança Nacional de Angola (PDP-ANA), Sediagany Mbimbi, exigiu recentemente, em Luanda, ao Executivo a construção de um momento histórico com a inclusão dos nomes de Jonas Savimbi e de Holden Roberto.
Falando em exclusivo ao Agora, o político, que nesta altura aguarda por uma decisão do Tribunal Constitucional em relação à sua continuação ou não à frente do PDP-ANA, justificou não ser possível falar de reconciliação nacional se os verdadeiros heróis de Angola continuarem a ser postergados pela vontade do partido no poder.
Para ele, os feitos das formações políticas como a UNITA e a FNLA durante a guerra de libertação não podem ser esquecidos em detrimento da política de exclusão que, desde 1975, tem sido levada a cabo pelo MPLA. Na sua opinião, a situação torna-se mais perigosa ainda porque a geração dos libertadores está a passar e a história continua mutilada. "Corremos o risco de esta geração acabar, sem que a verdadeira história seja transmitida à geração vindoura. O homem que nasceu em 1975 hoje tem 40 anos e não sabe se, além do MPLA, há outros que deram a sua vida pela independência. Isso é mau", notou, acrescentando que Holden e Savimbi tiveram o mesmo protagonismo que Agostinho Neto durante a guerra anticolonial, mas, se a história for escrita sem paixões partidárias, as gerações vindouras terão, inevitavelmente, de reconhecer os feitos dos que hoje estão a ser hostilizados pelo maioritário.
"A luta de libertação foi um 'oceano' com muitos afluentes, isso faz parte da história que não pode ser reclamada apenas pelo MPLA". Revelou que, pouco antes da assinatura dos acordos de Alvor, houve troca de prisioneiros entre os movimentos de libertação, nomeadamente, a FNLA, o MPLA e a UNITA, mas o único que apresentou soldados portugueses, incluindo o almirante Rosa Coutinho, que tinham sido capturados nas frentes de combate, foi Holden Roberto.
"Isso, o MPLA nunca deu a saber por temer que o protagonismo fuja dele", declarou, avançando, igualmente, que a matéria sobre os heróis nacionais, assim como a data em que devem ser lembrados, diz respeito a todos os angolanos e por eles deve ser discutida e decidida, não apenas ao MPLA ou à Assembleia Nacional.
"Holden Roberto foi um grande combatente pela luta de libertação nacional, tendo feito sacrifícios pessoais para que hoje os angolanos beneficiassem daquilo que ele próprio não beneficiou, mas, até à sua morte, o Governo não o reconheceu. Os dirigentes deste país não souberam dar dignidade a esta figura", declarou, sublinhando que muitos dirigentes do MPLA, incluindo o próprio Presidente Eduardo dos Santos, também militaram na UPA, organização que Holden Roberto dirigiu. Sediangany Bimbi entende que, para o PDP-ANA, Holden Roberto foi e continuará a ser um pai político, o maior expoente e pilar dos pilares da luta do nacionalismo e libertação de Angola.
"Também foi pai político para muitos dirigentes do MPLA e da UNITA, que passaram por movimentos de libertação como a UPA e depois a FNLA", falou. Alcides Sakala, do grupo parlamentar da UNITA, e Ngola Kabangu, nacionalista e líder de uma das alas da FNLA, são, de entre outros, políticos que, de há algum tempo a esta parte, têm igualmente reclamado a inclusão de figuras que até então caíram no desconhecimento. Alegam que, desde 1975, o MPLA se acaparou de toda a história de luta de libertação, fazendo transparecer que os demais são os 'maus da fita' e nunca estiveram ligados à causa do povo de Angola.
Estes políticos afirmam que outras figuras não podem ser pura e simplesmente ignoradas, principalmente quando se trata de pessoas cujo contributo no processo de independência nacional é relevante. Advogam que o 'Dia do Herói Nacional' tem de ser um dia que não pertença a ninguém, em particular, e nem a um único partido politico.
"Se Agostinho Neto tem o valor que merece por ter sido o primeiro Presidente da República, resultante dos Acordos de Alvor, também Jonas Savimbi, da UNITA, e Holden Roberto da FNLA, todos são os melhores que o País já teve, isso do ponto de vista da guerra de libertação".
Entendem que os três líderes dos então movimentos de libertação de Angola têm de ter os seus nomes nos anais da Historia dos Heróis de Angola, porque "senão estaremos a falsear a nossa história", sublinhando ser preciso despertar na consciência das pessoas que a ideia de evocar o 17 de Setembro, dia do nascimento do primeiro presidente, António Agostinho Neto, como 'Dia do Herói Nacional', é excluir os demais, é errada porque naturalmente muitos desses homens e mulheres anónimos foram também figuras de destaque no processo do surgimento de Angola, como País livre e independente.
PARLAMENTARES CALADINHOS
Apesar de a controvérsia que nasce todos os anos quando se aproxima o 'Dia do Herói Nacional' não ser nova, os parlamentares que deveriam pronunciar- se sobre o assunto continuam caladinhos. A oposição alega que, pelo facto de o MPLA deter maioria absolutíssima no Parlamento, as iniciativas da oposição toda ela junta não 'passam', mas, segundo opiniões independentes, os deputados deveriam propor que o assunto fosse revisto.
O deputado pelo grupo parlamentar da UNITA, Jaka Jamba, fez saber, recentemente, ser preciso que se faça justiça à história de Angola, através da celebração do 'Dia dos Heróis Nacionais', valorizando todos aqueles que derramaram o seu sangue pela liberdade do território angolano, mas não avança com qualquer proposta neste sentido.
Igualmente docente universitário, Jaka Jamba aponta que nenhum historiador honesto e responsável pode olvidar o contributo que a UNITA de Jonas Savimbi e a FNLA de Holden Roberto tiveram na luta anticolonial e na abertura para a reconciliação nacional e reconstrução.
Em Angola, são inúmeras as pessoas que lutaram e derramaram o seu sangue para a libertação do País do jugo colonial, daí que se defenda a celebração de um novo 'Dia dos Heróis Nacionais', ao contrário do que acontece actualmente.
Enquanto isso, um grupo de antigos militares, que estiveram directamente ligados à batalha do Cuito Cuanavale, doou sangue no Hospital Militar Central, em Luanda, em saudação ao Dia do Herói Nacional, que se assinala todos os anos a 17 de Setembro, em memória ao nascimento do primeiro, António Agostinho Neto.
O grupo, constituído em Clube dos Antigos Combatentes do Cuito Cuanavale, congrega todos os heróis das batalhas em Angola, tais como os que combateram contra as invasões de tropas estrangeiras, e prestará ajuda voluntária na localização dos campos de minas e à Polícia em casos de sinistros e ainda em acções de carácter voluntário nas FAA.
Outras sensibilidades criticam a consagração da data, alegando que a mesma não reúne consenso, por fazer referência apenas a Agostinho Neto, fazendo transparecer que ele é o único herói de Angola.
Via Agora