Há muito que os uigenses e outras visitas não se cansam em declarar que a cidade do bago vermelho é uma região abandonada, esquecida, perdida, suja, e sobretudo incómoda para se poder circular à vontade de viatura.
Os buracos eram demais e a cidade se tinha tornado num autêntico “calvário”, pois era um
“martírio” conduzir naquela terra que suscita muitas saudades em muita gente, principalmente aquela que guarda boas recordações desta terra. Ninguém, absolutamente ninguém, pode esquecer
que esta área foi uma das mais sensíveis também durante a guerra que sobreveio às eleições legislativas e presidenciais realizadas em 1992. Como resultado, muitas infra-estruturas que
constituíam o seu “cartão de visita” foram destruídas.
Depois da guerra, tudo que foi “arrasado” reclamava por reabilitação, para que a cidade voltasse a brilhar. Neste preciso momento, a paz, que já é uma realidade em todo o território
nacional, também está a ser visível e benéfica para o povo do Uíge, que já nestes últimos tempos apresenta um rosto muito diferente. É este rosto que espelha bem a boa disposição que
caracteriza as populações daquela parcela.
Por várias vezes, falou-se do desenvolvimento desta zona, pois algumas iniciativas foram materializadas no sentido de marcar uma viragem, uma nova era, que motiva muitos a esperar por um
futuro melhor.
Quando Angola era considerada como um “canteiro de obras”, Uíge confirmava este cenário, e muitos empreendimentos foram erguidos e inaugurados, não só na cidade capital, mas também noutros
pontos estratégicos da província: Negage, Sanza Pombo, Damba, Makela do Zombo e outros foram os locais “agraciados” com alguns projectos de impacto social, antes das últimas eleições
legislativas, realizadas em 2008. Nesta sequência, o sonho de muitos nativos tornava-se numa realidade, enquanto não tinha terminado a “onda” de reivindicações… Exigia-se ao Governo mais
esforços e mais iniciativas, de modo a que o desenvolvimento da província do Uíge pudesse dar mais passos significativos e grandiosos. Seria uma das formas para reconhecer os efeitos
positivos da paz que foi reconquistada com sacrifício, bravura e sabedoria, quando e como ninguém imaginava.
Mas, na verdade, com a paz, naturalmente, ainda não se resolveram todos os problemas que afligem as populações. Mas também não deixa de ser verdade que algo mudou no país. E acredita-se que
a consolidação da paz e da democracia continua um processo em aberto, pois, certamente, mais novidades substanciais serão registadas. Nesta lógica, a província do Uíge vai viver dias
melhores, facto que fará esquecer a todos os que viveram na carne e no espírito os efeitos da maldita guerra fratricida o “passado ruim”, para se lançar num horizonte onde a reconstrução
será a palavra de ordem e um processo complexo mas, ao mesmo tempo, encorajador.
Com estas mudanças, Uíge, sem perder os seus “trunfos” de sempre, deixa de ser apenas terra do café, das gingubas, dos abacates, das bananas, pois também é, principalmente agora, uma terra
que conta com uma “cidade moderna”, na medida em que vai tentando, à sua maneira e de acordo com a realidade local, acompanhar os ventos da modernidade, em plena era da
globalização.
Os uigenses não querem entrar no futuro às recuas. Neste sentido, o actual governo provincial, aproveitando sobretudo os bons tempos de paz, aposta num projecto aliciante, que vai marcar as
novas gerações - e não só. Trata-se de um plano cuja concretização cabal poderá permitir a antiga cidade de Carmona “desafiar” a renovada antiga cidade de Nova Lisboa, hoje Huambo, cujos
trabalhos dos seus filhos facilitaram a reconstrução da cidade, que hoje brilha como componente da nova era que o país está a viver.
Por isso, muitos uigenses vão cantando: “o desenvolvimento está a chegar também à zona norte”, como testemunha o bem que está a ser feito neste preciso momento: a reabilitação das estradas
dentro do Uíge (as que ligam aos municípios e cidades como Negage, Mukaba, Damba, Quitexe, e Luanda, já são uma “pista”, há bastante), um desafio interessante, complexo, árduo, mas que vale
a pena, pois dele vai depender a reabilitação da zona.
De facto, quem visita a terra do bago vermelho, hoje, fica imediatamente maravilhado com as obras de reabilitação do “tapete da cidade”. Pelo menos eu, sou testemunha ocular deste facto.
Muitas máquinas, muita poeira, muito trabalho, muitos transtornos, mas também muita alegria e esperança em relação às obras são uma realidade.
O povo reconhece que os trabalhos que estão a dificultar hoje a circulação rodoviária na cidade do Uíge estão a ser realizados para o bem. E em breve a cidade terá um novo
“rosto”.
Hoje, a poeira provocada pela obra de reabilitação de estradas, dentro da cidade, é nota saliente, pois está a ser um grande e verdadeiro incómodo, colocando em risco a saúde das
populações, que estes dias estão a inalar a tal poeira. Porém, as mesmas (populações) sentem-se consoladas quando reconhecem que tudo vai mudar quando terminarem as obras. Mas, por
enquanto, muita gente vai chamando Uíge de “cidade da poeira”. Até quando? O tempo dirá.
Matumona Muanamosi