Programa de repatriamento voluntário e massivo prevê que semanalmente cerca de mil cidadãos regressem ao país até ao fim do processo
Fotografia: José Bule| Kimbata
O primeiro grupo de 326 refugiados angolanos provenientes da vizinha República Democrática do Congo (RDC), dos mais de 12 mil compatriotas que decidiram regressar de forma voluntária, chegou segunda-feira ao país, por via do posto fronteiriço de Kimbata, município de Maquela do Zombo, província do Uíge.
A coordenadora nacional do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), Margarida Fawke, afirmou que o segundo grupo de 500 pessoas chega amanhã, mas a partir da próxima
semana, às terças e sextas-feiras, chegam outros grupos de 500 elementos cada, a razão de mil por semana, para cumprir com o repatriamento de todos os angolanos que desejam regressar
voluntariamente ao país até ao dia 30 de Junho.
Margarida Fawke referiu que muitos dos cidadãos regressados necessitam de cuidados especiais para a sua reintegração, sobretudo os idosos e as crianças. Afirmou que os centros de acolhimento
oferecem condições aceitáveis para acolher os refugiados.
Na província do Uíge, foram criados três centros de acolhimento, um no município do Uíge, um na Damba e outro em Maquela do Zombo, onde os retornados vão permanecer durante alguns dias, para
depois serem transferidos às respectivas localidades de origem. Cada centro de acolhimento possui 32 tendas com capacidade para albergar mais de duas famílias, jangos, latrinas, refeitórios,
cozinhas, balneários, dispositivos para o abastecimento de água e geradores de corrente eléctrica.
Bens alimentares
Mais de 30 toneladas de bens diversos, entre géneros alimentares, roupa usada, cobertores, utensílios de cozinha e kits de reintegração encontram-se armazenados no centro de acolhimento de Maquela do Zombo, para os regressados.
O director provincial da Saúde do Uíge, Benji Moco Henriques, informou que todas as crianças menores de cinco anos são vacinadas contra a poliomielite, pentavalente 1, sarampo e febre-amarela.
“Vamos também identificar as grávidas e as pessoas doentes para lhes oferecermos um tratamento personalizado em função do estado de saúde de cada um deles. Programamos também acções de
sensibilização contra o VIH/Sida e a malária”, acrescentou.
Importância
A vice-governadora para o sector político e social e coordenadora da comissão provincial multissectorial para o repatriamento, Maria Fernanda da Silva, considerou de muito importante para o país
o processo de recepção dos compatriotas angolanos provenientes da RDC.
“Estamos a assistir o regresso dos nossos compatriotas que, por vários motivos, decidiram ir refugiar-se na vizinha República Democrática do Congo.
Estamos a receber maioritariamente crianças e jovens, mas é impressionante vermos também pessoas com mais de 60 anos a manifestarem livremente o desejo de voltar para Angola”, disse.
Maria da Silva afirmou que nos centros de acolhimento estão criadas as condições logísticas, esclarecendo que no local todos os retornados enfrentam um processo de triagem sanitária, além de
beneficiarem gratuitamente de documentos que os identifiquem como cidadãos nacionais, terrenos para o cultivo e construção de residências e kits de reintegração.
As crianças em idade escolar, disse, vão ser inseridas nas escolas do subsistema do ensino geral, enquanto os jovens beneficiam de cursos de formação profissional para facilitar a sua
reintegração.
“Tendo em conta que o número de refugiados é maior, os cidadãos retornados não devem ficar mais de 72 horas nos centros de acolhimento. Por isso, estamos a trabalhar para que, rapidamente,
consigamos transferi-los para as respectivas áreas de origem”, concluiu.
J.A