Por Dr José Carlos de Oliveira.
A leitura do discurso do dia esteve a cargo do ‘irmão’ José António Malanga, de que salientamos as seguintes palavras:
“(…) Ao 56º aniversário da descida do Espírito Santo sobre a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo, com Sede Espiritual, em Sadi
Zulumongo, Ntaya Makela do Zombo, a direcção Nacional da Igreja, em Portugal, no dia 25 de Julho de 2005, informa:
Em Julho de 1946, realizou‑se a conferência missionária internacional das missões protestantes de todo o mundo, em Leopoldville, capital
do ex‑Congo Belga, com a presença de indivíduos de todas as partes do globo, na qual se tratou a educação em geral dos Africanos, o aumento da civilização, dos direitos cívicos e outros e
finalmente o aumento da luz do Evangelho de Cristo. Antes do encerramento da conferência foram escolhidos três nativos de Angola para dirigirem petições a Deus.
O 1º interveniente o Reverendo Gaspar de Almeida da missão episcopal Evangélica de Luanda que orou a Deus para aumentar a instrução,
educação e progresso de unificação entre brancos e negros. O 2º orador pedia a melhoria das condições sociais e que os negros pudessem ganhar dinheiro como os brancos. Esse africano chamava‑se
José Jesser Chipenda. O terceiro orador foi Simão Gonçalves Toco, foi‑lhe dito pelos missionários nomeadamente pelo Dr. Tocker (?) da missão do Dondi, província do Huambo, e o Dr. Brech (?) da
missão Africana de Kalukembe, província da Huíla, que pedisse apenas ao Espírito Santo afim de converter o povo africano que se encontrava nas trevas do pecado visto que sem a força do Espírito
Santo, África continuaria nas trevas, assim procedeu o orador, pedindo ao Espírito Santo o aumento da luz do Evangelho em África.
Em Julho de 1949, Simão Gonçalves Toco reuniu um grupo de 3*12, que corresponde a 36 pessoas, em Leopoldville, de noite a fim de perguntar
a Deus se ouviu ou não a oração dirigida, em 1946, com o pedido do Espírito Santo. À meia‑noite ouviu‑se um grande ruído e viu‑se uma luz. Muitos tremiam, outros falavam muitas línguas, coisas se
passaram naquela noite. (…)”
1991, Luanda, festa tocoista que não se realizava há dezassete anos e a que assistimos.
Muito significativo é um relatório que encontrámos no Arquivo Histórico Militar com a referência 69 02 08, já desclassificado, com o
título ‘Apontamentos sobre Simão Toco e a sua seita tomados em 1951 por um sacerdote africano da missão de Kimpangu ex Congo belga’, mencionado por Eduardo dos Santos (1972:365), na
obra Movimentos Proféticos e Mágicos de Angola. Este autor deverá, na nossa opinião, ser consultado, sempre que se estudem os aspectos mágico religiosos zombo. O que importa aqui
referir é a persistência com que, de tempos a tempos, (como se se tratasse de uma doença endémica), de acontecimentos revolucionários, nesta zona, a região banhada pelo
rioFulége, por nós assinalado na secção ‘A 5ª Companhia de Caçadores Indígenas versus Batalhão de Caçadores 88’ e aqui grafado como Mfuelesi, com
povoações célebres como o Kimpangu com o seu mercado Kiantanu, o posto de Masseke e também de Sadi Kiloango, sendo interessante reflectirmos por momentos, no conteúdo das duas
secções. Por nós, que conhecemos muito bem a região, embora deixássemos de por lá passar, vai para trinta e dois anos, admitimos que as suas características geográficas, a riqueza do seu solo e
subsolo, bem como o significado simbólico que ela comporta fará com que os factos vividos e a viver pelas populações zombo, nela perdurem por muito tempo.
Do relatório, acima referido, extraímos o seguinte trecho:
“(…) Durante a leitura da Bíblia, sobretudo de noite, verificam‑se frequentemente casos de pessoas iluminadas, dizem eles, as quais recebem a inspiração sagrada do Alto. OsIluminados começam a
tremer e a ter esgares; os tremores acentuam‑se, o inspiradoagita‑se fortemente e indica aos leitores da Bíblia o capítulo cuja inspiração
ele acaba de receber. Os leitores lêm então o capítulo indicado… os assistentes cercam o iluminado e excitam‑no a comunicar‑lhes as ideias inspiradas…É depois aclamado e levantado pelos
assistentes em sinal de honra e veneração. Acontece com frequência que na mesma reunião se assiste a dois ou três casos de iluminados, inspirados pelo “Mpeve a Mvuluzi” – Sopro
divino.29(…)”
O sublinhado é nosso, procedemos assim para reforçar a ideia.
Ao falarmos de Simão Toco não podemos deixar de referir a figura central do profeta Simão Kimbangu, porventura, a mais
representativa personagem da Teologia Cristã Africana Kongo. Não receamos colocar o termo profeta porque os teólogos católicos e protestantes kongoleses e angolanos referem‑se tanto a Simão
Kimbangu como a Simão Toco como profetas, tendo nós assistido, há dias, a uma tese de doutoramento na Universidade Católica em Lisboa em que aquelas personagens foram textualmente referidas
naqueles termos. São, especialmente eles, que norteiam as convicções políticas e religiosas dos zombo. A seguir daremos testemunho, com o devido destaque, a factos vividos entre os zombo, desde
meados da década de cinquenta do século passado até aos anos noventa seguintes, de situações que tiveram como protagonistas destacados tocoístas de então.