Sebastião Malungu, um autêntico gentleman de 93 anos !

Por Miguel Kiame

Durante a minha permanência na Damba descobri uma pessoa muito especial cujo conhecimento da mesma pretendo partilhar para a comunidade Mindamba e outras individualidades interessadas. Trata-se do Mbuta Muntu Malungo Sebastião, nascido em 1918, contando agora com 97 anos de idade. A lucidez do seu discurso, a facilidade com que evoca, ao pormenor, assuntos da sua meninice e juventude, denotando uma verdadeira memória de elefante, a capacidade física e locomotiva deixaram-me verdadeiramente embasbacado. Ninguém resiste à forma tão delicada como se apresenta o Mais Velho Malungo Sebastião, fazendo dele um autêntico gentleman.

Fez grande parte da sua carreira profissional no vizinho Kongo. Foi Cozinheiro de renome de um grupo empresarial português radicado no Kongo. Os seus dotes culinários, valeram-lhe, segundo contou, a proeza de ter exercido a função de Cozinheiro-Chefe convidado para executar pratos da culinária portuguesa para o Presidente Jean Bedel Bokasa, por ocasião de uma das suas visitas ao então Zaire de Mobutu.

Contou ainda de um despique entre o Dr. Zamith, médico muito referenciado e de uma competência técnica igualmente admirada e um Terapeuta tradicional de nome Tombisa. Este mundamba era detentor de uma técnica muito apurada na circuncisão. A fama que granjeava levou o Dr. Zamith a propor-lhe um repto com o objectivo de demonstrar, com claras evidências práticas, de que a circuncisão feita nos moldes tradicionais era inconsistente e perigosa. No dia combinado, cada um deles assumiu a responsabilidade de circuncisar o mesmo número de pacientes, para, no final se apurar a técnica mais eficaz e eficiente.

Ao toque de partida ambos iniciaram a actividade cirúrgica: um com os instrumentos da medicina moderna e outro com recurso a instrumentos e medicamentos tradicionais. Enquanto o Dr. Zamith estava a fazer os preparativos de acordo com os ditames da medicina moderna, o nosso Terapeuta tradicional já estava na fase final da cirurgia do primeiro paciente. Para sarar a ferida o mundamba utilizava um composto de ervas e como ligadura umas fitas de folhas de bananeira. Tombisa foi o primeiro a terminar o que não significava que tinha ganho a disputa porque ainda era necessário levar a contenda até a completa cura dos pacientes. Nessa segunda fase da disputa, foi igualmente melhor sucedido porque a maioria dos seus pacientes curou mais depressa. Conclusão: o método tradicional foi mais eficaz e mais eficiente.

O Mbuta Muntu Malungo Sebastião reside no bairro Kizulo, Regedoria de Mbanza Kinzau. A sua tribo materna é Nsimba-a-Lukeni e a paterna Mabasi ma Ngungo.