O Bispo D.Vicente C.Kiaziku da Diocesse de Mbanza Kongo,é natural de Kimakaka,comuna de Nkusu Mpete,município da Damba.O prelado defendeu a maior intervenção da média na sociedade.Foi entrevistado pelo Jornal de Angola.
O bispo da diocese de Mbanza Congo, D. Vicente Carlos
Kiaziku, defende uma maior intervenção da media no processo de resgate dos valores cívicos e morais, hoje manifestamente pouco consolidados no seio da sociedade. Em entrevista ao Jornal de Angola
por ocasião do Dia Internacional das Comunicações Sociais que a Igreja comemorou a 16 de Maio, o prelado católico explicou que é de opinião que os responsáveis e todas as forças vivas do
país programassem uma forte campanha para o resgate dos valores cívicos e morais, destacando como exemplo a seguir a realizada a bem pouco tempo pela Ordem dos Médicos e o Ministério da
Saúde, em particular, para a recuperação da deontologia profissional no ramo e o respeito pelo juramento de Hipócrates.
Jornal de Angola – Que importância tem o Dia das Comunicações Sociais para a Igreja?
Dom Vicente Carlos Kiaziku – A Igreja Católica celebra o domingo de ascensão do Senhor Jesus Cristo como o Dia Mundial das Comunicações
Sociais. Este dia foi criado pelo Papa Paulo VI em 1966, uma linha seguida pelos outros Papas que o sucederam, incluindo o Papa Bento XVI. Neste período, a Igreja transmite uma mensagem
particular sobre aspectos importantes relativos aos meios de comunicação social. Este ano, o tema escolhido foi “o sacerdote e a pastoral no mundo digital, os novos medias ao serviço da palavra”,
isto é, as novas tecnologias que agora estão a invadir o mundo. O mundo digital atinge a maior parte da humanidade e a Igreja não pode ficar alheia a este mundo digital.
O Papa convida o sacerdote a entrar neste mundo para aí também poder apregoar a palavra de Deus. A Igreja, deste modo, não fica ultrapassada pelas novas tecnologias e onde estiver deve sempre
anunciar a palavra de Deus, o Evangelho.
JA – Qual é
a visão da Igreja sobre o trabalho dos medias?
VCK - É uma visão claramente positiva. Por exemplo, eu posso citar uma afirmação do Papa Bento XVI, onde ele diz: “estas tecnologias são
um verdadeiro dom para a humanidade, por isso devemos fazer com que as vantagens que oferecem sejam postas ao serviço de todos os seres humanos e de todas as comunidades”.
Devido à sua importância, há necessidade de se reflectir sobre os órgãos de comunicação social, o jornalismo em especial. Termos, sobretudo, uma visão crítica sobre os mesmos. Eles podem fazer o
bem, como também podem fazer o mal. Por isso devemos estar atentos a isto. O dia das comunicações sociais leva-me a sugerir que se incremente as acções formativas, para uma melhor utilização dos
media na sua generalidade, na perspectiva de podermos fazer com que haja capacidade crítica e de selecção daquilo que devemos e podemos ler, ver e ouvir.
A nossa sociedade precisa desta capacidade de distinção. Por exemplo, temos assistido a determinadas telenovelas que deixam muito a desejar. Com que critérios os jovens, depois de acompanhá-las,
analisam o que viram e ouviram?
São capazes de colher aquilo que é importante e deixar o prejudicial? Porque vezes há que a gente bebe e nos tornamos em simples imitadores e isso pode causar grande mal a nossa sociedade. As
influências que as pessoas vêm do mundo fora através da televisão são fortíssimas. A televisão é classificada como uma das maiores escolas que temos, portanto é preciso estarmos atentos a esta
questão. Não nos deixarmos levar por tudo o que a globalização nos faz chegar.
JA - Acentua-se a queda dos valores cívicos e morais na sociedade angolana. Que contributo os media podem dar?
VCK - Sou de opinião que os responsáveis do país deviam programar uma forte campanha para o resgate dos valores cívicos e morais. Por
exemplo, há bem pouco tempo a Ordem dos Médicos e o Ministério da Saúde, em particular, organizaram uma grande campanha para a recuperação da deontologia profissional no ramo e foi neste sentido
apelado o juramento de Hipócrates aos médicos, enfermeiros e outros intervenientes na área da saúde e o efeito imediato foi bom. São factores que não caminham de uma forma paralela, se por um
lado a gente insiste para que o comportamento seja digno e respeitoso para com a vida humana, como reza o código de Hipócrates, por outro lado também tem que se criar as condições óptimas de
trabalho e um salário condigno.
JA - De lá
para cá o que é que mudou?
VCK – Ora, muita coisa mudou, em termos de salário. Mas, houve alturas em que os salários não chegavam ou eram baixos, então começou a
corrupção, que é um vírus difícil de vencer. Mesmo com a existência de boas condições, os hábitos corruptos não terminam. É importante que seja desenvolvida uma acção conjunta de moralização que
abranja vários sectores para termos um código moral que nos dignifique como nação e como povo.
JA - Em relação ao Dia da Família, assinalado em todo mundo a 15 de Maio, o que tem a dizer?
VCK – É um dia que não deixa de ser importante, na medida em que o mundo reflecte neste dia sobre a família, como núcleo basilar da sociedade. A família é a primeira agência de
socialização, o que for transmitido de positivo e negativo no seio familiar, acompanha as crianças e jovens e pode influenciar positiva ou negativamente. A falta de unidade, divórcios e a
violência doméstica são factores contra a família ideal e têm as suas consequência na sociedade. Por isso, a Igreja, com os seus princípios cristãos e não só, vai procurando transmitir à
juventude aqueles valores que os ajudam a terem uma vida sã no seio familiar. A Igreja proporciona valores que permitam ao indivíduo acreditar em determinados princípios para a educação dos
filhos com base no amor, reconciliação, perdão e amizade.
JA - O facto de muitos chefes de família perderem poder financeiro influencia a desestruturação familiar?
VCK - Com certeza, o factor económico tem a sua influência, mas também a falta de um código moral tem maior influencia. Se uma família não
tem regras, princípios morais e éticos não consegue se orientar e vencer as dificuldades. Penso que as famílias devem possuir um código moral forte, baseado na sagrada escritura, a Bíblia, para
guiá-las.Ter uma boa base económica ajuda. Porque a falta de dinheiro para comer, vestir e mandar os filhos a escola tem a sua influência na manutenção do lar e é nesta linha de pensamento que o
código moral é importante, uma vez que a crise familiar atinge tanto os pobres, como a burguesia. O facto de alguém estar bem economicamente, não significa dizer que esteja também bem em termos
de convivência familiar.
JA – A
Igreja considera a criação de espaços para a prática desportiva como factores que podem concorrer para a edificação de uma sociedade sã, com menos jovens propensos à delinquência?
VCK – Isto tudo ajuda, porque os jovens que não ocupam utilmente o seu tempo acabam por descambar na delinquência. Pode haver propostas de
droga, que muito tem prejudicado a sociedade. É bom a criação de lugares de encontro dos jovens, mas que não sejam apenas para o desporto ou lazer.
Oxalá que sejam também construídos espaços para a promoção de debates e encontros culturais, de modo a crescerem em comunidade e assimilarem os valores que ali forem transmitidos.
JA - Para quando a expansão do sinal da rádio da Igreja para as restantes províncias do país?
VCK - Temos a nível da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé, CEAST, uma comissão encarregada de seguir de perto junto do Governo
esta questão da Rádio Eclésia. Sabemos que a lei das rádios privadas foi aprovada em linhas gerais, mas ainda não foi regulamentada e aí é que está o problema. Acredito que logo que for
regulamentada, o Conselho de Ministros e o governo terão isso em consideração, a questão da Rádio Ecclésia será resolvida.