Sobre « Azombo. Questões Socioculturais » de Dombel Silva
Por Simão SOUINDOULA(*)
CIVILIZAçãO KONGO- TRADIçõES CONFRONTADAS AO DESENVOLVIMENTO HUMANO
E, em filigrane, o que transparece do livrinho intitulado « Azombo. Questões Socioculturais » de Dombel Silva, publicação que acaba de ser estampilhada nas edições Australivros, em Luanda.
Contido em 107 páginas, este pequeno ensaio, patenteado com o concurso da Fundação Arte e Cultura e a Radio Luanda Antena Comercial, trata de alguns aspetos antropológicos que se perpetuam na comunidade dos Azombo, variante kongo habitante o noroeste de Angola.
O autor analisa essas permanências imateriais na conceção e na organização da estrutura familiar, as modalidades relativas as alianças matrimoniais, monogâmicas e poligâmicas, os principais domínios de exercício a solidariedade parental, as praticas de herança, a jurisprudência costumeira e a pratica religiosa.
Examina, igualmente, a importância do secular marcador social desse grupo, o comércio.Quadro de serviços de saúde, obrigado, naturalmente, a compreensão de comportamentos culturais, Silva realça espontaneamente, o dinamismo dos valores sociais dos Bazombos tais com a sua legendária e incontornável solidariedade e hospitalidade ; cujo decorrem atitudes positivas de acolhimento, assistência, de esprito de partilha e de generosidade.
O originário da mítica localidade de Quimangumbo, na Maquela, a inesperada capital do Congo português, no início do seculo XX, esclarece esta definitiva aquisição civilizacional pelo persuasivo adagio « Ole atu ; umosi ninga », « A dois, vocês tornam-se verdadeiros homens; sozinho, vocês e ainda uma silhueta ».
Mostra os limites sociais assim que as licenças antropológicas acordadas as mulheres ; equilíbrio inteligente que garante a coesão dos lares e dos clãs e da rigorosa repartição das tarefas.
Uma das autorizações concedidas e a aparição da Ndona a kento ou Ngudi a kanda, mãe, chefe de parentela. Figura social excecional, ela beneficia de um respeito, visivelmente superior, a devido aux nfumu kanda do outro género.
Essas mpovi ze makento sao acreditadas de uma verdadeira mao de veludo, habil, na resolução dos nkanu, conflitos graves.
CLAUSULA POLIGENICA
Um dos indicadores sociais assinalados no ensaio e o ligado a consideração, quase obsessiva, que acorda os Bazombo ao casamento, nas suas modalidades, rigorosas, de evolução tríptica (etapas tradicional, religiosa e oficial).
Considerada como uma instituição essencial, constituindo a base da sociedade, esses Kongo orientais preveem, ai, uma clausula poligâmica, afim de contornear as dificuldades decorrentes da esterilidade e dos apertos do casamento monogâmico.
Afirmam, bem convencidos da sua longa experiencia e do próprio interesse, que « longo nkento mosi ka luntomako », o lar à esposa única e relativamente inconfortável.
O autor, que tem as suas raízes em Kibocolo (o incubador) e nas localidades adjacentes, sublinha o rigor da justice zombo na matéria ligada a herança, que seja social ou material. Apoia, visiblemente, a preeminência da via uterina, nepos, nas práticas de herança, admitindo, com os tempos modernos, a transmissão.
Um dos factos antropológicos maiores que aporta o apaixonado das tradições de Mbata, o antigo Estado avuncular do Reino, e a não-observação do luto nos Bazombo. Compensam bem, esta prática pela cerimónia do didisa.
O estudo « Azombo. Questões Socioculturais » e uma tentativa de testemunha e recordação antropológica e sociológica, humilde, mas que sublinha a importância de diversos valores de civilização, cuja forca foi atestado durante a desgraça esclavagista, os abusos neo- esclavagistas, as violências coloniais e o interminável exil.
Algumas dessas balizas culturais tais como as ligadas a entreajuda e ao altruísmo e à dezena de atitudes assimiladas, perpetuar-se-ão como verdadeiros portas de saída da pobreza e de redes de segurança social.
Outras, ligadas as modalidades de heranca ou de poligenia evoluirão, inevitavelmente, para adequações de modernidade social.
E, o espetacular crescimento económico, atual, de Angola confirmara, sem dúvida, esta apreciação prospetiva.
(*) Historiador e Perito da l’UNESCO
C.P. 2313
Luanda (Angola)
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