CONTACTO DE CULTURAS
NO CONGO PORTUGUES
ACHEGAS PARA O SEU ESTUDO.
Por Dr MANUEL ALFREDO DE MORAIS MARTINS. (Administrador da Damba 1945-1953).
CONSEQUÊNCIAS DO CONTACTO
Logo após o estabelecimento do contacto iniciou-se um contínuo e longo processo de influência recíproca entre as duas culturas, mais acentuadamente, como é natural, da nossa na dos Congueses.
No entusiasmo dos primeiros tempos, os reis do Congo, deslumbrados pelo brilho dos vestuários, das armas e de tantos outros atractivos, ofuscados pela pompa e luzimento das cerimónias religiosas,
influenciados pelos conselhos dos missionários e pelas descrições dos seus súbditos que tinham vindo a Portugal, envaidecidos pelas provas de amizade e de deferência que lhes davam os nossos
reis, pretenderam adoptar de um dia para o outro e impor ao seu povo o nosso modo de vida, as nossas instituições e as nossas concepções religiosas, fazendo do reino do Congo uma réplica perfeita
do reino de Portugal. Era um sonho irrealizável, porque a cultura de um povo, a sua herança social, embora não seja totalmente imutável, não pode transformar-se repentinamente, nem mesmo aceita
todas as inovações que nela se pretende introduzir. Mesmo aquelas que acolhe por serem úteis, ou não irem
contra as suas características mais fundamentais, não entram nela e se fixam sem que primeiro sofram uma adaptação aos modelos tradicionais, sem que se padronizem.
Uma cultura como a do Congo, que se baseava em concepções religiosas que dominavam todos os sectores da vida e numa organização social assente em clãs de sucessão matrilinear em família polígina
que, por sua vez, comandava as instituições económicas, não podia aceitar imediatamente e de forma inteiramente pacífica a nossa religião, que ia abalar todas as suas crenças tradicionais e que
impunha a destruição do sistema familiar existente, trocando-o pelo casamento monogâmico, que implicava a completa mutação da organização da economia e tantas outras alterações na vida dos clãs.
Houve por certo algumas conversões sinceras, e o caso do rei D. Afonso I é bem típico, mas na maioria eram mais conversões que aceitavam as formas exteriores do novo culto, mas não se
desembraçavam das concepções antigas.
O que a cultura conguesa absorveu da nossa e adaptou aos seus padrões, sem custo e até com entusiasmo, foram as inovações reconhecidas como úteis, que facilitavam a vida material e que não
brigavam com as características essenciais da sua organização.
Tentaremos analisar as transformações sofridas pela cultura dos habitantes do Congo devidas à nossa influência, no período decorrido desde o estabelecimento do contacto até final do século XIX,
isto é, até à ocupação efectiva do território, que marca o ínicio de uma nova fase das relações, caracterizada por uma aculturação mais intensa e processada em moldes da anterior.
Continua.
Texto enviado por Artur Méndes