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Portal da Damba e da História do Kongo

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Página de informação geral do Município da Damba e da história do Kongo


IN RÉQUIEM AO MANUEL JOÃO LANDA!

Publicado por Muana Damba activado 30 Abril 2014, 12:18pm

Etiquetas: #Coisas e gentes da Damba

Por Camilo Afonso Nanizau (*)

 

Dr Camilo Afonso Nanizau.

 

UMAKALANGA KWANI WO E PROF. NANI KUTU WA, E PRIMO!

 

É assim que nos habituamos quando estivéssemos juntos e a recordarmo-nos das históriasdo nosso passado familiar, das nossas vidas e jornadas escolares, das futebolísticas, etc. Entretanto, o momento impele-me a exprimir o que me vai na alma, após os duros quatros meses, de espera pela chegada em Angola dos corpos dos nossos irmãos que partiram para a eternidade,naquele triste vôo da LAM.Quero referir-me de forma muito especial ao nosso irmão MANUEL JOÃO LANDA!

 

UMAKALANGA KWANI WO E PROF.!

 

Foi com esta forma de se expressar que me habituou desde o nosso reencontro em Portugal, no ano de 1997.Eu na condição de Adido Cultural da Embaixada de Angola  em Portugal, e ele a inscrever-se no Curso de Mestrado, em Economia e Gestão. A partir destaaltura até ao fim do seu Mestrado nunca mais nos separamos. Irmãos, compadres,  por este, ter registado o meu caçula, o Joelson Landa, nos serviços Consulares da Embaixada de Angola em Portugal.

 

Famílias Landa na Damba. Afonso Landa e João Landa. Na verdade, ambos eram João Landa e parentes próximos.O primeiro no Kimazebo e o segundo no Cazumbi. Entretanto, meu pai desde muito cedo revoltou-se com a situação reinante no período o colonial e decidiu partir para o Congo ex-Belga,nos idos anos 40.Conforme o descrito nas obras de D.Afonso Nteka e do Bispo D.Vicente Kiaziku, porque nunca quis trabalhar para nenhum português. No Congo Belga converte-se para o catolicismo em Ntumba Mission,com os Padres Redentoristas.Congergação fundada pelo Santo Afonso de Lyola, e tendo adoptado o nome de baptismo de Afonso Landa.

 

Do outro lado, o tio João Landa foi recrutado para tropas negras das forças coloniais

portuguesas que foram combater na India, Timor e Macau. Assim foram o avô Nfinda, Mano Swaminu Bondo (Tio do Dr.Feliscerto Bondo e outros familiares),Manu Boka,no Kimazebo, Mfumu David Mabibi,Mfumu Minguiedi Zilungu e muitos outros de Feliz memória.

 

Este pequeno histórico visa apenas situar as coisas como elas se deram no passado.

Umakalanga kwani wo e Prof!

 

Na verdade, as coisas acontecem sempre assim. Fomos apanhados todos de surpresa! Quem o imaginava?!Só as nossas lágrimas, as nossas lamentações de forma desconcertadas puderam testemunhar o que cada um de nós, de perto ou de longe foi guardando neste longo rosário, que finalmente chegou ao fim.

 

Umakalanga kwani wo e Prof!

 

Kyedika, kuna nzila lufwa kakuna nvutu ko!E unu mamene!

 

Sim, não há respostas quando a chamada do Senhor nos bate à porta. Mas, como

compreender e aceitar esta morte, que não estava na mente de qualquer um de nós? Como é tão revoltante ao sabermos hoje, que foi intencional por parte do Comandante do triste vôo?

 

Umakalanga kwani wo e Prof.!

 

Como não aceitarmos esta situação que nos foi imposta pela força das circunstâncias adversas. Foste meu/nosso “Bangão”, do português do Mestre Tamoda! Afinadinho. Como não nos lembrarmos de ti e de todos jovens da Damba que no passado colonial desafiaram jogar na equipa de futebol dos Brancos da nossa Vila da Damba? Esta atitude foi correspondida com a fundação da Académica da Missão Católica da Damba. Estava assim encontrado o equilíbrion das forças.Uns no Clube Desportivo Recreativo e Beneficiente da Damba e outros como eu, na Académica da Missão Católica da Damba.

 

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Manuel João Landa

 

Com o nosso movimento juvenil da Missão Católica da Damba, que ficou conhecida por J.F. JUVENTUDE EM FÉRIAS! Juventude em Férias, porque em Agosto era a altura, em que todos nos encontrávamos na Damba, após o termino das aulas e dos trabalhos de colheita do café e não só. O nosso ponto de convergência era a data de 15 de Agosto, Dia da Nossa Senhora da Assunção, e que actualmente se celebra a 10 de Agosto, data de IN MEMORIAM, a D.AFONSO NTEKA.

 

Fomos as sementes das gerações que hoje conformam a “Intelligentzia” dos Municípios da Damba e Maquela do Zombo. Estamos lembrados e todos juntos nas escolas das Missões Católicas da Damba e Maquela do Zombo, nos seminários de Cangola, Negage, Uíge, Luanda, Huambo, nos colégios do Bungo, Maxinde, Infante Sagres, nas Escolas de Professores de Posto do Uíge e Mbanza-Congo, no Liceu do Uíge e Negage, Silva Porto(Bié),na Escola Preparatória do Uíge nos Irmãos Maristas, etc. Fomos e somos todos testemunhos deste longo percurso que nos levou aos patamares que conseguimos alcançar com Angola Independente.

 

Assumindo responsabilidades com humildade, zelo e competência. Assim foi a sua última missão em vida. Bem Haja! Somos uma referência geracional entre os demais intelectuais do nosso Município. Como podemos nos rever sem que tenhamos em conta a tua presença, neste mar de ausência sem fim?

 

Umakalanga kwani wo e Prof.!

 

Kota Landa, apesar de eu ser o mais-Velho. Kota Landa para as novas gerações. Como não te lembrar nas nossas longas conversas e consumições comandadas por Cristo, Tony Tungo(Sofrimento), Salvador “Dolu”, Robé, enfim e tantos outros que ao longo do  tempo darão o seu testemunho.

 

Umakalanga kwani wo e Prof!

Unu mamene!

 

Como foi tão duro este longo período de espera! Distante de todos os familiares, por razões de serviço no Brasil.E quando estava a contar estar presente na data anunciada de quinze de Março, uma vez que tinha estado em Angola, em virtude, do falecimento da nossa Irmã primogénita, Mana Massinda-ma-Landa. Pouca conhecida por muitos. Foi esposa do Velho Mengawaco no Kikambani, mãe do Baptista Mengawaco, Manuel Mengawaco, Bernardo Mengawaco e outros.Não foi possível. Mais um adiamento in extremis! Ao regressar da Damba e antes de regressar para o Brasil, agendei o dia 18 de Março para visitar o Tio Landa e a Viúva,a Prima Chica e os meus inesquecíveis sobrinhos.

Confesso-vos!

 

 Umakalanga kwani wo e Prof.!

 

Foi duro.Fiz-me acompanhar pela nossa sobrinha Elisa Kyame,que conhecia o local e casa.Ali bem perto da Comarca de Viana,isto é,por detrás da mesma. Postos no quintal fizemo-nos anunciar e fomos recebidos pela Tia. E quando indaguei pelo Tio, esta respondeu-me logo. Não sei se ele irá sair do quarto. Encontra-se muito alterado, em virtude, de termos recebido mais uma notícia de óbito lá na Damba e os familiares que se encontravam aqui tiveram que viajar para Damba.O vosso Tio Freitas teve que se deslocar para chefiar o grupo da família. Foi confrangedor!Não tive mais “pernas”!

 

A tia advertiu-me logo, que ele não estava bem e que não queria encontrar-se com ninguém. Mas, a Tia ao saber que era eu, não se fez rogada. Foi anunciar a nossa presença ao Tio.Todavia, esta teve que enfrenta-lo e convencê-lo dizendo-lhe que era eu que tinha chegado do Brasil e do regresso da Damba. Antes disto, a Tia tinha nos oferecido o café da manhã, mas, como já o tinha feito antes de chegar à casa recusei. O que eu não fiz!

 

Umakalanga kwani wo e Prof!

 

Na verdade, foi um erro “crasso” da minha parte, ao ter negado tomar o café na casa do meu tio. Não faz parte dos nossos valores culturais. Eu tinha que o tomar mesmo tendo o feito antes. A resposta não tardou. A Tia, anunciou-nos que iria preparar-se e que depois viria ter connosco no recinto do quintal onde nos encontrávamos. Era o sinal o seu espaço de recepção das pessoas que lhe visitam e de lazer.

 

Uma vez pronto saiu e saudou-nos dentro das normas que nos são bem comuns. E como era de esperar, começou por desabafar sobre a longa demora da chegada dos corpos. E que não compreendia a forma como este acidente se deu. Que ele foi militar no período colonial e andou em aviões militares e outros, e que nunca tinha tido um acidente de avião.

 

 Os aviões no período colonial não caíam atoa como nos nossos dias. Desabafou dizendo que tinha que se rever isto, assim como os pilotos que fazem parte das tripulações. Mostrou-nos a árvore (uma mangueira) onde quis se enforcar. Fiquei muito comovido e mais triste, por esta maldita intenção. Contive-me e compreendi o porquê da situação. Não é fácil, perder-se um filho, da dimensão do nosso irmão Landa. Era o seu braço direito!

 

 Continuando disse, que não iria esperar mais.E se até sábado dia 22 de março não houver da parte do Governo uma atitude firme e aceitável, iria tomar uma posição e uma atitude severa sobre a questão. O tempo é longo de mais, quatro meses. Vou esperar pelos que foram à Damba e no regresso tomarei as minhas medidas. Vou enfrentar o Governo e indagar o quanto ainda tenho que esperar pela chegada do corpo do meu filho. Eu já perdi. Nunca mais voltarei a vê-lo! Nesta altura telefona o Kota Fortunato, que era o porta voz da família junto do Governo, procurando saber da minha localização. Ao anunciar ao Tio que era ele, este tomou o celular e voltou a tecer duras críticas sobre a situação. Após o desabafo, passou-me o celular. O Kota Nato, pediu-me logo que fizesse uma acção psicológica junto do Tio. O que fiz.

 

Porque o Psicólogo indicado para o seu acompanhamento nunca mais tinha aparecido junto da família. Para o Tio era o Pastor que tinha sido indicado para estar com eles. Finalmente, após nos termos entendido em todos os assuntos abordados e ter-lhe dito o que mais me comoveu ao pretender-se enforcar, este não demorou em reconhecer que era a dor que sentia pela perca tão prematura do seu Filho. E por não saber as causas justas desta morte tão inesperada. Uma vez reconciliados e já muito relaxado, fez-me um “ultimato”. Já que não tomaram o café, não vão sair daqui sem tomarem as gasosas. Anui logo que sim, e por fim tudo ficou ultrapassado. Convidei-o a tirarmos as fotografias de recordação. Muito animado convidou os persentes para que posicionassem para as fotos. No momento da despedida quis acompanhar-nos até ao carro que se encontrava há uns 600 metros. Eu não permiti que ele saísse do quintal, uma vez que tudo ainda estava por se resolver. E assim consegui despedir-me do Tio João Landa.

 

No período da tarde fui ao Nova Vida, consolar a Prima Francisca e os sobrinhos que se encontravam presentes em casa. As minhas lágrimas corriam sem parar quando me abracei ao Bruno! Bruno disse-me, Ti Camilo o Pai foi-se embora e nos deixou só! Não tive palavras para respostar ao meu sobrinho. Apenas soube dizer-lhe no final de tudo. Bruno como filho, agora é o momento de coragem por tudo o que aconteceu. E daqui para frente é cumprir com o que o Pai lhe pediu em vida, estudar e formar-se. Agora serás o pai e o chefe da família, para ajudares os seus irmãos e a Mãe!

 

Umakalnga kwani wo e Prof!

 

Fui longo. Mas, em parte é para passar a todos quantos estivemos ligados nesta corrente de longa espera, os efeitos psicológicos que foram criados junto da família e de todos nós. Não foi fácil! Entendamos todos, que esta morte foi a mais dolorosa dos nossos tempos. Mas, alegro-me porque, Deus escreveu nas linhas que nós os humanos não conseguimos entender nemfazermos a mínima reflexão do porquê!

 

 Umakalanga kwani wo e Prof!

 

Quem imaginava que o nosso irmão fosse sepultado na Sexta-Feira Santa, da Paixão de Cristo? Que Deus seja Louvado! O nosso testemunho de Fé, seja em que igreja for, justificou e n agraciou-nos com este registo de grande facto histórico. Chegados aqui, posso dizer que Deus estava connosco nesta longa caminhada. Reconciliou-nos e nos reconfortou com esta nobre coincidência por altura da Páscoa de Cristo Ressuscitado!

 

UMAKALANGA KWANI WO E MFUMU LANDA! UNU MFUMU NZAMBI UIDI E SAMBU KYETU!

 

VUVAMA MUNA MOKO MA MFUMU YEZU!

 

(*) Docente universitário, historiador e diplomata

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