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Portal da Damba e da História do Kongo

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Laços Etno-Históricos dos Kongo e dos Pigmeus (3)

Publicado por Muana Damba activado 12 Noviembre 2012, 01:39am

Etiquetas: #Fragmentos históricos do Uíge.

 

Por Dr José Carlos de Oliveira

 

 

Jose Carlos de Oliveira l

 


 

Compreender-se-ão agora melhor, as estratégias de sobrevivência dos povos pigmeus: de manhã, não saem dos abrigos, esperam que o sol trespasse a ramagem para irem em busca da subsistência diária. As principais actividades levadas a efeito por estas populações nunca fizeram perigar o sistema. Sempre existiu um desenvolvimento sustentável, o que implica uma gestão própria de economia e de organização social, dentro dos limites que a floresta tropical do Kongo possibilita aos povos pigmeus nas suas actividades.

 

  Os pigmeus são melanodermes e constituem, em África, um grupo humano à parte. É definido por vários traços anatómicos e fisiológicos: a estatura (cuja média é de cerca de 1.56m, para os homens, e 1.45m, para a mulher do grupo ocidental, 1.44m para os homens, e 1.33m, para as mulheres do grupo oriental); a pilosidade acentuada (mais desenvolvida que a dos bantú), a cor da pele castanho-avermelhada ou castanho amarelada; o nariz largo e achatado (plati-acentuado); o crânio mesocéfalo, muito desenvolvido em relação ao corpo; o aspecto atarracado; um prognatismo moderado; uma grande secreção da glândula tiróide; um ritmo cardíaco lento; descida estatística do grupo sanguíneo O e aumento dos grupos A e B. São estas as suas características anatómico-fisiológicas mais assinaláveis. Com efeito, a estatura dos pigmeus é o resultado dum factor de adaptação à floresta equatorial.10 Apresentam dolicocefalia, nuns casos, e, noutros, braquicefalia e ainda lábios razoavelmente finos. O seu nicho ecológico permitiu-lhes adquirir certas características, próprias da floresta equatorial.
10 DEMESSE, M.L. Ecole Pratique des Hautes Etudes Centre d’Etudes Africaines dans la cadre du Séminaire du professeur George Balandier, 1971/1972


Desta forma, podemos dizer que não há raças, o que existem são locais resultantes de condições ambientais, num determinado ponto, onde a população humana se desenvolveu em determinado nicho ecológico, permitindo em diferentes zonas da terra, marcar as diferenças físicas humanas. O nicho ecológico abrange não só o habitat, mas as condições naturais onde a espécie ou população ou populações diferentes encontram o seu óptimo, e mais ainda, as estratégias de sobrevivência que são as alimentares e reprodutivas.

Mapa nº 3 - Mostra a distribuição dos pigmeus mais ou menos ‘puros’ no Kongo, vivendo aparte de outros grupos com proeminentes elementos pigmeus na população 11

 


Portanto, está ultrapassada a noção de habitat resumida ao lugar e condições físicas desse espaço (temperatura, humidade, pluviosidade, tipo de solo, entre outros aspectos). Porém, quando nos referimos ao nicho ecológico, ultrapassamos essas condições físicas, para integrar as condições e as várias estratégias usadas afim de se reproduzirem e alimentarem. Os pigmeus andavam e ainda andam nus (nas zonas mais recônditas), protegendo somente o órgão sexual; a pele escura é uma adaptação biológica, são pequenos e magros, reúnem as condições adaptativas ideais do homem dito primitivo. Formam três grandes grupos étnicos espalhados pela África Central. Primeiramente, os chamados batwa, bacwa ou ainda baka baka, pigmeus do centro, ribeirinhos dos afluentes da margem esquerda do Zaire, sendo o seu número estimado em 15.000 indivíduos e já resultam de antigas mestiçagens, que as margens do rio permitiu.


11 JOHNSTON, Harry (1908) George Grenfell and the Congo. Hutchinson & Co. Londres, p. 499

 Segundamente, o grupo oriental wambuti ou wambuti (akkas, efes e basuas), sendo curioso este apelido de ba-mbuti, que na língua kikongo sugere no prefixo ba – “povo” e no substantivo “mbuti” – “o mais velho”; pode muito bem aproximar-se da designação de antepassado. Vive na floresta do Ituri, a sul de Auellé, limite do Zaire com o Sudão, estimando-se o seu número em trinta e cinco mil.
Finalmente, o grupo ocidental, os Babinga ocupam o norte da República Democrática do Kongo – Brazzaville, entre o Sangha e o Oubangui, estendendo-se para o sul da República Centro Africana, a sudeste dos Camarões e a este do Gabão; o seu número rondará os quarenta mil indivíduos.
Os pigmeus são, assim, cerca de noventa mil no cômputo geral. Segundo alguns autores, têm alguma resistência a diversos factores patológicos locais (doença do sono, paludismo) mas uma grande vulnerabilidade para as infecções cutâneas (úlcera), entre outras.
Esta sociedade que, pela sua economia predadora, está condicionada pelo seu meio natural é considerada uma sociedade arcaica, por excelência, tipo perfeito da sociedade de fraco desenvolvimento técnico e elemento mínimo sociológico. A etnologia tradicional considera-a fixa, num equilíbrio harmonioso e imutável, passível de escapar aos efeitos da colonização. Trata-se de uma sociedade sem chefe, monogâmica e com um sistema de autoridade tradicional, fundado em valores cinegéticos – os pigmeus resolvem tudo por consenso e acordo tácito. O poder difuso permite-lhes evitar conflitos, vivem pacificamente e toda a sua cultura tende para a não-agressividade e para o desenvolvimento de laços de solidariedade. Os povos que vivem da colheita e da caça têm quase todos estas características, conhecem um tipo de cultura original fundada numa economia consistindo na exploração directa dos recursos vegetais e animais do meio natural, ou melhor, dos recursos primários da floresta equatorial, sendo constituídos exclusivamente por recursos alimentares e de abrigo (dos quais o homem não pode prescindir) excluindo a agricultura e a criação de gado.

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