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Portal da Damba e da História do Kongo

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Página de informação geral do Município da Damba e da história do Kongo


A razão da revolta de Baixa de Cassanje

Publicado por Muana Damba activado 4 Enero 2015, 06:06am

Etiquetas: #Fragmentos históricos do Uíge., #Fragmentos históricos da Damba, #História do Reino do Kongo

 

 

Numa lengalenga sem nexo, quando a guerra alastra com armas mais sofisticadas por parte do inimigo, o locutor Ferreira da Costa lança apelos aos aldeões portugueses, especialmente agricultores, para embarcarem para Angola com urgência, porque esta é a terra da fortuna (só que as árvores das patacas já foram todas açambarcadas)! E a Companhia Colonial de Navegação encheu os navios até aos porões com os pategos que começaram a invadir as ruas de Luanda.

 

Agora, a situação, além de lamentável, é confrangedora. Não há lugar para acomodar tanta gente desprevenida, vivendo à míngua da caridade pública e das Instituições sociais que rebentam pelas costuras. Mete dó ver essa gente a vaguear pelas ruas, cheios de fome, sujos e envergonhados, dormindo debaixo dos alpendres que cobrem os passeios. Isto mostra o estado da administração portuguesa... Ao que chegou a desagregação dos principais valores que sustentam a dignidade humana!

 

Com muitas dificuldades, parte desses desprecavidos regressaram à pátria, enquanto outros foram trabalhar para os colonatos da Cela e outros mais para sul. Só que os agrónomos já avisaram que as terras da Cela, onde se tentam recolher várias centenas de famílias, não têm a qualidade produtiva que se esperava; portanto, estaremos perante mais um engano que põe na miséria todas essas famílias.

 

 

 

Meses depois da confirmação do fracasso da campanha de “novos colonos” – que mais parece a campanha das ilusões perdidas -, os apelos com a mensagem: “Ferreira da Costa fala verdade”, continuam a ser difundidos pelas Emissoras Oficiais, prometendo, ao “Zé povinho”, o paraíso em Angola. Será que está tudo maluco? Ou somos nós que andamos numa guerra de mentiras?

 

O “Jornal do Congo” continua a ver fantasmas por todos os lados, até parece que vivem numa ilha distante das realidades desta Angola martirizada que jamais terá condições de recuperar com tantos revezes na sua economia, na sua cultura e com estes moralistas doutro planeta, que mais parecem lunáticos de cartola!

 

Agora estão os indígenas a reclamar, a protestar junto da administração por causa das Normas dos Cemitérios:

 

“Os defuntos que chegam ao cemitério sem documento do imposto pago, são obrigados a voltar para trás.” Só podem voltar depois, no dia seguinte, desde que o imposto tenha sido pago! Revoltante, dizemos nós! 

 

     - Depois não querem que os gajos refilem e peguem em armas – disse o Simplício.

 

 

            

UM DESAFIO    

 

Daqui lanço o desafio espiritual

contra os oportunistas das emoções

desavindas nos atalhos da cultura;

revelo ao mundo inteiro, afinal

o propósito da campanha absurda

engajando colonos em noite escura

que vagueiam por aí desatinados...

 

Acabe-se com a ignorância lusa

que campeia nos novos desalojados

arrabanhados nas humildes aldeias;

atraídos pela promessa difusa

das colheitas despidas de ideias

em terras onde o lucro é uma trama

com gente ignóbil que os  engana.

 

Este é o meu sério desafio à vileza:

difundir a razão dessa incerteza

que paira nas terras de Angola

e combater os que vivem à gola!

 

A verdade tem a grande nobreza

de evitar que as dolorosas lágrimas

vos deixem abatidos na pobreza,

enquanto os mortos inocentes,

se acomodam à luz dos crentes.

 

 

 

Material apreendido ao inimigo

 

  

 


 

 

Incómodos

                                                     

1 - INCOMPETÊNCIA e CORRUPÇÃO...

 

     Não sei se vou incomodar! Mas incomoda-me saber algumas verdades que atestam a incapacidade dos governantes em gerirem estas terras de África. Pode ser uma ideia de contra corrente, ou contra os conformismos que se apoderam da administração. Sinto uma forte vontade de denúncia dos atalhos da corrupção que envolvem os bens da tropa destacada nos confins do sertão, nas matas e savanas. O dinheiro descaradamente desviado dos fins legítimos faz falta para melhorar a alimentação e a vida dos jovens acantonados nas povoações mais isoladas das zonas de guerra, onde cada dia é uma amarga incerteza de sobrevivência.

 

     Temos, também, os negócios engendrados com as empresas estrangeiras a quem são atribuídas concessões de exploração das matérias-primas de Angola em condições humilhantes para os portugueses. O caso das 75 concessões do minério de manganês, quando apenas estão em fase de prospecção três, demonstra bem a ligeireza como são contratados.

 

     Sendo voz corrente que há empresas, com sede em Angola, a prestar ajuda aos elementos da UPA, seria um acto patriótico averiguar e prender os responsáveis por tal traição aos combatentes e aos angolanos de bem. Os meses passam, os traidores continuam impunes e os militares sofrem e morrem com as balas fornecidas por essa escumalha sem dignidade.

 

     Talvez a linguagem agreste incomode alguém, o que é natural, quando o manto da escuridão oculta a realidade que é a nossa. A inércia dos responsáveis em desmantelar a rede de traidores incomoda-nos e deixa avançar uma corrente de efeitos castradores das vontades que, aliada ao silêncio das vozes mais equilibradas, deixam um vazio que nos torna exilados à espera da neurose ou da bala mortífera.

 

2 – A VANGUARDA DOS CAPITÃES - Irresponsabilidades

 

      Sabendo-se da existência do crescente descontentamento de muitos militares quanto à intervenção na guerra colonial, a “vanguarda dos capitães” só teve que aproveitar os vários factores e avançar com a “Revolução”. Alguns dos protagonistas, comandantes de grupo ou de companhia, tiveram sérias dificuldades em manter um mínimo de ordem e segurança durante a fase transitória de poder.

 

     A forma negligente como foram negociados os acordos da independência dos territórios ultramarinos e o controlo do seu cumprimento, sem acautelar os legítimos direitos e interesses dos cidadãos nem o apoio logístico aos planos de retirada, em condições seguras, dos militares destacados nas localidades do interior, espelham bem o sentimento patriótico dos políticos e militares intervenientes.

 

     Depois, não souberam exigir dos países apoiantes dos movimentos independentistas o respeito pelas normas internacionais; pois, os respectivos governos foram os fomentadores do desmoronar da administração ultramarina. Ao disponibilizarem dinheiro para ajudar os “retornados”, apenas estavam a reparar parte dos estragos que causaram aos portugueses.

 

     O patriotismo de muitos militares integrados na “caldeirada” dos “Capitães de Abril” subentende a cumplicidade com os desertores e com os cobardes que protagonizaram o “perdão” aos criminosos da PIDE e a outros autores de crimes contra o Povo português. Para além do oportunismo de se banquetearem na manjedoura dos dinheiros públicos, usufruindo de promoções em condições nunca antes imaginadas, pactuaram com tenebrosas acções de poder que muito prejudicaram o país e os seus valores.

 

     Há factos que jamais esquecerão os seus protagonistas, tais como: grupos de combatentes isolados e abandonados à sua sorte nas mais distantes e isoladas terras africanas; comandantes de grupo, com reduzidos efectivos para enfrentar a ganância dos elementos independentistas, que tiveram que colocar uns simples tubos como se fossem canhões (não havia munições) para amedrontar os opositores. Só com tais artifícios conseguiram preservar a sua integridade e dar alguma segurança aos colonos em fuga.

 

3 – OS MORTOS REJEITADOS

 

     Com base na aberrante lei que exigia das famílias a responsabilidade do pagamento dos elevados custos de transporte dos restos mortais dos combatentes para a metrópole, sabe-se que os mortos em campanha foram enterrados nos cemitérios das povoações locais; também se constata que o medo de afrontarem a hierarquia foi uma forma de encobrir a cobardia dos respectivos comandantes, cuja inércia permitiu tamanha afronta à dignidade dos que morreram em combate.

 

 

 

     Para que conste, os combatentes jamais esquecerão os seus companheiros de jornada. Assim, desafiamos os responsáveis político-militares a tratarem com as Associações de Combatentes a maneira de transladar os restos mortais daqueles que foram enterrados em terras estranhas - única forma de acabar com essa vergonha nacional.

 

     É necessário lembrar que uma geração de jovens portugueses foi sacrificada na guerra colonial, que foi esquecida, insultada e chamada de traidora. A maior afronta à dignidade dos combatentes é percebermos que os nossos governantes sempre pretenderam ocultar a verdade e apagar as nossas memórias, porque as mágoas não podem ser apagadas. Muitos deles, desertores e traidores à Pátria, não têm vergonha de traírem os seus concidadãos, sobretudo quando se atrevem a ignorar a quantidade de pessoas gravemente afectadas pelos fantasmas da guerra. O cinismo das suas omissões jamais apagará os anos de amargura e sofrimento que restringiu os sonhos a muitos milhares de bons portugueses.

 

 

 

 


 

 

Angola - BREVES APONTAMENTOS  HISTÓRICOS

 

Independentemente dos pontos de vista ideológicos, as atrocidades cometidas contra os povos pacíficos que viviam e trabalhavam no norte de Angola foram de uma crueldade e primitiva voracidade de matar que não têm perdão para os seus mentores. “Foi uma tragédia incomensurável que se abateu sobre aquelas gentes, a quem ninguém civilizado poderá ficar indiferente, mas a reacção de cada soldado é de repulsa e combate aos terroristas ferozes.”

 

O Ministro do Ultramar, Doutor ADRIANO MOREIRA disse:

É por consequência errado e prejudicial aos nossos interesses, creio eu, que nos detivesse-mos na preparação e condução da defesa contra a agressão, descurando outros aspectos da vida da comunidade Nacional, económico, bem-estar, social. /...”

 

 

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OS MASSACRES em ANGOLA – 1

 

 

 Janeiro de 1961 - Malange

     A companhia algodoeira COTONANG, instalada em Angola há vários anos na baixa do Cassange, era dirigida por pessoas autoritárias e rudes que se fundamentavam na lei do chicote e da sevícia. Como outras companhias estrangeiras a explorar as matérias-primas de Angola, mantinha uma política de constantes atropelos aos direitos dos trabalhadores que, para combaterem as más condições do trabalho e as baixas remunerações, desencadearam uma greve geral que durou alguns meses.

 

     Para terminar com os protestos, as autoridades angolanas deram ordens para a intervenção da tropa e da polícia numa acção desproporcionada e brutal. Foram centenas de homens armados, do Exército e da polícia, contra os trabalhadores e as suas famílias residentes nas sanzalas e aldeias. Foram mortos vários milhares de indígenas; de tal forma foi o massacre que até alguns brancos temeram pela sua vida. Poucas palhotas ficaram direitas, e os responsáveis pelo massacre continuaram a usar de cobertura para os seus fins criminosos.

 

     Claro que o movimento do MPLA aproveitou a deslocação de tropas de Luanda para a Baixa do Cassange e tentou assaltar as prisões desguarnecidas de Luanda, a fim de libertar os seus militantes ali presos. Só passados alguns dias, depois deste assalto, as notícias foram divulgadas. Mas pouco foi dito acerca do massacre dos negros residentes nos musseques de Luanda. Muitas caçadeiras dos colonos foram usadas para “limpar a cidade de negros”. Desde aí, as atrocidades tomaram as proporções que se conhecem, e as mudanças dos “ventos da história” não mais deixaram Angola em paz! A serenidade dos anos 50 culminou com os confrontos violentos e selváticos de Março de 1961.

 

 

 

        

 

MASSACRES em ANGOLA - 2

 

 15 a 17 de Março de 1961 – Norte de Angola

 

     No dia 15 de Março de 1961, Holden Roberto estava na ONU, em Nova Iorque, onde se discutia o fim do colonialismo português. Ao mesmo tempo, a raiva dos revoltosos, embriagados no fanatismo dos feiticeiros e acirrados por alguns missionários oriundos de países mais colonizadores e usurpadores dos bens do território angolano, espalhou-se pelas fazendas e administrações do norte de Angola como uma onda devastadora e mortífera para muitos brancos e milhares de pretos que trabalhavam nas fazendas e roças do café, aliados no desenvolvimento de Angola.

 

     Foram três dias de atrocidades e de barbaridades terroristas. Surpreendidos pela bestialidade dos ataques, os brancos serviram-se das suas armas caçadeiras para fazerem frente aos terroristas.

 

     Em todas as povoações e sanzalas do Bengo, Uíge, Inga-Caipenda e Ambuila, os indícios de que algo estava para acontecer eram evidentes. O centro operacional da UPA estava em Nova Caipenda-Ambuila.

     O dia da matança foi designado “o casamento da filha do Nogueira”.

 

     A destruição das pontes tinha o código de: “pintar bem todas as pontes”.    

 

O principal responsável por esta matança é o dirigente da UPA (União das Populações de Angola) HOLDEN ROBERTO, que estudou com os missionários protestantes ingleses. Nasceu em S. Salvador do Congo, em 1924. Apoiado por diversas organizações congolesas e americanas, fomentou e colaborou na organização da mais selvática acção violenta contra os portugueses e pretos bailundos do norte de Angola, especialmente devastadora nos dias 15 a 17 de Março de 1961. Para desenvolver a guerrilha recebeu muitas ajudas das igrejas e dos serviços de apoio americanos. A principal etnia a que pertencem os terroristas da UPA são Bacongos(norte).

 

     Os colonos eram tão bacocos que nem se aperceberam que o inimigo se preparava nas suas barbas, fazia propaganda e o recrutamento em todas as sanzalas. A ideia de que eram donos de tudo quanto a vista cobria foi o desígnio da sua tragédia. Embora alguns putos bailundos brincassem com os filhos dos fazendeiros e colonos, a propaganda do inimigo era bem visível, para quem estivesse mais atento... e alguns tomaram precauções! Tal como os brancos, os bailundos também foram atingidos, sendo cortados nas serras das serrações de madeira onde trabalhavam. Nunca se soube ao certo o número de mortos, mas calcula-se que foram mais de mil brancos e cerca de seis mil negros bailundos.

 

     Os canhangulos e catanas nas mãos dos enraivecidos, que se julgavam invencíveis, aniquilaram vidas, decapitando, esventrando e desmembrando os corpos. Acreditaram na mágica palavra “maza” (água) que os tornavam imunes às balas dos sitiados brancos, espalhando o terror durante três dias, com mais incidência na região dos Dembos, de Quicabo até Nambuangongo e até às povoações fronteiriças do norte com o ex-Congo Belga.

 

 

                     

 

     Nas semanas seguintes, à medida que a tropa e a polícia tomavam posições estratégicas, os civis formaram Corpos de Voluntários e, em conjugação com as forças militares, avançaram para o contra-ataque e a cólera levou à chacina de parte das populações que ficaram nas aldeias, muitas delas inocentes, tendo morrido mais de dois mil pretos do norte - Bacongos.

 

     Entretanto, os refugiados afluíam a Luanda, aproveitando todos os meios de transporte para o fazerem. Ainda em Luanda havia lutas encarniçadas de retaliação, sendo visível a brutalidade da matança; para quem passasse pela baixa logo de manhã, o espectáculo era desolador: vários camiões civis e militares a recolher os cadáveres de centenas de mortos resultantes das refregas traiçoeiras da noite anterior. Isto aconteceu durante várias semanas até que o perigo do terrorismo foi afastado para longe de Luanda.

 

     Como se veio a confirmar meses mais tarde, os rios Úcua, Dange, Lifunde, Onzo, Loge e Bridge acolheram nos seus vales muitos refugiados e terroristas, nas matas e nas florestas até Quibaxe, Dange, Muxaluando, Nambuangongo, Songo, Quitexe e Lucunga-Quibocolo.

 

 

 

 


              

 

 FACTOS e DATAS DO INICIO DA GUERRA EM ANGOLA

 

Janeiro 1961, greves e protestos nas fazendas de algodão.

São presos diversos indígenas considerados cabecilhas do levantamento dos trabalhadores.

- Fim de Janeiro de 1961, levantamento nas cadeias de S. Paulo, com espancamentos a presos.

 

4 de Fevereiro 1961, assalto à esquadra da PSP de Luanda, com a morte de alguns polícias e linchamento de alguns assaltantes. Durante o funeral dos polícias, no dia 5, houve desacatos com os indígenas;  os colonos atacaram os muceques e mataram milhares de indígenas.

 

15 de Março de 1961, massacre organizado pela União das Populações de Angola (de Holden Roberto), onde foram mortos e mutilados alguns milhares de colonos brancos e empregados negros, nas fazendas do café, zonas dos Dembos, Negage, Úcua, Nambuangongo. 

 

 

     As autoridades perderam o controlo das vias de comunicação para toda a zona norte, onde foram destruídas pontes, obstruídas as estradas com derrube de árvores e abertura de valas.

 

     Quando em Abril e meses seguintes de 1961, as tropas especiais começaram a reconquistar povoações e fazendas, como Bembe, Maria Teresa, Quicabo, Canda, Quipedro, Nambuangongo, Sacandica, Madimba, Maquela do Zombo, 31 de Janeiro, Songo, Toto, constatou-se que o empenhamento das missões religiosas protestantes teve um grande peso na orgânica e no engajamento de indígenas para a rebelião, já que os diversos documentos encontrados nos locais das missões demonstravam a conivência entre os missionários oriundos de países como os Estados Unidos, Bélgica, Inglaterra e Países nórdicos, bastante próximos dos dirigentes da UPA, cuja sede é no Congo Belga. Firam encontradas fotografias em Madimba e Buela, onde estavam alguns dirigentes da UPA em festas religiosas e na sede de Leopoldeville. 

 

Em 13 de Abril de 1961, embarque do 1º contingente de tropas para Angola no navio NIASSA.

 

A 19 de Abril de 1961, embarcaram no avião da TAP os primeiros pelotões de pára-queditas para Angola. Outros que estavam em Lourenço Marques deslocam-se para Angola.

 

Em 18 de Junho de 1961, o Ten-Coronel Armando Maçanita, comandante do Batalhão 96, dá início à “operação Viriato”, destinada a abrir caminho até Nambuangongo e lá instalar um Batalhão do Exército, com máquinas de engenharia, artilharia, atiradores, telegrafistas e enfermeiros.  

 

     

 

 TOMADA DE NAMBUANGONGO

 

- Desde 10 de Julho que saíram de Luanda, percorrendo um longo caminho e em  9 de Agosto, o Batalhão de caçadores nº. 96, comandado pelo tenente-coronel Armando Maçanita fazendo parte da “operação Viriato” chega a Nambuangongo, onde se instala. É hasteada a bandeira portuguesa na igreja da povoação, cuja torre está bastante danificada e apenas o alpendre que cobre a entrada está mais direito. A povoação, situada num planalto, estava deserta. Nos últimos 100 quilómetros, este batalhão teve vários reveses, desde Quitexe, passando pela ponte, que teve de ser reconstruída sobre o rio Danje, no profundo vale do rio Luica, cuja pequena ponte foi reparada, enfrentou as árvores tombadas da basta vegetação que marginava a picada, sofrendo ataques às portas de Mucando e em Quincuzo; após Muxaluando sofre novos ataques nas proximidades do rio Onzo mas entra em Nambuangongo, a meio da tarde, e toma conta da povoação.

     A 16 de Setembro de 1961, depois de várias tentativas do Exército e vários mortos e feridos, é tomada a “Pedra Verde”, zona de íngremes subidas, morros escarpados e esconderijos nas grutas perigosas.

 

 

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Dezembro de 1961

 

ABRIR CAMINHO - Os bravos condutores

 

     Depois das máquinas derrubarem árvores e endireitar picadas, os homens do exército passavam dias e semanas a limpar as margens dos caminhos que permitiam passar com maior segurança para reabastecimento das localidades e tropas aí estacionadas. É um trabalho medonho, daqueles abnegados operadores de máquinas.

 

     Em todos os reabastecimentos sobressaem os tenazes condutores das viaturas que, à mercê das balas inimigas e emoldurados com as poeiras das secas picadas, lá seguem com os volantes na mão e as vidas dos combatentes que transportam confiantes. Com a sua valentia e coragem ajudam a minorar as tremendas carências de bens essenciais que afecta todos aqueles que vivem à míngua dos reabastecimentos. Muitos deles passam por vários perigos, mas nunca vi nenhum voltar a cara às estradas enlameadas ou poeirentas que lhes causam grandes dificuldades na progressão. 

 

  


 

 

     O IMPÉRIO DEFRAUDADO e o POVO TRAMADO

 

     O desprezo pela vida dos soldados, tombados nas matas e nos trilhos dos Dembos e nas picadas que levam alguns meios de sobrevivência aos prisioneiros do arame farpado espalhados pelas povoações do norte, tem que nos fazer repensar a missão que nos trouxe a Angola.

 

     Dezoito meses, doseados, de sofrimento no meio do capim seco e da mata húmida, de lazer no ambiente de Luanda, dão para repensar a vida e perceber o peso das sombras que ameaçam o futuro de Angola.

 

     Quando se sente a morte por perto; quando, nos ouvidos, tocam as campainhas que o estrondo da explosão estremeceu e quando vimos os companheiros a morrer sem darem um ai, não pode haver tristeza nem vaidade que atrapalhe a muralha de sonhos que nos vem confirmar que estamos vivos!

 

     Ainda sentimos o fulgor dos corpos a reclamar contra os usurpadores das nossas vidas e do empenhamento dos ideais da raça lusitana. Os negócios feitos com empresas estrangeiras para a exploração das matérias-primas angolanas são manifestamente uma fraude aos interesses portugueses e só podem ter sido assinados por traidores à pátria. Senão, vejamos para onde vão essas riquezas:

 

EXPLORAÇÃO das RIQUEZAS de Angola

 

1 - PETRÓLEO:

- PETRANGOL: pertence à PETROFINA Belga.

- ANGOL: pertence à SACOR (portuguesa) e TOTAL (francesa).

- TEXACO: está em negociações (é americana).

 

2 - Minério de FERRO:

   É explorado em Cassinga, com capitais da KRUPP alemã, GREG-EUROPE Belga e também Japoneses.

 

3 - DIAMANTES:

   São explorados em três zonas - DIAMANG com capitais Belgas e Ingleses é a única empresa controlada. Apenas pagam a Portugal um imposto pela exploração.

 

4 - COBRE:

   A CUF, com capitais portugueses e Japoneses, é a principal empresa a explorar o Cobre no Mavoio.

 

5 - ALUMÍNIO

   A Baixite é explorada por empresas francesas e holandesas.

 

6 - MANGANÊS:

   A prospecção e exploração estão a cargo de empresas alemãs, americanas e francesas. Das 75 consignadas, só três estão em exploração. Compromissos com a UPA/FNLA?

 

7 - SISAL:

   É explorado por empresas inglesas, alemãs e CUF portuguesa.

 

8 - ALGODÃO:

   É explorado pela COTONANG belga. Devido aos atropelos à lei que provocaram alguns milhares de mortos em 1960, já deviam ter retirado de Angola.

 

9 - ÓLEOS de Palma:

  São explorados pela CUF e por empresas belgas.

 

10 - CIMENTOS:

  São produzido por empresas do Champalimoud, belgas e francesas.

 

11 – CAFÉ:

  O pouco que é colhido, está concessionado à empresa África Central Mining and Finance Corporation.

 

 

Artigo editado sob título: "Espaço etéreo, vivência na guerra colonial

 

 

Via micaias.blogs.sapo.pt

 

 

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