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Portal da Damba e da História do Kongo

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Mbânz’a Kôngo: aprendemos com os nossos erros

Publicado por Muana Damba activado 18 Abril 2015, 07:21am

Etiquetas: #História do Reino do Kongo

Por Patrício Batsikama

A sabedoria angolana diz-nos o seguinte: “mwân’a ndûmba lâmbudile luku; ngûnd’ândi lambulula lyo”. Isto é: “Quando na aprendizagem a rapariga estraga o funge de bombom, a mãe dela repara-o no fogo e não o deita fora.


Evitando toda polémica desnecessária, a minha opinião em relação a notícia da Lusa, concluía:
“Nada está perdido”.


Entre 2012 e 2014 viajei para Estados Unidos de América e conversei com Jan Vansina, John Thornton, John Janzen, Wyatt MacGaffey e encontrei-me com a equipa de Pierre Maret, na Universidade de Florida, e algumas personalidades académicas. Ofereci 100 livros da minha autoria e persuadi-los de apoiar a Candidatura de Mbânz’a Kôngo. Na Europa, con-
tactei Georges Balandier, o Museu de Tervurem e adquiri a autorização de traduzir dois livros importantes para este Dossier: (1) La vie quotidienne du royaume de Kôngo au XVII et XVIIIe siècle; (2) Dictionaire Kikôngo-français que a editora Mediapress trabalha para suas publicações. Visitei, no Brasil, algumas nzo (casa de candomblé oriunda de Kôngo), para os mesmos fins. Participei em conferências internacionais em várias universidades onde ofereci
1200 exemplares de quatro títulos da minha autoria. Ninguém patroneou-me, a não ser a “Fundação Patrício Batsîkama” e, por conseguinte, fiz passar fome a minha família.CONVITE: Quem sou eu para negar o honorífico convite do Executivo angolano através do ministério da
Cultura? Há quatro razões que me forçariam aceitar esse convite de imediato: (1) Beneficiei dos meios de Estado – através do BPC – para publicar os meus relatórios científicos sobre As Origens do Kôngo; (2) no Madûngu e a caminho de Mbânz’a Majîna vieram o bisavô de Raphaël Batsîkama (meu avô), que foi morto em frente do presídio e perante o povo; (3) Persuadi milhares de mbanza-kongolenses sobre esse projeto e que se revoltaram depois da notícia da Lusa. Não me canso de lhes dizer que “Nada está perdido”; (4) Não sou antipatriota, nem mau educado para negar esse nobre convite. Prova disso é que ofereci mais de 250 livros
de diferentes títulos e autores sobre História de Angola à Escola Superior Politécnica de Mbânz’a Kôngo, como forma de ajudar a consulta de uma bibliografia especializada. Não faria
sentido negar a mesma causa pela qual acredito.



Contudo, houve conversas informais e circunstanciais com alguns integrantes do Comité de Redação. Sempre me mostrei disponível para esse projeto, mas reprovo a metodo-
logia utilizada pela DNPC no “Call for specialists”. Pessoalmente, nunca recebi um convite oficial, ao contrário de outros. Se as minhas viagens – dentro e fora de Angola – fizeram-me
falhar, apresento as minhas humildes desculpas. Mas acredito que não se cometeria tal falha, caso a DNPC me disponibilizasse um calendário das reuniões, e me notificasse antecipadamente das reuniões rotineiras. Ainda assim, trabalhei entrelinhas.

PARECEIROS: ao citar os ministérios, caímos no mesmo erro. Todos eles representam o poder político. É interessante saber que as universidades foram convidadas. Sei que as autoridades do Lûmbu foram convidadas. E as outras? Vejamos: Kûlumbîmbi não é as ruinas, mas sim o sítio histórico onde perto de 12 patrícios de linhagens fundadores terão sido enterrados (Tradição oral). A própria palavra explica-o facilmente: (i) [ñ]kûlu, ancestral; (ii) mbîmbi: cadáver do ancestral comum. Antes da Sé Catedral havia religião kôngo (reminiscências estão nas Américas) hoje representada por Bûndu dya Kôngo e o sincretismo kôngo.

Os kimbanguistas dizem, por exemplo, que Kûlumbîmbi seria a Torre de Babel. Não se pode negar isso, senão interpretá-la como metalinguagem sintagmática: trata-se da crença como qualquer outro dogma católico. As populações ligadas à essas religiões (católica, protestante,
kimbanguista, tokoista, bundu dya Kôngo, etc.) são as verdadeiras conservadoras deste Património. Por isso é melhor considera-las todas!


Por outro, a UEA, a UNAP, a UNAC, a FESA, a Fundação Sagrada Esperança, a Fundação Sindika Dokolo, Universidades, etc. são, na lógica metodológica de World Heritage, os potenciais parceiros deste Dossier. É assim que aprendi, e foram os peritos da UNESCO que assim me ensinaram. É destes parceiros que me referia.


EQUIPA FRACA: parece-me que fui mal interpretado. O nível académico dos integrantes do Comité pouco importa. Vamos evitar de impressionar o público. Entre eles, poucos nacionais são autores de artigos cien-tíficos ou pesquisas de relevância sobre o Kôngo. Reconheço produção científica à Simão Souindoula, à Ziva Domingos e talvez à Ndônga Mfwa que são nacionais. Reconheço o trabalho de John Thornton, o profissionalismo da arqueóloga Maria
da Conceição Lopes. Mas não se trata dos colaboradores internacionais.


Refiro-me aos nacionais, com devido respeito as suas formações académicas. É só em Angola que um Ph.D. sem publicações nem pesquisas/comunicações vale tanto. Na UNESCO, não! Mbânz’a Kôngo possuir nove potências dos 10 critérios de se inscrever nesta Lista do Património, os doutorados não aproveitaram-se disso. É curioso! Mas repito, mais uma vez, “Nada está perdido”!



MAPA CADASTRAL: esse mapa fundar-se-á na identificação de 12 fontes que circunscrevem o Centro Histórico de Mbânz’a Kôngo. São 12 hidrónimos, logo potenciais fontes históricas! Em [13 de] Agosto de 1513, o desfile para festejar a vitória contra Mpânzu’a Lûmbu foi num espaço de nove fontes. No Nkutam’a mvîla za makanda encontramos doze fontes. Certos manuscritos
mencionam nove: Lorenzo da Lucca, Bernardo da Gallo, Códice 1900 da Biblioteca de Florença, Romano Dicomano, etc. Ao analisá-las, urge remapear o Centro Histórico de Mbânz’a Kôngo. Sobre estas nascentes, há interferência temporal e espacial: de 1513 até 1914 (José
Gama). Em 1513 a cidade europeia de Mvêmb’a Ñzînga Dom Afonso I tinha 7 fontes. As outras 5 estavam no actual Madîmba. Em 1914 José de Gama fez um mapa com fins militares, e localizou três destas fontes (ver o mapa anexado) num relatório que interessa-nos para perceber a geografia de Mbânz’a Kôngo (Arquivo Diplomático Histórico). Aliás, há evidências arqueológicas do século XVI e XVII em Madîmba. Eu não concordo – na base de documentos históricos – sobre o mapa do Centro Histórico de Mbânz’a Kôngo. Esqueceu-se de Madîmba! Será necessário re-projetar o mapa na base das descrições de vários fundo
arquivísticos e compará-las com os depoimentos das autoridades de Lûmbu (e outras religiosas). Só depois que se passará, finalmente, pelas propostas geológicos quer com o
ciclo de Wilson quer com aspectos orogénicos antes de projetar o mapa cadastral deste centro histórico.


CONCLUSÃO: Em 2002 Angola alcançou a Paz. A UNESCO é pela Paz e felicito o Comité de Redação pelo diálogo. O Centro Histórico de Mbânz’a Kôngo como Património da Humanidade será um instrumento de PAZ! É na base da Cultura da Paz que aceito o desafio. É bom que aprendamos com os nossos erros, e marcarmos firmes passos para frente.

Via NJ

 Mbânz’a Kôngo: aprendemos com os nossos erros

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