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Portal da Damba e da História do Kongo

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Página de informação geral do Município da Damba e da história do Kongo


FRAGMENTOS HISTÓRICOS DA DAMBA 11.

Publicado por Muana Damba activado 21 Julio 2010, 13:52pm

Etiquetas: #Fragmentos históricos da Damba

 

 

 

VIAGEM AO BEMBE E DAMBA. Setembro a Outubro de 1912


“ In- NO CONGO PORTUGUÊS. VIAGEM DO BEMBE E DAMBA – Considerações relacionadas.
Relatório do Governador do distrito, primeiro tenente de marinha, José Cardoso. Cabinda ,1913”


mngom005.jpg

Pintura de Manuel Ngombo.

 

OS habitantes

 

População – Características de diferenciação. Estado social – Condições de vida – Relações entre o gentio e a autoridade e o comércio – As quitandas


MUZOMBOS


Embora a primeira impressão, que a quitanda nos oferece seja o de um mar ondulante e ululante onde mal se distingue um vislumbre de ordem ou de método, um exame mais detalhado, facultado pelo passeio através da quitanda, mostra-nos o contrário , sento até fácil ao freguês habitual do mercado dirigir-se rapidamente para o lugar próprio onde encontrar os géneros que carece.


Com efeito: estão agrupados por classes de géneros e de mercadorias os vários negociantes, encontrando-se enfileirados a um lado os vendedores de mandioca em raiz, em fuba, em farinha e em quicuanga.; a seguir, os vendilhões de verduras com molhinhos de folhas de hortaliça fiote, manchinhas de jimboa, de folha verde de mandioca, migada com que fazem o apetecido esparregado conhecido pelo nome de “saca folhas”, o feijão verde, na vagem; mais adiante, como que nos talhos, onde se vende o cabrito morto, amanhado, a carne, a carne de porco retalhada e a tripa fresca, ainda recheada com os detritos da última digestão do anho ou do suíno sacrificado ao negócio, manjar tão apetecido pelo indígena para o seu afamado guisado conhecido por mozongué; mais adiante, os vendedores de milho, uns com ele em maçaroca verde, outros com maçaroca seca, umas descamisadas, outras por descamisar; acolá, o milho descarolado, mais além o milho pilado, depois o feijão seco e sem vagem, o sal em pequenos montes sobre folhas de bananeira, folhas de tabaco em rolos, o rapé em pequenos tubos de bambu.


Aparecem depois as fazendas de algodão de proveniência europeia, os cobertores, os fatos feitos para mulheres segundo o traje característico, casacos de veludo para homens, os aventais de pele, as esteiras e quindas, a pólvora, o fulminante e as espingardas.


Não faltam os vendedores de bebidas e petiscos, aqueles com o frasco de genebra de preto e com as suas cabaças e sangas repletas de vinho de palma fermentado, e por fermentar, a garapa, estes com os seus guisados de feijão, e os pães de infunde para satisfazer os apetites estimulados pelo ar fresco das manhãs do Zombo, impregnado pelas apetitosas emanações dos produtos da culinária local; vende-se também ali azeite de palma e as muambas já cozinhadas , também carne cozinhada , rato assado, peixe frito miúdo, espetado em enfiadas de bambu .

 

A jinguba pelada e por pelar, crua e assada, o coconote, o azeite de palma e as muambas já cozinhadas, também ali se encontram com fartura..”


Há também os vendedores de malungas para homens e mulheres e não deixa de ser pinturesco assistir ao enfiar desses adornas nas pernas das mulheres, que passaram o ano de privações a fazer as necessárias economias para possuir a jóia apetecida com que fazer o desespero da vizinhança feminina ao regressarem da quitanda à banza a que pertencem.


As olarias, os feitiços e amuletos vários, alguns objectos de utilidade doméstica e alguns de luxo cafreal, ali estão também expostos à venda. Uma curiosa miscelânea de vida cafreal com os cacos da civilização europeia. Não é raro aparecer o cura maleitas, o tira bichos, e os prestidigitadores e domesticadores de macacos a amenizar aquela cena de vida, já de si animada pelas múltiplas combinações de negócio que ali se efectuam, e para distracção dos ociosos que vão às quitandas matar o tempo como simples mirones.


… Em tempo, até os escravos estavam à venda nestas quitandas; Pena é que, por desconhecimento do valor do trabalho e pela desnecessidade de procurar obter um juro para os seus esforços, não procure o gentio produzir géneros de negócio em excesso para as suas necessidades, promovendo a riqueza da região.


Convém também notar que, depois do nosso estabelecimento no Quibocolo e na Damba , já o dinheiro circula nas quitandas próximo destes dois postos, o que em Junho de 1911, quando pela primeira vez estive ali, não acontecia.


(…) Pela sua docilidade, pacifismo dos seus hábitos e propensão acentuadamente marcada para o negócio, que acabo de patentear na sucinta descrição feita, é natural de explicar-se a boa harmonia existente entre muzombos e europeus quer de comércio quer de autoridade.


Continua...

 

                                                                       Texto slecionado por ARTUR MÉNDES.

 

 


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