PROVÍNCIA DO KUILO-KUANGO PODERIA ENCURTAR DISTÂNCIA DO UÍGE
Por David Filipe
Uma questão que sempre está em pauta em qualquer governo sâo as estrat'egias de desenvolvimento ecoómico. Na província do Uíge e em outras regiões de Angola, a gestão do território tem constituído um calcanhar de Aquiles"."
Muito se discute actualmente a respeito da posição em que se encontram alguns municípios da província do Uíge que apresentam um fraco desenvolvimento a vários níveis.
Uma das alegações é que uma nova divisão administrativa permitiria uma maior facilidade nas condições de desenvolvimento para os municípios a Leste e a Sul: Sanza Pombo, Quimbele, Milunga, Buengas, Alto Cauale e Puri.
A luta pela divisão da província é antiga. Na realidade, antes da independência já surgiam manifestações significativas a seu favor. Para muitos, um dos obstáculos ao desenvolvimento da província encontra-se na existência de um número excessivo de municípios (16).
Na fase histórica do partido único fez-se um levantamento da situação, mas muitos contrariaram tal pretensão. Para algumas opiniões, a criação de uma nova província não é
algo simples e nem rotineiro, envolvendo um processo complexo que atravessa várias etapas.
“A extensão da província do Uíge tem sido objecto da preocupação dos habitantes. A divisão da província é fundamental para superar os desafios enfrentados pelas autoridades provinciais que muito têm feito para o bem-estar das comunidades, mas não conseguem atingir as metas preconizadas”, opinou o sociólogo Miombe Sebastião.
De acordo com o sociólogo, à semelhança das outras províncias, a Assembleia Nacional deve proceder à alteração da divisão político-administrativa da província do Uíge.
“A administração colonial portuguesa, que tinha uma gestão eficiente do território, já tinha pensado em dividir a província do Uíge em duas. Porque o Executivo não pensa neste sentido?”, questionou.
O professor António Bunga Niquisa, reformado, que na era colonial trabalhou em Sanza Pombo reconhece as dificuldades que enfrenta quem governa a província. “A província é vasta, os governadores não conseguem dar conta do recado, do que se passa em toda a região. Por isso a separação seria uma boa opção”, sugeriu.
As políticas de desenvolvimento regional, através da descentralização de poder, vêm ganhando enfoque nos últimos tempos, especialmente com o programa de combate à pobreza e redução de desigualdades sociais.
“As políticas de descentralização são essenciais para garantir a estabilidade de uma província, criando incentivos para a fixação nas zonas rurais e evitando o crescimento mais instável das aldeias, vilas e cidades”, acrescentou o professor reformado.
Na sua opinião, enquanto a província continuar a juntar os seis municípios, nenhum governante que por ali passe será bem referenciado.“Quando são nomeados para governar a província tudo é um “mar de rosas”. Passados dois ou três anos começam as queixas de má governação. Temos que reflectir sobre esse fenómeno que as autoridades coloniais já tinham identi-
ficado”, referiu.
O militante da UNITA, Coxe Jacinto, preocupado com a situação, disse ao Novo Jornal que em algumas comunas da província do Uige, a comunidade está entregue à sua sorte quanto à resolução dos seus problemas.
“As lideranças tradicionais perderam a sua autonomia orgânica e funcional, tendo ficado atreladas ao poder político local”, lamentou queixando-se que o sistema governativo enferma de excessivas concentração e centralização do poder (...) em contraste com as iniciativas dinâmicas das comunidades de base.
“A separação da província acho que ajudava o próprio regime a resolver os problemas candentes”, sugeriu deplorando o facto de, em algumas comunas de Quimbele, os
administradores comunais enfrentarem dificuldades de vária ordem.
Na óptica do membro da FNLA, Pedro Saki, não existem, na província do Uíge, políticas de desenvolvimento sustentável a longo prazo que priorizem os interesses e as potencialidades humanas das comunidades de base. “Não é por acaso que os colonos pensaram em dividir a província. Já vinham enfrentando vários problemas para a gestão da complexa província do
Uíge. Se o Executivo assim o fizer, melhor é”, salientou.
O membro do MPLA no município de Sanza Pombo, Ernesto Teca, não vê assim as coisas. Na sua opinião, a alteração da divisão político-administrativa já está em curso.“O governo do MPLA continuará a trabalhar na resolução dos problemas sociais básicos da população, no âmbito do programa de desenvolvimento em curso no País. Tudo está a ser resolvido paulatinamente. O
apressado come cru”, atirou.
“A resolução dos problemas que afligem a população deve estar no centro das atenções e preocupações do nosso partido. Portanto, futuramente se houver necessida-
de de dividir a província o Executivo dirá”, acrescentou.
Os concelhos que seriam o distrito do Kuilo-Kuango
Alto Kauale
O município tem 3 064 km2 e cerca de 104 mil habitante. É limitado a Norte pelo município de Sanza Pombo, a Este pelo município de Massango, a Sul pelo município de Kalandula, e a Oeste pelos municípios de Camabatela, Negage e Puri. É constituído pelas comunas de Cangola, Caiongo e Bengo.
O nome Alto Kauale indica a origem do grande soba Marinda (Ma’nkongolo), da tribo real dos
Kiluanji Ngola. Retirou-se junto com a sua família em Kalandula e baixou com o rio kauale até o
actual Massango, atravessando o rio. Assim estabelece o seu reino junto ao rio na margem esquerda do rio até à chegada dos portugueses na área com quem travou grandes batalhas até 1948.
Da aldeia com o seu nome na comuna de Caingo, o soba Marinda com a sua estrutura militar comparada com a da Nzinga Mbandi, foi o mais destacado na luta contra a ocupação total da região entre Uíge e Malange. Alto Kauale foi a última região do Uíge a ser anexada ao resto da província.
Sanza Pombo
Sanza Pombo tem como sede municipal a vila com o mesmo nome, contendo três sedes comu-nais: Alfândega, Kwilo e Wamba. Possui vinte regedorias e várias aldeias. A língua dos nativos desta região é o kikongo, usando a variante kipombo em toda a sua área geográfica. Esta variação linguística estende-se até alguns municípios limítrofes como Buengas, ex. Santa Cruz ou Milunga, ex. Alto Cawale ou Kangola, Puri e o município de Kimbele. Por volta de um pouco menos de um século antes da chegada dos portugueses à região do Zombo, um dos filhos do Zulumongu, família directa do soberano Zombo, teve uma discussão com os seus familiares. Tudo porque lhe foi negado a herança do trono depois do falecimento do seu pai. A família como é de direito, preferiu entregá-lo a um sobrinho do Kanda porque este era o verdadeiro herdeiro.
O primogénito do Mazulumongo zangou-se com todos, decidindo então, partir daquela área e emigrou para o território do Pombo. Mas quando lá chegou já havia emigrado o Mayimbata que fixara a sua aldeia a muitos quilómetros depois de atravessar o rio Kwilo, vindo da área do Nsosso.
Macocola (hoje o município é Milonga)
Macocola limita-se com a sede do município de Milunga e a comuna do Huamba a leste. A oeste com o município dos Buengas, ao sul com o município de Sanza Pombo e ao norte com o município de Quimbele. A sua dimensão é de 217 quilómetros quadrados. A população atinge cerca de quinze mil 400 habitantes e vive principalmente de agricultura.
Buengas ( Antiga Boa esperança )
O município dos Buengas tem 2 875 km2 e cerca de 78 mil habitantes . É limitado a Norte pelo município de Maquela do Zombo, a Este pelos municípios de Quimbele e Milunga, a Sul pelo município de Sanza Pombo, e a Oeste pelo município de Damba. É constituído pelas comunas de Cuilo Cambozo, Nova Espença (ex. Buenga Norte), Quimbianda (Buenga Sul).
Kimbele ( Antigo Kuango )
Criado em 1969, o concelho de Quimbele com 6.680 Km2 divide-se em três comunas, Icoca, Caungo e Alto Zaza. O concelho tem origem no antigo corte de fronteira com a sede do Cuango. Principais culturas; amendoim, fibra, pevide, café (...) e arroz.
A ordem de grandeza que é necessário amputar
A Provincia do Uíge situa-se na parte norte da República de Angola, limitando a norte e a Leste com a República Democrática do Congo ex. Zaire, a sul com as Provincias do Zaire e Bengo. A extensão do território compreende uma superfície de 64.022 Km2 estendendo-se entre os paralelos 5 500 e 8 200 de latitude Sul e os meridianos 14 500 e 17 100 de longitude Este de Gruinch.
Os 16 munícipios que compõe a província do Uíge são: Alto Kauale, Milunga, Kimbele, Sanza Pombo, Zombo, Damba, Bembe, Bungo, Negage, Uíge, Songo, Ambuila, Quitexe, Buengas, Puri e Mukaba.
O que a administração colonial pensou sobre a província do Uige. Tendo em conta a extensão da província do Uíge, o governo português já tinha pensado em dividi-la em duas. Na década de 70 realizou-se um concurso público para a atribuição do nome da outra província. A proposta foi de Kuílo-Pombo e Kuilo-Cuango. Feitas todas as diligências, Kuílo-Kuango acabou por ser aceite.
Argumentando a formação do novo distrito, o administrador do concelho do Pombo Álvaro
Ventura disse na altura: “sem regionalismos discordantes, a criação do distrito do Kuílo-Kuango é aguardada como medida e largo alcance social e político”.
O concelho do Pombo continuava a merecer a maior atenção. Na altura tratou-se de um concelho privilegiado dentro da província do Uíge pela sua situação geográfica: para ali
afluíam todos os movimentos comerciais de extensa zona.
O novo distrito seria constituído pelos concelhos do Pombo, Macocola, Quimbele, Alto Cauale , Buengas e Puri definindo naturalmente pelos rios Kuílo e Kuango.
Correspondendo às aspirações da grande maioria das populações, o distrito incrementaria o desenvolvimento económico da área, acelerando a promoção social.
Onde residiria o interesse?
O interesse, de acordo com a administração colonial, explicar-se-ia pelo notável incrementoeconómico: nos mercados rurais do Pombo haviam sido transaccionados durante um ano 6.578 toneladas de produtos diversos no valor de 25.131 contos; no concelho de Alto Cauale e Quimbele produtos no valor de 15 mil contos.
Sanza Pombo,como capital do futuro distrito do Kuílo-Kuango, segundo os portugueses corresponderia ao papel preponderante da vila ao longo dos tempos, principal pólo de irradiação de progresso, que daria sucessivamente origem aos concelhos do Alto Cauale, Buengas, Macocola, Quimbele, Puri e Pombo.
Importância do Novo distrito. Depoimentos.
Álvaro Ventura, administrador do concelho do Pombo que poderá albergar o distrito do Kuílo-Kuango, disse: “É evidente que o concelho tem vantagens naturais sobre outras zonas do distrito, contando, além do café,com mais dois produtos que pesam na economia da província;o arroz, já com duas fabricas de descasque na região e o amendoim, que beneficia da vinda para Sanza Pombo da Induve, para saber em que circunstâncias se encontra a sua comercialização,para assegurar o ritmo de produção de óleo.
A economia do concelho é equilibrada podendo sustentar facilmente qualquer desequilíbrio de cotações.”.
Referindo-se sobre o futuro da capital do distrito, Álvaro Ventura acrescentou :” Se a situação de paz se mantiver, é possível que Sanza Pombo ocupe no distrito uma posição cada vez mais importante. Contamos com o apoio do governador do distrito, coronel Garcez de Lencastre, demostrando ainda recentemente no interesse que pôs na sua solução da parte financeira de uma importante obra, novo abastecimento de agua, num projecto avaliado em 3.200 contos”.
Via N.J