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Por Patrício Mampuya Cipriano Batsikama
Os proto-Bantu construíram vários Estados entre Douala e os Mbum, entre os Kota e Fang, entre os Teke e os Benga, ao Sul. Talvez seja por isso que Greenberg e Gurthie terão visto aqui a origem das populações que falam a língua bantu.
Na nossa efémera estadia em Douala e, mais tarde, em Libreville foi possível verificar que existem duas explicações sobre a origem das populações: (1) os Fang e os seus aparentados são originários de Norte, mas há índices que algumas linhagens ligadas a realeza (consagrador era Kota, originário do Sul) eram oriundas de Leste; (2) os Bênga (no Gabão) e seus aparentados seriam descendentes dos Akwa de Douala; também encontramos neles algumas linhagens Kwoo e Ngun que são oriundas do Sul (Kunde e
Teke). Recolhemos e comparamos os termos ligados a: (i) autoridade; (ii) país; (iii) amizade; (iv) Leis/normas; (v) produtos comestíveis mais comuns, etc. Os resultados são interessantes. Os Akwa parecem ser descendentes (provavelmente de diferentes grupos) do núcleo primordial dos proto-Bantu que celebraram amizade com os Kota: das trocas dos produtos comestíveis ao intercâmbio sociocultural, quer Akwa, quer Kota mantiveram seus termos originais ao passo que os Benga emprestaram termos presentes nos dois “grupos populacionais”. Os Akwa são agricultores por excelência e os Kota aparentam menos agricultores que caçadores; os Benga são os dois ao mesmo tempo, embora os termos relacionados à agricultura sejam mais frequentes. A designação do país (reino/império/sociedade), as normas e seus rituais são proto-Bantu (Nigéria). O termo de amizade está patente entre os Kota, Mbêti e Fang e associa-se com o líder/autoridade de aldeia onde convivem diferentes clãs (nos Camarões, citar-se-á: os Mbûbi e os Lîmba, especificamente). Mas também fraternidade indica ora “amizade ritualizada” ora “descendência histórica” (ethnos) de várias linhagens. Elikia Mbokolo parece apoiar-nos quando escreve que nos Camarões Central, “todos os seus povos componentes falam línguas bantoides ou semibantas” (Mbokolo, 2010: 614). Aqueles que falam a língua semi-bantu são repartidos em dois subgrupos: (i) Bantu-njila oriundo do Sul (no caso dos Mbum que parecem ser descendentes dos Kûnde); (ii) Bantu-sudaneses, como é o caso dos descendentes dos Bandgândi.
Se partimos do pressuposto que Lwângu se limita nas duas margens do rio Ogoué, a ocupação desse território parece, porém, responder à seguinte lógica:
1) As margens de Ogoué foram ocupadas pelos Nkûnde, Teke e Kota oriundos de sudoeste e pelos Mbubi e Akwa vindos de Norte. Duas culturas contrastam (dos agricultores e dos acolhedores/caçadores) inicialmente, mas ganham paulatinamente um outro visual de pesca fluvial (quando Ogoué enchia com as águas das chuvas florestais). Doravante, o território terá servido de ponte entre os habitantes das regiões meridionais e os das regiões setentrionais;
2) A história oral menciona dois heróis civilizadores: Ngûnu e Nkônde. O primeiro é tido como o líder de uma capital (ngânda) que reunia várias aldeias rivais (auxiliado de um conselho composto por Kota e Kunde) e o segundo é tido como o primeiro que instalou as instituições políticas (gukhosi) e alastrou o seu território entre os Kânda, os Tsôngo e mesmo os Mpôngwe.
3) A Era de Kônde foi sucedida pela Era de Mbôngo, ou melhor, Muyôngo. A tradição kunyi apresenta [Ma Lwângu] Muyôngo como sujeito Têke/Kôngo que atravessou as águas para se estabelecer no ngânda erguido por Kônde. Foi, por essa razão, chamado Ma-Lêmba e o seu “domínio” era denominado de Lêmba (Kakôngo) que comportava outros Estados nas margens de Ogwé, o povo Kûnde (Pechuël-Loesche:1907), sobretudo a parte meridional de Ogwé até o rio Luladi ao Sudoeste na margem direita do rio Zaire ao Sudeste.
4) É nestas paragens que pensamos ter começado o Estado de Lwângu. No princípio deste reino está Malêmba que era chamado nkônde depois de reunir várias populações/aldeias na sua capital e ter recebido o título de nkosi (gukhosi): distribuidor das riquezas. São dois nomes registados: (i) Nkônde Ma Lêmba; (ii) Nkôsi’a Lwângu. O primeiro parece ser originário dos Teke e Ngunu, enquanto o segundo seria oriundo dos Vili (Lethur,1962) ou dos Kota.
Extrato do livro: "LUMBU - A Democracia no Reino do Kongo"