
A imagem documenta o estado em que ficou a casa da anciã Helena Cafuani que disse à nossa reportagem que perdeu tudo
Fotografia: Manuel Distinto |Uíge
O relógio marcava 13 horas e a escuridão já tinha invadido a comunidade de Nguizani, na comuna de Alfândega, em Sanza Pombo. As cubatas da aldeia eram iluminadas por candeeiros a petróleo, feitos
de lata. O céu estava coberto de nuvens negras, gigantescas e carregadas de água, que produziam fortes trovoadas.
A população da aldeia Nguizani entrou em pânico. Todos corriam de um lado para o outro em busca de abrigo. A chuva passou a granizo que destruiu tudo, casas, escolas, igrejas e outros
equipamentos sociais. O ambiente era desolador. Ninguém sabia o que fazer.
Alguns perderam tudo, absolutamente tudo. Das cubatas nada ficou, até as paredes de adobes caíram e ficaram reduzidas a lama. As ruas ficaram desertas. Muitas árvores estão caídas. As chapas de
zinco que cobriam as casas estão no chão e destruídas. Muitas foram levadas pelo vento para grandes distâncias da aldeia.
As galinhas e outras aves de criação não resistiram às enxurradas provocadas pela chuva e muitas morreram. Os agricultores da região choram lágrimas de sangue porque as enxurradas também
destruíram as lavras cultivadas.
“Às 13 horas, a Aldeia começou a escurecer. O clima estava feio. Começou a chuviscar e de repente a terra estava coberta de granizo. Os que se encontravam escondidos nas suas cubatas
acenderam os candeeiros. Aquela foi uma chuva terrível, muito estranha”, conta o soba da aldeia Nguizani.
Os que estavam dentro de casa, continuou, “tinham a sensação de que havia uma torneira aberta dentro de casa. Muitos não conseguiram comer. Esperamos que o Executivo, o Governo Provincial e
as organizações filantrópicas nos apoiem, para podermos ultrapassar essa dificuldade”.
Danos graves
“Os danos são graves e preocupantes, embora não tenha havido perda de vidas humanas. As pessoas que viviam nas casas afectadas pelas chuvas instalaram-se nas casas dos seus parentes e amigos,
enquanto outras se abrigaram nas varandas dos vizinhos”, contou o soba Ramos David Cubo. A equipa de reportagem do Jornal de Angola falou com a anciã Helena Cafuani, quando recolhia a
cama feita de bordão enterrada no monte de destroços de adobes que sobraram da casa onde vivia. Estava desesperada. Não acreditava que tinha perdido todos os seus bens num abrir e fechar de
olhos.
“Eu não estava presente quando a chuva começou a cair. Estava num óbito. Quando voltei, algumas horas depois da chuva, encontrei a minha casa completamente destruída e o bairro despovoado.
Todos estavam descontrolados. Uns procuravam os filhos e outros os animais. O Governo Provincial já fez o levantamento dos danos materiais e estamos à espera que nos apoiem o mais rápido
possível”, disse Helena Cafuani. Mateus Pascoal Bula, deficiente físico, que se encontrava no interior da casa de uma vizinha, viu o tecto da sua casa a voar. As paredes caíram e as roupas
foram arrastadas pela enxurrada. Não conseguiu recuperar nada devido aos problemas físicos que o apoquentam há muitos anos.
“Eu passei mal naquele dia. Não consegui recuperar nada. Fiquei em casa a rezar para que a chuva parasse. Não sabia mais o que fazer. As chapas da minha casa voaram e as roupas foram
arrastadas pelas águas. Estou desesperado. Perdi tudo o que tinha”, lamentou Mateus Pascoal Bula.
Apoios garantidos
O administrador municipal de Sanza Pombo, Manuel Nvuala, garantiu que os sinistrados da comunidade de Nguizani vão receber o apoio necessário, para recuperar as suas casas e voltarem à vida
normal.
“Aconteceu em pleno dia, foi uma situação difícil. Mas já aconteceu. São catástrofes naturais. Já fizemos o levantamento de todas as casas afectadas e remetemos à Administração Municipal de
Sanza Pombo. Aguardamos agora que os apoios cheguem o mais rápido possível”, disse o soba Ramos David Cubo.
Milhares de desalojados
“As chuvas começaram e tudo que é mau veio com as águas. Na província temos várias infra-estruturas destruídas. Mais de três mil pessoas ficaram ao relento e pelo menos sete municípios foram
afectados pelas últimas enxurradas que se abateram sobre a região”, disse ao Jornal de Angola a directora provincial do Ministério da Assistência e Reinserção Social, Adelina Pinto.
Nos municípios do Quimbele, Quitexe, Sanza Pombo, Milunga, Negage, Kangola e Puri, a chuva destruiu centenas de casas, centros e postos de saúde, igrejas, escolas, estabelecimentos
comerciais, campos agrícolas, unidades militares e outras infra-estruturas sociais.
“Estamos com um pequeno desfalque em termos de bens alimentares, mas temos chapas de zinco, utensílios de cozinha e cobertores para apoiarmos os sinistrados. São, portanto, esses meios que
temos disponíveis, que não são suficientes, mas que nos permitem estarmos em prontidão para podermos atender o grito da população sinistrada.
Prejuízos no Quimbele
Adelina Pinto informou que, até agora, o Quimbele é o município mais afectado, com 1.246 pessoas desalojadas, que já beneficiaram de apoios em bens alimentares, cobertores, chapas de zinco e
outros produtos não alimentares. A directora do Ministério da Assistência e Reinserção Social aconselhou as vítimas das chuvas a evitarem construir em zonas de risco. Segundo Adelina Pinto,
“a maioria das casas não possui bons alicerces, nem pilares. Elas são mal construídas. O principal material é o adobe cru, chapas de zinco e barrotes”.
Adelina Pinto anunciou a existência de um programa de distribuição de bens alimentares e não alimentares, nos próximos dias, às populações afectadas pelas chuvas e que estão concentradas
noutras localidades.
J.A