Jovens médicos de volta ao Uíge

Fotografia: João Gomes

Por António Capitao

O sector da Saúde no Uíge recebeu cinco médicos formados em Cuba. Os jovens beneficiaram de bolsas de estudo através de quotas atribuídas pelo Instituto Nacional de Gestão de Bolsas de Estudo (INAGBE) ao Governo da província.

De 2008 a 2015, os jovens estudaram na ilha das Caraíbas, com o compromisso de, após a licenciatura, regressarem à sua província de origem.

Flaviano Mateus beneficiou da bolsa de estudos em 2008. Deixou o Uíge com 20 anos. Para trás, ficaram os pais, irmãos, outros familiares e amigos. Sete anos depois, Ivo, como era carinhosamente tratado pelos mais próximos, sobretudo pelos antigos companheiros dos tempos do basquetebol de rua, volta à terra natal licenciado em Medicina.

O médico conta que os dois primeiros anos foram muito difíceis devido à adaptação ao clima, língua, alimentação e costumes. Mas, com determinação e ajuda dos colegas, conseguiu superar todas as barreiras e dedicar-se à formação.

Flaviano Mateus disse ao Jornal de Angola que conhece bem o quadro epidemiológico do país e da província, e conta com a experiência dos médicos que já trabalham no Uíge para ajudar no tratamento e erradicação de várias patologias, sobretudo a malária, principal causa de mortalidade no país.

“Ainda temos uma taxa alta de mortalidade por malária no nosso país. Todos os jovens angolanos a formarem-se em Cuba nas ciências da Saúde têm noção deste problema e estamos apostados em contribuir para aumentar a esperança de vida dos nossos compatriotas.”

Aproveitar a cooperação

Emelson Brandão, 30 anos, tem um percurso de dificuldades e lembranças idêntico ao de Flaviano Mateus. O jovem diz ter concretizado o seu sonho de sempre, ajudar a salvar vidas, sobretudo de crianças.

O médico, que disse estar disponível para trabalhar em qualquer unidade sanitária da província, destacou o apoio do Executivo e do Governo da província durante o tempo em que esteve em Cuba. “Os dois primeiros anos foram muito complicados, mas tivemos de nos adaptar.”

Arlete Laurindo é a única mulher do grupo que regressou ao Uíge. A médica tem grande paixão pela especialidade de cardiologia, área em que se pretende especializar nos próximos anos.

“O nosso total agradecimento aos governos cubano e angolano por tudo que fizeram por nós. A cooperação entre Angola e Cuba deve ser aproveitada da melhor maneira pelos jovens bolseiros. Hoje, estamos formados e prontos para contribuir para o desenvolvimento do país, ajudando a população a ser cada vez mais activa e sã”, disse.
A directora provincial da Saúde, Luísa Cambuta, destacou a vinda dos novos médicos. “É verdade que eles não vão solucionar todos os problemas do sector, mas vão ajudar a reduzir a carência de médicos na província”, disse, para acrescentar: “Apesar de serem formados na base de um perfil epidemiológico diferente do de Angola, os novos médicos vão merecer o apoio necessário para estarem familiarizados com a nossa realidade.”

O Uíge necessita de, pelo menos, mais 50 médicos para garantir o funcionamento adequado de todas as unidades sanitárias da região, explicou Luísa Cambuta, que assegurou ao Jornal de Angola que o processo de enquadramento dos médicos já está em curso. “Com a garantia, que temos, de receber anualmente mais profissionais a serem formados em Cuba, o problema da falta de médicos no Uíge vai ser solucionada de forma paulatina.”

Novos quadros na Educação

O sector da Educação também recebeu quatro quadros formados em Cuba, sendo um na especialidade de Psicopedagogia e três na de Educação Física e Desporto, uma área que na província funciona com docentes adaptados.

Licenciado em Educação Física e Desporto, Massamba Pedro, 29 anos, pretende contribuir na formação dos jovens e na promoção do desporto de alto rendimento.

O professor disse que os licenciados vão direccionar o trabalho para as bases e adiantou que estão a efectuar estudos para obterem resultados que conduzam a melhorias na educação física e desporto escolar na província do Uíge. Massamba Pedro referiu ao Jornal de Angola a importância do exercício físico na manutenção e melhoria das condições de saúde e no crescimento e desenvolvimento psicomotor das crianças e adolescentes. O director provincial da Educação, Manuel Zangala, referiu que as condições estão criadas para o enquadramento dos professores. “São jovens filhos do Uíge que se manifestam disponíveis para darem a sua contribuição ao desenvolvimento da província e por isso merecem o nosso apoio para a sua reintegração imediata.”

Os jovens médicos e professores foram brindados com um almoço pelo governador provincial, Paulo Pombolo, e foram de seguida apresentados às autoridades tradicionais e entidades religiosas da província, como gesto de manifestação das acções do Governo provincial no domínio da formação dos jovens locais para a ­auto-suficiência em mão-de-obra especializada. O secretário-geral do Governo Provincial do Uíge, Luís Cambila, deslocou-se recentemente a Cuba para se encontrar com 38 estudantes universitários enviados pelo Governo Provincial do Uíge.

No encontro, Luís Cambila informou os bolseiros da carência de quadros nos mais variados sectores da província, sobretudo na Saúde. “Todos se manifestaram disponíveis para voltar para ajudar o Uíge”, disse. “Em finais de Julho deste ano, recebemos uma lista do Instituto Nacional de Gestão de Bolsas de Estudo, onde constavam 196 estudantes angolanos, incluindo 14 dos nossos bolseiros que se preparavam para serem graduados doutores, mestres e licenciados”, acrescentou o secretário-geral do Governo provincial.

A cerimónia de graduação dos jovens realizou-se no dia 7 de Agosto, em Havana.

Via JA