Na Damba fui tratado como um porco no lodo
Por Daniel Zola "DINYUX" (*)
Para dizer toda verdade em Angola agora o estrangeiro têm mais consideracão do que o próprio angolano genuíno. Nem estou acreditar o que me aconteceu recentemete quando visitei Damba.
Que nostalgia! Cheguei na Damba em Agosto de 2014, depois de 30 anos que deixei esta terra que me viu nascer. Alegria de reencontrar os meus familiares, as aldeias onde passei a minha infância, a escola onde frenquentei o cíclo primário e preparatório lá na Missão católica da Damba.
Conforme planifiquei, aproveitaria tratar o meu Assento de Nascimento, para renovar o meu B.I e o Passporte. Porém, a minha alegria do reencontro com a minha Ndamba foi de curta duração, pois, fui humilhado, maltratdo e desprezado por parte de funcionários de Administração Municipal, muito especialmente na pessoa do Sr. Conservador, que reservou-me um tratamento igual a um estrangeiro. Fui tratado como eu se fosse um maliano, nigeriano ou um congolês. Nada justicificava o tal comportamento, nada mesmo. Eu sou natural da região de Mabubu, não é necessário apresentar a minha família que é bem conhecida lá no Kinkosi onde sou originário. Estava em possessão de documentos originários que testemunhavam a minha "mundambanidade", respeitei todas as etapas necessárias que a actual legislação angolana exige para obter o documento de identificação de base. De igual modo, acho inútil aprovar a minha angolanidade atravêz das linguas faladas na minha região, porque domino todas, especialmente o kikongo, a minha língua natal, mas isto não impediu os funcionários do Registo civil me tratar como um porco mergulhando no lodo.
Não tive dificuldades de tratar declaração do soba, rubricado pelas autoridades tradicionais de Mabubu e Kinkosi. O Regedor Matungama que me viu nascer e Soba de Mabubu, Mbunga Nsiavimpi, um amigo da infância, rubricaram naturalmente o documento. O Sr. Neves Nkanu reconheceu-me e confirmou a minha naturalidade dambense. Com este documento, a Commissão de Triagem da Administração Municipal aprovou a minha "mundambanidade".
Passei na Secretária dos Serviços de Migração e Fronteira de Angola, SME em sigla, onde fui o oficial Lucas entrevistou-me, tudo passou bem, sem complicações.
Depois fui no SINFO, onde respondi a todas perguntas pertinentes, todos meus documentos foram verificados e revrificados, nada se achou de anormal e todo meu processo foi aprovado este nível importante da identificação.
Segundo a lei angolana actual, com este processo já se pode adquirir o Assento de Nascimento. Assim dirigi-me, no dia seguinte, à Consevatória Municipal, onde encontrei complicações injustificáveis.
O Sr. Conservador, que prefiro ocultar o nome aqui, afirmou que o processo não estava completo, pois faltavam os seguintes documentos: Cartão do Morador ou Atestado de Residência, Cartão Eleitoral e como declarei que eu frenquentava a Igreja IEBA ( Igreja Evangelica e Baptista de Angola) tinha que ser possuidor do Cartão de Membro desta confissão religiosa. Mandou-me, com arrogância, de voltar para Luanda tratar estes documentos sem os quais não terei o Assento de Nascimento! A estupefacção me invadiu, não consegui conter as minhas lágrimas de raíva. Supliquei o Sr. Conservador para encontrar a solução o que me evitaria gastar dinheiro voltar mais em Luanda, roguei, mas por íncrivel que seja, o senhor foi tão insensível e expulsou-me fora do seu gabinete, sem o mínimo de civismo.
Procurei ter ajuda nas instâncias superiores municipal, contactei o Sr. Zacarias Manuel, Administrador Adjunto Municipal da Damba, que infelizmente para mim, estava na Cidade do Uíge numa reunião. Encontrei-me com a Administradora Comunal de Lêmboa, Sra Joana que conhecia bem a minha família, que teve a amabilidade fazer uma intervenção ao meu favor junto do terrível e burocrata Conservador que mandou-me esperar. Cumpri com a sua palavra, esperei das 9 horas até as 16 horas sem ser atendido. Os funcionários da Consevatória deixavam os seus gabinetes, terminando o trabalho, até a última pessoa a encerrar as portas. Eu fiquei ali como um cão morto abandonado na rua. Isto aconteceu na minha Damba, na localidade mesmo onde nasceram os meus pais, avós e bisavôs.
Eu que tinha tantos projectos para minha Damba, mas o sonho ficou como um sonho de um mudo, assim é que vamos desenvolver a nossa terra(Damba)? Fico até sem palavras quando do oiço que "Havemos de voltar"!
Compreendo porque agora há uma grande confusão, já não se sabe disntinguir um autóctono a um estrangeiro, mas de quem é a culpa? Se nós os donos da terra somos vitímas de desordem das autoridades Angolanas?
Onde é que iremos agora? Se somos desprezados na nossa própria terra!
(*) Daniel Zola é Administrador - Adjunto do Portal do Uíge e da Cultura Kongo. É autor de muitos artigos editados nesta página dedicada à próvíncia nortenha de Angola com odor de café.
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