Por Filipe Eduardo | Malanje
O Projecto de Formação de Médicos para o Uíge, que abrange 55 estudantes de diversas especialidades na Universidade Lueji A’Nkonda, em Malanje, vai contar com os primeiros técnicos superiores ainda este ano.
O mentor do projecto, o médico gastrenterologista Óscar Paulo, afirma que a integração dos primeiros especialistas é apenas a concretização de um sonho, “que começou com uma conversa amigável e vai colmatar a falta de médicos na província”.
A ideia, recorda Óscar Paulo, surgiu em 2008, quando, no fim de uma jornada de trabalho, vários pacientes aguardavam por assistência. “Lacrimejei e senti-me na obrigação de assistir alguns deles, uma vez que as estatísticas da província apontavam para uma média de um médico para cada 25 mil habitantes, isto nos anos 2008 e 2009”, recordou com tristeza.
A primeira solução que lhe ocorreu consistia em influenciar os naturais do Uíge com formação médica que viviam em Luanda, no sentido de virem trabalhar para a província. O plano fracassou por várias razões, uma das quais o nível de vida que muitos ostentavam em Luanda.Como era absolutamente necessário melhorar a assistência médica, foi elaborado um outro projecto dirigido aos alunos do ensino secundário, com a seguinte mensagem de sensibilização: “Gostavas de ser médico um dia? A nossa província tem falta de técnicos de Saúde, muita gente morre por falta de uma consulta simples e isso deve-se à falta de médico”.
A mensagem chegou aos directores das escolas, com realce para a de Formação de Professores, e a médicos saídos de Luanda, que decidiram realizar palestras em várias instituições de ensino.
Graças a esta iniciativa, o movimento começou a crescer. Vários jovens, incentivados, começaram a ter força de vontade e atenderam à solicitação. O segundo passo consistiu em pensar na escolha da instituição onde iam ser formados médicos para o Uíge.A escolha incidiu na Universidade Lueji A’Nkonda, em Malanje, devido à sua localização. Um grupo de 12 candidatos ficou apto e, com o apoio do empresário José Soares,
recrutaram-se os primeiros estudantes, depois de serem criadas as condições mínimas, como dinheiro para pagar os arrendamentos e outros meios indispensáveis.
Hoje, Óscar Paulo afirma com orgulho que há 55 estudantes de Medicina que assinaram um contrato para trabalharem, pelo menos durante três anos, na província do Uíge, depois de terminada a formação.O processo de recrutamento continua e o mentor desta iniciativa acredita que a criação de novas faculdades de Medicina no país,
designadamente nas províncias de Cabinda, Huambo, Benguela e Huíla, vai permitir ao Projecto Médicos para o Uíge ter mais técnicos de saúde.
Aderir ao projecto
A estudante do 5º ano, que pensa especializar-se em cirurgia, Lurdes Catarina faz parte do primeiro grupo que aderiu, o que a leva a sentir-se orgulhosa, não só por ser uma pioneira desta iniciativa, mas também por integrar um projecto que vai resolver o problema da Saúde na província.Natural de Cabinda, promete cumprir à letra o contrato que a obriga a trabalhar no Uíge pelo menos durante três anos. A futura médica recorda que foi para a província para dar continuidade aos estudos superiores em qualquer área da Saúde, mas como não havia nenhuma instituição de ensino superior nessa especialidade ingressou no ISCED, onde estudou até concluir o quarto ano.
Como a Medicina faz parte do seu sonho, assim que surgiu a oportunidade, abandonou a área da Educação e abraçou o projecto. “Prometo que depois de concluir o curso de Medicina vou fazer um esforço para terminar o ISCED, só para aumentar os meus conhecimentos, porque sempre sonhei em prestar assistência médica”, disse, ao mesmo tempo que lança o desafio aos companheiros de curso a empenharem-se cada vez mais e a fazerem tudo com carinho e dedicação.
Outras províncias
Estudantes de outras províncias podem, de acordo com Álvaro Nanga, outro promotor da iniciativa, fazer parte da iniciativa, bastando para o efeito aceitarem o acordo. Eliana Tavira, estudante do 2º ano, é natural de Luanda, mas foi para o Uíge estudar no ISCED.
Também ela acabou por aderir ao projecto porque, garante, o sonho de estudar Medicina começou muito cedo e faz parte da carreira profissional de familiares, a começar pela mãe.
Agradeceu os vários apoios que têm surgido de diversos lados, com realce para a Direcção Provincial de Saúde.
A título de exemplo, disse que os estudantes receberam um computador portátil cada um e outros bens. Eliana Tavira, à semelhança dos demais colegas, tem fortes razões para se sentir motivada, entre as quais o facto de ter um emprego garantido após o fim do curso.
A futura médica diz que vai trabalhar no Uíge quando terminar o curso, não só devido ao contrato que assinou, mas também porque é uma enorme necessidade desta província.
“Na qualidade de angolana devo dar o meu contributo em qualquer parte do território nacional", salientou. A jovem ainda não definiu a especialidade que vai seguir, mas isso não constitui problema, pois, como disse, há tempo para pensar melhor, apesar de estar a ponderar gastrenterologia.
Apoio do Governo Provincial
O Governo Provincial do Uíge, que louvou a iniciativa privada de alguns médicos da província, garante que vai apoiar o Projecto Médicos para o Uíge.
A directora provincial da Saúde, Luísa Cambuta, visitou há uma semana os 55 estudantes que aderiram à ideia, para se inteirar da situação dos mesmos, e assegurou que o apoio tem o empenho directo do governador Paulo Pombolo.
A ausência de uma Faculdade de Medicina no Uige e o factor vizinhança estiveram, segundo explicou, na base da escolha da Universidade Lueji A’Nkonda para a formação destes futuros médicos.Luísa Cambuta não tem dúvidas: este projecto vai reduzir a mortalidade infantil. Pela nobreza desse facto, exortou os estudantes a não porem de lado as especialidades de Obstetrícia, Pediatria e Cirurgia.
Via Jornal de Angola