Um dia memorável!

Por Makunza Tungu "Tony Sofrimento"

Ontem foi um daqueles dias memoráveis e que dispensam comentários especiais para quem como eu, viveu na carne as agruras de um tempo que nunca voltará mais pois, seria uma hecatombe.

Tudo aconteceu quando já tinha noção da vida tal foi a dureza vivida em toda a trajectória até chegar esse dia. E o mais grave ainda foi o DAY AFTER!

Mas hoje, venho falar doutra coisa. Depois de uma passagem pelo serviço e, aí mesmo a um passo interrompi a labuta para assistir ao culto ecumênico, concorrido por várias denominações religiosas e por políticos e governantes que se identificavam logo aí nas primeiras cadeiras da zona reservada aos convidados.

Do outro lado, no púlpito montado, ao mesmo nível térreo estavam figuras religiosas que presidiram o acto com destaque ao Bispo Kahangu, Bispo Emílio de Carvalho, Reverenda Dorca e o pregador do dia, Sua Eminência o Bispo Afonso Nunes que brindou o Povo de Deus com uma homilia bem conseguida para a data.

No final tive a grata felicidade de reencontrar o Padre Martins, hoje a exercer o seu ministério na Igreja Anglicana. Os momentos foram emotivos pois as recordações tomaram conta da nossa cumplicidade enquanto o mesmo exercia o ministério na Igreja Católica.

A saída foi ainda mais emocionante com a boleia que dei ao Padre Maiato, a caminho do São Domingos. Aceitou a boleia e ao entrar esforçou-se a oferecer-me uma medalha com a imagem da Virgem Maria que trazia no bolso do seu hábito. Acto continuo falamos de outros padres cuja recordação nos faz retornar aos tempos da nossa meninice, da Missão Católica da Damba, de Maquela do Zombo, da nossa vivência no Colégio Cristo Rei do Bungo e no Seminário Menor Franciscano do Negage onde a Independência nos encontrou. E lá fomos falando do Prosdocimo, do Izequiel, do Rafael de Reana, do Camilo, do Hortensio, do Jorge e de outros ainda vivos como o Mariano, o de Maquela do Zombo que se encontra em convalescência depois de algum tempo adoentado.

Já que estava em casa dos Padres, achei bom fazer uma visita ao acamado Padre Mariano de quem tenho muita estima, consideração e dívida moral por tudo o que fez e continua a fazer para a nossa região em particular e pelo Povo de Deus em geral. Daria um best seller contar as façanhas e a vida deste Homem de Deus que vem desafiando tudo para cumprir com a missão que se predispôs levar a cabo quando se entregou ao Sacerdócio.

Ao entrar para o seu quarto saudou-me com entusiasmo de quem ainda tem muito a dar a este Povo. Sempre cordial e com uma memória excepcional, fez-me uma pergunta que nunca imaginaria a resposta: Sabes que dia é hoje? A minha resposta foi logo o não. De seguida veio com a resposta que aguardava: Nesse dia, em 1978, queimaram na Damba, a batina do Frei BIMPA! O que se seguiu foram reflexões sobre o comportamento dos primórdios da liberdade e a confusão que se instalou nas mentes das gentes da nossa terra.

Vá Mariano, deixe essa cama pois o trabalho te espera em Maquela do Zombo. A Independência precisa de trabalhadores como você que mesmo antes da proclamação nos transmitiram os ares de liberdade que sopravam na altura em que chegaste a Angola, em companhia do outro Mariano, do Jorge vindos fresquinhos com a entrada em pratica das resoluções do Concílio Vaticano II, da onda dos Hippies, da Revolução de Praga e naturalmente dos Beatles.

Via Facebook/Tony Sofrimento

Aspecto de uma missa ecuménica na Damba, onde, por longos anos trabalhou o Frei Francisco Bimpa. Imagem de Muana Damba