LUTHER, MEU JOVEM DESTEMIDO, MEU MUNDAMBA DE GEMA
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A minha singela homenagem, não deveria ser depois de teres partido, essa mania dos elogios fúnebres, mas o que fazer?
Pois, …
Foi necessário partires para a eternidade para fazer jus à real dimensão da tua estatura humana, de jovem dinâmico e estudioso, de político promissor …
Foi necessário partires para se destapar (se é que alguma vez ficou tapada) a vileza extrema dos egos, a fragilidade das instituições que a suportam …
Foi necessário partires para descobrir o tamanho do manto de esperanças que se estavam a alicerçar, Uíge adentro e, num sopro despudorado, tudo ruiu escancaradamente … De esperanças idosas passaram para miragens …
Foi necessário partires para constatar que continuamos a alimentar ilusões, substantivamente eivadas em volumosas cifras quantitativas, mas que qualitativamente expressam uma valente nulidade … A montanha, pariu um rato! … Afinal, a conversa era para boi dormir…
Foi necessário partires para atabalhoadamente, numa autêntica jogada de desespero, metermos as mãos à cabeça, enquanto os iluminados tentam justificar o injustificável e/ou qualificar o inqualificável: O que, na verdade, nós somos ou o que querem que nós sejamos? Feiticeiros, decidamente, não, não é nossa sina; pássaro de mau agouro (ntoyo)? Redondamente, não! Bode expiatório? …
Foi necessário partires para, mais uma vez, nos questionarmos se estamos indo para frente, se estamos parados ou, pior ainda, se estamos a fazer uma regressão histórica …
Foi necessário partires para perguntar, olhos nos olhos, sem pejo, sem ironia nem tibieza: será verdade que a saúde não tem preço? Se sim, isto é também válido para o Uíge?
Foi necessário partires para confirmar que ainda vivemos sob o signo do pesadelo das “anedotas” que fulminam mentes e as alojam no baú do esquecimento e da indiferença …
Foi necessário partires para com os olhos rasos de lágrimas, corações partidos, vontades inanimadas, concluirmos com categórica tristeza e desalento generalizado que partiu para a eternidade o Homem que, finalmente, desataria esse nó górdio, que se chama Damba …
Foi necessário partires, para que a Damba acordasse da longa noite letárgica e lancinante e perceber que ficou sem rosto, sem marca registada, sem brio … E agora?
Eterno descanso, meu querido!