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Portal da Damba e da História do Kongo

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O que o Koffi não entendeu

Publicado por Muana Damba activado 15 Agosto 2016, 08:25am

Etiquetas: #Diáspora

Por Sousa Jamba

O músico congolês, Koffi Olomide, segundo vários relatos, passou alguns dias numa cela VIP na famosa prisão de Makala, em Kinshasa, capital da Republica Democrática do Congo. Tudo começou na semana passada quando o artista foi filmado a dar um pontapé numa das suas dançarinas no aeroporto da capital queniana, Nairobi.

O clip deste acontecimento foi rondando nas redes sociais e Koffi foi universalmente condenado. Numa entrevista à televisão do Quénia, Koffi disse que ele era completamente
inocente e que tudo o que ele estava a fazer era proteger uma das suas dançarinas de uma batedora de carteiras.

Claro que ninguém acreditou nele e os protestos foram aumentando. No fim, o governo queniano deportou o músico congolês. Estava para actuar num grande espectáculo na Zâmbia; o convite foi cancelado.

É que Koffi não entendeu em definitivo o mundo em que os seus fans da Africa Anglófona vivem. Na África Anglófona, sobretudo na juventude, há um fenómeno chamado “girl power” ou o “poder das meninas.” Na Zâmbia, Tanzânia, Quénia, Uganda, Malawi, Zimbabwe, Botswana e África do Sul, o artista é muito popular entre a juventude feminina. Para muitas dessas jovens, Koffi, com os seus trajes coloridos, quase tem uma qualidade adrógina; elas vem nele alguém que entretem. Os shows dele são grande circos.

Na República Democrática do Congo já é visto de uma forma diferente – como vedeta com uma imensa capacidade de influenciar os seus seguidores. As jovens nestes países vão para um concerto de Koffi para dançar; quando se trata do seus valores, muitas delas preferem escutar as figuras nas igrejas petencostais, altamente influenciadas pela igreja Afro-Americana, sobretudo a linha que acredita na dita Teologia da Prosperidade.


Lembro-me de uma sessão numa igreja Pentecostal no Uganda em que várias senhoras agradeciam a Deus pelas promoções e viaturas que tinham adquirido. Cada vez mais, muitas jovens nestes países têm formação universitária.

Existe entre elas uma grande cultura de leitura. São elas que estão a liderar os esforços de avaliar certas práticas tradicionais – como a violência doméstica.


Em muitas culturas da África Oriental, é normal que um homem bata na sua esposa por não ter cozinhado bem ou por refilar. Estas jovens já não aceitam este tratamento. A violência doméstica é um tema permanente nos jornais, e programas de rádio que estas jovens escutam. Ligado a isto há o assédio sexual; muitas jovens identificaram-se com a dançarina do Koffi, a pobre menina que teve que aceitar a agressão e a humilhação do “chefe”. Nas redes sociais, Koffi foi chamado de “bruto atrasado”. Muitas dessas jovens estão cada vez mais conscientes de como o poder funciona e vão elegendo para o parlamento figuras que defendem os direitos das mulheres.

Na Zâmbia, há o caso do General Kanene, cujo nome oficial é Clifford Dimba. Este músico zambiano está a ter muitas dificuldades na sua carreira porque há uma campanha muito bem organizada contra ele por não respeitar as mulheres. O General Kanene, que tem três esposas, foi condenado em 2014, a 18 anos de prisão por ter violado uma menor. Na cadeia, ele começou a compor varias canções a louvar o presidente Edgar Lungu. Um ano depois, o General Kanene foi perdoado pelo chefe de Estado e feito embaixador da luta contra a violência domestica. Posto em liberdade, o General Kanene deu uma grande surra numa das suas mulheres que lhe negou o seu direito conjugal.

Quando ele estava a ser julgado, uma outra mulher apareceu, com ferimentos e inchaços por ter também apanhado desta superstar. Como no caso do Koffi, as vitimas sempre se retraíam sas suas alegações depois de serem pagas. Na Zâmbia, o público insistiu que o General Kanene deixasse de ser embaixador especial e que fosse julgado. Certas mulheres começaram a boicotar os espectáculos em que ele figurava.

Há propostas para Koffi Olomide ser banido da Africa Oriental permanentemente. Isto poderá ser uma grande perda para o artista congolês que recebe em média quarenta mil dólares por cada show. Na Zâmbia, a Associação dos músicos emitiu um comunicado apoiando a sua proibição, acrescendo o facto de, no passado, ter feito manchetes naquele pais por ter agredido um fotógrafo. O mesmo Koffi Olomide, aparentemente, não pode pôr os pés na Europa porque as autoridades francesas têm um caso contra ele que tem a ver com violação de meninas.

Depois de ser deportado do Quénia, o artista deu uma entrevista a uma televisão em Kinshasa em que pediu desculpas mas demostrou ter um grande ego. Ele estava furioso pelo facto das autoridades quenianas não o terem tratado com o respeito que ele julgava que merecia. Da “bolha” em que ele vive em Kinshasa, estava mais do que claro que Koffi não entende como as outras sociedades estão a evoluir. Depois de ser preso, os amigos de Koffi no Facebook tentaram organizar uma campanha de apoio no resto do continente, em que ele figura como vítima.

Pouca gente se solidarizou com ele. Da África Ocidental, passando pela África Oriental e ate à Africa do Sul parece haver um consenso: a violência contra mulheres não pode ser tolerada.

O que o Koffi não entendeu

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