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Portal da Damba e da História do Kongo

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Página de informação geral do Município da Damba e da história do Kongo


Estruturas Sociais Zombo (actualização)

Publicado por Muana Damba activado 10 Octubre 2012, 08:52am

Etiquetas: #Fragmentos históricos do Uíge.

 

Por Dr José Carlos de Oliveira


 

Jose Carlos de Oliveira l


 

“(…) As regras do Kanu aconselham que, quando se visita um tio “mais velho”, se aplique um velho costume kongo: primeiro apanha-se um punhado de terra, depois levam-se as mãos aos ouvidos duas vezes e, finalmente, bate-se palmas. Em resposta, o tio diz “Kola wa chiana”, ou seja, “cresça e seja forte (…) ”.

 

A África negra registou em relação aos kongo, e desde aproximadamente o século XIV, uma evolução histórica acompanhada de fenómenos de conquista, expansões, invasões e migrações. Os grupos humanos nómadas (os que praticavam o pastoreio) foram aqueles que mais convulsões provocaram. Contactos de cultura foram estabelecidos muito antes da chegada dos portugueses, quer com árabes quer com orientais, donde resultaram perturbações políticas, económicas, sociais, religiosas e tecnológicas.

 

Estes factores estruturais deixaram, com maior ou menor incidência, sinais profundos nas instituições e conceitos que diziam respeito à fruição da posse da terra. Muitas das características dessas instituições só são explicáveis pelos acontecimentos do passado. De facto, não foram só as invasões, a transumância e as expansões naturais que levaram à convergência, no mesmo espaço, de sociedades com valores e padrões de cultura distintos. Também a fome, as secas, as pestes, a doença endémica da tsé-tsé, as migrações de animais e, consequentemente, a caça contribuíram, no passado, para a sobreposição de culturas e de sociedades diversificadas, no mesmo espaço66. Daí ser quase impossível encontrar sociedades que não denotem a influência de quaisquer contactos de cultura com as sociedades vizinhas.

 

Daniel Biebuyck (1963), especialista nestes assuntos, chama a atenção para a evidência dos contactos entre grupos humanos distintos que exercem uma influência muito forte sobre a modelagem dos sistemas fundiários. Estes contactos poderiam apresentar-se sob as formas de conquista sistemática ou de expedições guerreiras ocasionais, causando a substituição gradual da população de qualquer grupo, de migrações e expansões pacíficas, de invasões e infiltrações lentas e sistemáticas. Os contactos estabelecidos tinham causas múltiplas, tais como a pressão demográfica, as calamidades sociais, a procura de melhores terras ou fontes de água, a migração de animais, a desagregação social ou política, o belicismo e o nomadismo. Estes “ (…) podiam ser maciços ou difusos, permanentes ou temporários, regulares ou fortuitos. (…) “. Os comportamentos de um agricultor ou de um pastor tradicional e das sociedades a que pertencem é produto de séculos de experiência, de esforços, de ajustamentos, de acomodamentos, de fases de desorganização e de organização .

 

mapa de 1915cv

No que respeita a estratificação social zombo (tal como a generalidade dos kongo), a população dividia-se em três classes: um núcleo de aristocratas genealogicamente filiados na matrilinhagem e na patrilinhagem reinante, a quem podemos chamar população livre e a quem não se conhecia ascendente escravo; a parte da população que tinha comprado a liberdade e, finalmente, a população escrava68. Sobre este assunto, Barroso (1889) afirma o seguinte:

 

“(…)  À primeira categoria pertencem os chefes, seus filhos, sobrinhos e alguns outros, não muitos, que são de ordinário os conselheiros, embaixadores e ocupam enfim o primeiro lugar, formam a aristocracia do país. Tomam muito a sério a importância da sua posição, vivem de ordinário pobres, mas nunca carregarão um fardo ou uma rede que não seja a do rei, nem desempenharão mesteres reputados baixos. Passam a vida tratando de questões que são boa fonte de receita e passeando as povoações ou dormindo numa esteira nas cubatas. Podemos conhecê-los pelo pano que levam sempre o mais possível de rastos, como sinal de que em casa há abundância… Vêm em seguida aqueles que conseguiram a liberdade, ou eles ou os seus ascendentes próximos; é o burguês indígena. Muitos ocupam lugares importantes, são até os comandantes em todas as expedições militares. Têm melhor compreensão da vida positiva, vão procurar negócio a lugares afastados, entram em todas as especulações trabalham pouco, mas possuem muito, conseguem comprar ou arrastar às feitorias europeias bastantes produtos e com eles entra-lhes em casa a fazenda, que eles transformam depressa em escravos e mulheres (...).” 

 

Nesta citação, podemos ler: “Vêm em seguida aqueles que conseguiram a liberdade…”. Quem seriam eles e como teriam conseguido a liberdade? Não se trata de outra gente senão dos língua, conhecidos por pumbeiros do zombo (mais tarde como funantes) e por linguisters entre os expedicionários e missionários ingleses. Foi desta classe de gente que saíram os minkity ou kankita do zombo, comissionistas dos comerciantes do mato . São hoje os marchants ou marchandizeurs, conhecidos como “zairenses”. Este último termo revela, da parte de quem o utiliza, inveja e “desprezo” pelos especialistas do comércio zombo, especialistas esses que hoje vagueiam por toda a Europa e Américas.

 

O território dos zombo era, regra geral, inalienável e pertencente a toda a comunidade. Esta agia como uma estrutura organizada (o já citado fenómeno social total de carácter macro-sociológico de Georges Gurvitch) e considerava o Ntotila como um representante a quem tinha sido dada competência para distribuir os recursos naturais conforme as necessidades razoáveis de cada povoação familiar.

 

 

 

 

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