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Portal da Damba e da História do Kongo

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Página de informação geral do Município da Damba e da história do Kongo


De Dom António ao declínio do Kôngo

Publicado por Muana Damba activado 11 Noviembre 2013, 11:33am

Etiquetas: #História do Reino do Kongo

 

Por Patrício Cipriano Mampuya Batsikama


 

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Nas terras setentrionais do Kôngo as ameaças de secessão de Ngôyo, Kakôngo e lwângu eram grandes e começaram a efectivar-se paulatinamente, mas decididamente. De modo igual, verificava-se o rompimento das instituições políticas das regiões meridionais já fragilizadas pelas selvagerias dos Jagas. Das terras orientais António Cavazzi, que percorreu varias localidades, está de acordo que, primeiro: ninguém sabe explicar para onde termina o Kôngo-dya-Mulaza; segundo: a ruptura com as instituições orientais em relação às de Mbânza Kôngo e o vazio que perdurou durante alguns séculos (dois no mínimo) terão fragilizado a sistemática e coerente relação das mesmas.

É assim que Dom garcia II (Ndo Ngalasiya) Nzîng’a Ñkânga levará a cabo uma luta sem trégua contra a intromissão dos portugueses nos assuntos públicos do Kôngo. Mas ele morre em 1663, sucedendo-lhe Dom António Vit’a Nkânga. Embora fosse inconstitucional, esta sucessão não parece ter beneficiado os missionários que habitavam na capital. uma das razões foi o facto de Dom António ter sido um grande contestatário das actividades missionárias nos assuntos públicos de Kôngo. Por isto muito rapidamente
os missionários orquestraram contra a sua eleição alegando que ele pretendia expulsar todos os mindele do Kôngo. Essa informação, que chegou aos ouvidos de Vidal de Negreiros, governador de Luwânda directamente nomeado em lisboa, será sabiamente contornada pelo monarca com pedido para explorar as minas de Wându, mas com precauções ao disponibilizar recursos materiais (armas, etc.) e
humanos (trabalhadores, soldados, missionários, etc.).

Há probabilidade de que Dom António (Ndo Ntoni) tenha começado desde então a sua campanha contra os mindele, ao ponto de sustentar a total exclusão dos mesmos como forma de salvar o Kôngo das suas calamidades. Ao apelo desse rei popular, cerca de 900.000 homens serão reunidos, dispostos a lutar ao seu lado como rei unificador (Ntôtela).

Em todas as regiões em que existissem mindele havia batalhas.

Mas a mais celebre será a de Ambwîla24 por causa da intenciodade dos combates, e onde Dom António será ferido. A luta alastrar-se-ia até aos arredores de (Mpûngu’a) Ndôngo, com um saldo de milhares de mortos na parte dos Kôngo. O monarca kôngo era protegido por uma espécie de elite militar comandada por um corajoso kibênga.

 

Mesmo com o rei ferido, o valoroso kibênga ordenará o exercito a não recuar e a manter protegido o rei ferido em combate.

Nesse longo combate aparentemente terão conseguido rivalizar as armas portuguesas até ao pôr-do-sol. Dois acontecimentos teriam possivelmente decretado o fim da peleja: (1) ou o cortejo responsável por reconduzir o rei ferido a Mbânza Kôngo terá sido atacado no caminho (nzîl’a Samba), junto do território de Malêmba, actual município de Kwîmba (Zaire); (2) ou terão as populações de
Kilâmba negociado com os Portugueses em Malêmba – aparentemente à caminho de luwânda – depois de o kilômbo26 ter sido dividido e destruído. Em suma, o rei será capturado pelos Portugueses e conduzido à luwânda onde terminou decapitado e a vitória sobre a resistência kôngo foi celebrada na Igreja de Nazaré, com “Te Diem”.

Como consequência todos os kilômbo defensivos em Mbata e nas fronteiras entre Mbâmba/Mpêmba serão desmantelados e desunidos ficando a capital Mbânza Kôngo sem protecção. Não tardou e a notícia do tratamento indigno e morte do rei espalhou-se entre os sobreviventes (que não se refugiaram em Mbânza-Kôngo27), bem como entre a população em geral, resultando em que:

1) uma parte dos soldados constituída por cidadãos de Mpêmba (onde se encontra Mbânza-Kôngo), de Okânga (Congoria-canga, segundo Cavazzi) e de Mbata (com o apoio dos Mayaka ma Kôngo) buscará vingar a morte do rei. Herdeiros das convicções do falecido rei Ndo Ntoni, eles valorizavam tradicionalismo do tipo autenticidade que não era bem visto pelos mindele em geral, e pelo Vaticano, em particular;

2) Outro grupo, maioritariamente externo à capital, preferiu recorrer às instituições político-religiosas com o objectivo de promover a reestruturação do trono, e por isso vão preferir celebrar acordos de paz com os mindele: (a) uma parte deste grupo prefere recorrer às instituições kôngo em paralelo com as instituições portuguesas, mas desejam um representante legítimo, em conformidade com a tradição, o Mani Kôngo-dya-lêmba. Este grupo beneficiará do apoio do papa Inocêncio XI ao emitir uma bula28 a Dom Pedro (Ndo Mpetelo) Vuzi dya Ntamba (Mvêmb’a Mpânzu).29 A sua sucessão por Dom João (Ndo Nzwâwu) Mvêmb’a Mpânzu (1679-1710) irá marcar o fim deste grupo sem no entanto conseguir a sua
missão: reorganizar e restabelecer o trono; (b) A outra parte deste grupo representou a tentativa de promover a reconciliação com as pertecentes da linhagem de Mpânzu liderados indirectamente por um Ñzînga. O grupo instala-se em Kibângu sob a liderança directa de Mpânzu’a Mvêmba (1667-1669). Mesmo defendendo a paz, as hostilidades continuaram frequentes até ao assassinato de Mpudi’a
Nzînga (Mpânzu’a Ñzînga) em 1669. Contudo, seu sucessor também morre misteriosamente na mesma atmosfera. O último rei deste grupo morreu em 1709 depois de alguns anos de um reinado
instável como rei de todo o Kôngo.

Nesta época o reino do Kôngo passara a ter três capitais: (a) Mbânza-Kôngo, cujo trono será momentaneamente ocupado por Dom Álvaro (Ndo Luvwâlu) VIII Mpânzu’a Nsîndi (1666-1669); (b) Kôngo-dya-lêmba, tendo como soberano Vuzi dya Ntâmba (1667-1679) e (c) Kibângu, onde será legitimado o trono de Mpudi’a Mvêmba (1667-1669).

 

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Com a morte de D. António I Vit’a Nkânga, Dom Álvaro (também chamado Mpanzu’a Mbûndu por alguns historiadores) fez-se eleger com o auxílio do Frei girolamo da Montesarchio. É possível que este tenha também exercido influência na morte de Mani Nsûndi que, de acordo com os documentos disponíveis,
reclamava o trono dos seus ancestrais.

Voltando ao declínio do reino do Kôngo, entre 24-26 de Dezembro de 1665 o novo rei eleito em Mbânza Kôngo enviou a Luanda um sacerdote capuchinho de sua confiança, o Frei girolamo da Montesarchio, com o propósito de mediar um acordo de paz com os portugueses. Ocorre que o enviado acaba retido no caminho por Mani Mbâmba por razões não totalmente esclarecidas, provavelmente no redemoinho da rebelião dos Jagas que era intensa nessa região, mas também porque Mani Mbâmba não reconhecia a autoridade do rei. Quando finalmente foi solto e permitido regressar a Mbânza Kôngo em Junho de 1666, Montesarchio encontrará Dom Álvaro II já morto.

Seu substituto interino, Mani Nsoyo Paulo da Silva, entronizará Dom Álvaro VIII.30 Politicamente no entanto o reino do Kôngo continuou estruturalmente dividido. Dom Daniel (Ndo Nanyele) Mpânzu’a Mayala, indicado rei de Mbânza Kôngo, não teve o peso necessário para governar e restará ignorado durante todo o seu consulado (1678-1680). Entre 1679 e 1710, o trono permaneceu basicamente vago e incitará os católicos a tentar legitimar como monarcas aqueles membros da nobreza que agiam de acordo com seus interesses. Assim, por exemplo, o padre Pavie, missionário em Kibângu, tentará legitimar o seu amigo Dom Pedro (Ndo Mpetelo) ao forjar-lhe um casamento com a filha do general das forças armadas do Kôngo, o kibênga. Mas a pretensão não logrou êxito, simplesmente porque era contrária aos costumes do Kôngo. Da mesma forma, o Padre lucca da Caltanisetta, missionário em Kôngo-dya-lêmba, não se deixou intimidar pelas circunstâncias e propôs o reconhecimento de Dom João (Ndo Nzwâwu) Vuzi dya Ntâmba Tana em 1696.

 

Mesmo assim restava ainda muito espaço para outras manifestações, como é o caso do kimpasi.31 De acordo com Cavazzi, o kimpasi era geralmente realizado depois de períodos de grande caos social.

Ele começa pela construção secreta de um templo longe das áreas habitadas, mais especificamente nos mazûmbu (terras dos ancestrais). Construído o templo, e depois da formalização ritual da sua
existência pública, passava-se ao recrutamento dos iniciados que, depois de submetidos ao ritual de morte/ressurreição, passavam a habitar o kimpasi como mediuns, isto é, como pessoass habitadas  pelos ñkita. Sua missão e tarefa no kimpasi era justamente a invocação dos espíritos ancestros da fertilidade com vistas a repor a tranquilidade na comunidade.

Nesse periodo se destacará a liderança de uma jovem mulher na condução e oficialização das decisões do kimpasi. Seu nome, de acordo com bernardo da gallo, era Chimpa Vita ou ainda, de acordo com lorenzo da lucca, Dona beatriz. Os seguidores do movimento então liderado por Chimpa Vita, geralmente designados de Antonistas por alguns estudiosos33, eram na verdade os Kôngo devidamente iniciados e que eram frequentados pelos nkîta.

 

 

Extrato do Livro: A ORIGEM MERIDIONAL DO REINO DO kONGO

 

 


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