Por José Néves Ferreira.
Uma das residências da Damba em 1962. No tempo de J.N.Ferreira.
Nascido que fui no Uige, aos sete anos de idade passei, com os meus Pais e Irmãos, a viver na Damba, onde fiz os estudos primários com a professora D. Olga Godinho de Mira, natural de Luanda.
Mais tarde, depois de um largo período que estudei em Portugal e fiz a tropa, regressei à Damba, tomando a direcção da nossa firma e fazenda. Casei com uma dambiana, e a minha primeira filha
nasceu na Damba. O meu pai está sepultado no Cemitério da Damba.
Por esta vivência, apesar de, obviamente, gostar muito do Uige, (onde meu Pai chegou em 1919 e ali fez obra ) e ter lá muitos amigos e outras experiências vivida , sinto-me intrinsecamente
dambiano. Viva o tempo que viver nunca me esquecerei das manhãs do frio Cacimbo quando o nevoeiro envolve, como um manto diáfano, as gentes que passam na rua, as casas, as árvores,parecendo que
tudo está mergulhado num sonho; nem do sabor de uma moambada de ginguba,comida numa reunião de amigos, nem do feijão da Damba, que era apreciado em toda a parte; ou das mobílias da Damba ( e
também do Camatambo) que se podiam encontrar tanto em casas de Luanda como em longínquos postos administrativos; ou ainda do “Cristo da Damba”, esculpido por um artista que morava no Bairro da
Missão, e se vendia a bom preço nas lojas de artesanato;como também das largas paisagens formadas por cadeias de morros e colinas que admirava nas viagens para a Lemboa ou das amplas planícies e
chanas do itinerário que, por Chimancongo, se alcançavam as Fazendas, e das quais sentia emanar uma inefável sensação de liberdade, quando contempladas de cima do tejadilho da carrinha.
Mas do que tenho ainda mais saudades é das gentes da terra, com quem convivi. Desde os meus companheiros de escola, com as nossas fugidas para mergulhos na represa da Granja da Administração – o
nosso mundo mágico de encantar qualquer miúdo --, até as gentes que encontrava nos caminhos e picadas onde andei e deambulei. Recordo o nosso Alfaiate Paulo, o Soba Manuel Kituma, o João Ajudante
de carrinha, o Técnico do Combate à Tripanossomíase Manuel Tungo, o Enfermeiro Francisco Rómulo o Funcionário Administrativo Laurentino, o
Manuel Bengue, o Pedro Faria, suas irmãs ( meus colegas de escola ) e os seus Pais, bem como tantos e tantos outros. Outrossim ,dos Padres e Madres da Missão Católica da Damba, com a sua acção de
entrega total ao serviço de toda agente – a verdadeira mensagem de Jesus, o Cristo – e nomeadamente o paradigmático Padre Rafael a quem tinha uma grande amizade… (…)
Contaram-me que Américo de Matos Cardoso, nascido em Portugal e um dos mais antigos comerciantes da Damba, faleceu no Uige ( cidade que dista cerca de 200 Kms daquela Vila), já com uma bem
proveta idade. A população da Damba, como muito o considerava, levou o seu cadáver do Uige para ser enterrado na Damba, depois de fazer o respectivo Óbito. Eis aqui um exemplo que mostra bem o
humanitarismo e a generosidade das gentes da Damba.
Em colaboração com o Soba da Damba ARTUR MÉNDES.