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24 Feb

SANGUE NO CHÃO DO KINKUZO & O DESTINO TROCADO DE UMA VIAGEM

Publicado por Muana Damba  - Etiquetas:  #Diáspora

SANGUE NO CHÃO DO KINKUZO & O DESTINO TROCADO DE UMA VIAGEM

Por Fernando Vumby

SANGUE NO CHÃO DO KINKUZO & O DESTINO TROCADO DE UMA VIAGEM -- ( i )

Introdução

Escrever sobre a base militar do Kinkuzo não é o mesmo como escrever sobre a (Joana Maluca, Ximinha, velho Marcos, Dona Malha ou Dona Maria Das Escrequenha) por exemplo.

E só mesmo quem por lá passou pode descrever o sofrimento e a grande brutalidade que os recrutas passavam naquela que foi para mim uma das maiores bases militares que algum movimento de libertação angolano alguma vez teve fora de Angola.

Não é fácil encontrar palavras para descrever tudo que ouvi, senti e vi com os meus próprios olhos, coisas que se alguém me contasse hoje talvez não acreditasse tanto.

Houve coisas arrepiantes e não me recordo no curto espaço de tempo que passei por lá em ter havido algum momento que pudesse considerar de agradável, pois se assim fosse teríamos evitado o risco em tentar atravessar o rio Zaire de canoa até chegarmos a outra margem do rio Zaire que já era Congo Brazaville.

Eu e uns tantos não conseguimos fugir porque depois que o primeiro grupo avançou fomos todos os jovens de Luanda marcados para sempre e correndo grandes riscos em sermos eliminados considerados como infiltrados.

Pelo que me pareceu uma grande parte dos militares do ELNA (Exercito de Libertação Nacional de Angola) eram mesmo zairenses e nada tinha haver com filhos de angolanos que tinham se refugiado naquele país como se dizia e se fazia crer.

Se assim fosse teriam tido um comportamento diferente para connosco e não nos tratariam de zobas (burros) e outros nomes pejorativo e não nos criariam grandes dificuldades na altura em que queríamos nos aproximar um pouco mais aos comandantes que falavam português e kicongo. Barroso / Margoso / Rómulo/ Narciso e uns poucos.

Quanto aos dois últimos Rómulo e Narciso até hoje desconheço qual foi a sorte deles, pois me pareciam presos dentro do próprio campo de Kinkuzo embora já tivessem ido para lá fugidos como desertores do exercito português.

.
Não faz tempo fiz um apelo aqui na Internet pedindo se alguém me poderia dizer algo sobre eles, se ainda vivem ou o que foi feito deles mais infelizmente e como sempre nunca ninguém tem tempo para responder perguntas com essas.

O ROTEIRO DE UMA VIAGEM COM O DESTINO TROCADO


Destino trocado com um fim não muito feliz isto é o que se pode dizer ao percurso de dois angolanos que na altura apesar de ainda na flor da sua juventude acharam que afinal tinha chegado a hora de se juntarem aos movimentos de libertação nacional para lutarem pela independência que ate já nem estava longe de um pais chamado Angola.

Era eu (Fernando Vumby & Belarmino Willson) Belo

Aqueles que trabalharam na empresa metalúrgica (Sadil) que ficava situada no Bungo nos anos 69/ 73 devem se recordar do Belo que era na altura um simples ajudante de serralheiro.

Ainda me lembro dele como se fosse hoje e se a memória não me trai tinha duas irmãs uma delas era a Gina que era na altura namorada de um sujeito que trabalhava na Luso-Holanda nos arredores do Porto de Luanda.

Pois manos, foi com o Belo com quem e viajei de Luanda a Cabinda e partindo de lá rumo aos confins do mundo onde já se encontravam alguns dos nossos conhecidos e amigos tão jovens como nós que eram e na sua maioria com o destino trocado também.

Onde estão eles e o que é feito ?

O Filipe, Cadete, Bernardo, Roberto, Jones, Jairzinho, o Tony, Belito e outros tantos ?

Uma referencia o Tony e Belito ambos são irmãos do falecido Teta Lando jovens com quem nos cruzamos no GRAE (Governo Revolucionário Angolano no Esilio) na capital Kinshasa e também foram parar á base do Kinkuzo.

TUDO COMEÇOU EM SETEMBRO DE 1974

Foi numa noite qualquer de Setembro quando ainda decorria o ano de 1974 eu e meu amigo Belo (Belarmino Willson) de seu verdadeiro nome depois de termos traçado apressadamente o nosso plano de fuga e ternos escrito no chão do quarto onde passamos a ultima noite no bairro Rangel o nosso código de mensagem para dar sinal a nossa família de que tínhamos chegado bem para o Congo, pegamos nas nossas maxilas e seguimos para o aeroporto de Luanda.

O facto de sermos tão jovens na altura e o destino da nossa viagem (Luanda - Cabinda & Cabinda - Luanda) causou uma certa suspeita aos policias na altura ainda portuguesa (PSP) e com uma PIDE ainda tão activa com ajuda de alguns informantes angolanos quase corríamos o risco de sermos presos o que felizmente não aconteceu.

Se calhar Deus estava connosco naquele dia e lá seguimos viagem depois de um pequeno interrogatorio separados onde quer eu como o meu grande e inesquecivel amigo Belo alegamos que apenas iríamos mesmo só passar uns dias de ferias junto de familiares em Cabinda bem simulados nos nossos bilhetes de passagem de ida e volta.

Postos na cidade de Cabinda onde nos estávamos pela primeira vez , não entramos em pânico antes pelo contrario mantivemos a nossa calma e a nossa a oposta bem firme em abandonar o território angolano ainda naquela noite.

(AVENTURAS DO DIABO) TIPO DAQUELAS QUE SÓ VÍAMOS NOS FILMES E NAS REVISTAS!

Imaginem sem conhecer ninguém naquela cidade e com a situação ainda totalmente sob o controle da PIDE/DGS , dois miúdos vindos de Luanda decididos á rumarem para o Congo Brazzaville já se aconselhava na altura ter sangue frio para não espantar a policia e os bufo.

Manos , JES e outros por exemplo quando rumaram para os Congos foram bem instruídos , tinham uma espécie de guias que lhes mostram o caminho e que estavam quase em sintonia permanente com os comités clandestinos do MPLA do BO , Sambizanga , Rangel e outros , e acredito não terem corrido os mesmo riscos que nós corremos mais isto pouco importa e nada tem haver com a historia da nossa aventura.

Importa aqui dizer que eu conheço pessoalmente o estratega da fuga de JES e mais um ( Ele sabe quem é ) e se calhar o melhor é guardar para mais tarde o resto sob essa historia que tem alguns contornos complicados ...

Postos em Cabinda como abandonar a cidade e chegar ate ao Congo ainda naquele mesmo dia o que parecia se transformaria numa tremenda dor de cabeça para dois jovens quase como inocentes graças á Deus nem por isso o pior aconteceu...

Ainda nas imediações do pequeno aeroporto da cidade de Cabinda , um homem de chapéu preto depois de se ter aproximado de nós olhou- nos seriamente e facilmente percebeu que éramos estranhos naquela cidade despertado seguramente pelo nosso aspecto de sem paradeiro.

Que alma tão caridosa e simpatia rara de uma pessoa que mal nos conhecia ao convidar-nos para sua casa que ainda me lembro como se fosse hoje , não ficava nada longe da famosa (Boate Fiote) uma espécie de bar nocturno onde miúdas belíssimas se rebolavam mostrando o traseiro para o agrado da plateia na sua maioria brancos da burguesia local.

Como facilmente nos apercebemos que o homem nos inspirava grande confiança resolvemos abrir-lhe o jogo pois algo nos dizia que aquela jóia de homem ainda nos poderia ser uma das peças mais importante para nos traçar o caminho para o ultimo assalto como veio acontecer.

Ele não nos prometeu o céu e o inferno ao mesmo tempo apenas nos garantiu que tudo faria que estivesse ao seu alcance para nos ajudar á abandonar Cabinda ainda nas horas seguintes.

Manos , em vez de Brazzaville fomos parar ao famoso campo do kinkuzo depois de uma viagem tão longa desde Matadi , Boma ate chegarmos á Kinshasa onde estava as instalações do (GRAE) Governo Revolucionario Angolano no Esilio.

Depois que vimos e nos encaramos com Holdem Roberto , Mateus Neto , Ngola Kabango , Samuel Abrigada e outros todos bem trajados e na melhor forma física ainda chegamos a acreditar que nos dessem bolsas de estudo para algum pais com que a FNLA tinha boas relações e não eram poucos.

Qual bolsa, qual quê ?

PROMETO CONTINUAR AINDA HÁ MUITA COISA ARREPIANTE , DRAMÁTICA E DOLOROSA PARA CONTAR!

Grande referencia -- Os Treinos militares ate sangrar e a morte de uma senhora ( mulata )

1 ) -- ( Miling ) -- Dois militares eram postos num ring onde lutariam ate que um dos dois sangrasse seriamente !


2 ) -- A morte de uma jovem mulata que chegou ao kinkuzo acompanhada de seu namorado , quanto sei em Angola moravam no bairro Cazenga não muito longe do bar do Areias

3 ) -- Visita de Holden Roberto á base de Kinkuzo

4 ) -- Uma curta lista com os nomes dos jovens que conseguiram fugir e dos que não conseguiram

5 ) - A alimentação e quando o estar doente significava meio morto

6 ) - O tratamento no único posto de saúde que havia

7 ) - O plano da nossa fuga para Brazaville

8 ) - O arrepio e a lágrima pela dor daquela mulata

9 ) - Os instrutores chineses / zairenses

10 ) - A entrada para Angola e a fuga para o MPLA em pleno dia de guerra entre os movimentos

11 ) - A recepção calorosa na delegação do Mpla na Vila Alice e o reencontro com os amigos que tinham conseguido atravessar o rio Zaire fugidos do kinkuzo para o tão desejado Brazaville

12 ) - Belize & S.Vicente em Cabinda com Bornito de Sousa , Pedro Sebastião , Kassefu, Alberto Neto , Mayunga , Bafafa , Fuguetão , Jetúlio , Nando Malher , Eurico Gonçalves , Bibi , Jika , Margoso , Bibi , Pedalé , Manuela , Luisa Fontes , Pedro Santos , Filomena , Xavita , Carmita , Ludovina , Lurdes , Bessa , Cadete e outros tantos etc,etc.
Em fim....

Fórum Livre Opinião & Justiça

Fonte: Faebook/Fernando Vumbi

Guerrilheiros do ELNA no Kinkuzu

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