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Portal da Damba e da História do Kongo

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15 de Março de 1961 na Damba, as legendas de uma fotografia histórica (1)

Publicado por Muana Damba activado 17 Marzo 2014, 04:57am

Etiquetas: #Fragmentos históricos da Damba

Por Makunza Tungu "Tony Sofrimento"

Quando pedi para o Camilo enviar a foto da contra-capa, era para realçar o papel ecumênico deste Grande Homem de Deus ( Padre Camilo Tarasso) . Como sabeis, as duas figuras atrás dele, o Sr. Manuel Tungo e a Sra. Isabel, não são nem nunca foram católicos. Na altura em que essa foto foi tirada, decorria um processo encabeçado pela Pide na perseguição dos Protestantes e este Padre, além de ter protegido este casal aquando da Revolta de 15 de Março, manteve um convívio com todos os que eram perseguidos neste altura.

Junto a ele, estão pessoas que contribuíram muito para a nossa educação e desenvolvimento à altura dos conhecimentos adquiridos na Missão Católica da Damba. Posso citar: Ambrósio Lukoki, Santos Miyata, Garcia Filipe, a Velha Maria e outro mais velho que e com vergonha não recordo o nome dele.

Esta foto que comentámos hoje, foi tirada numa altura crucial da identificação dos mindambas. Tinha esfriado o clima de tensão vivido com a guerra iniciada a 15 de março, estavam localizadas as populações e reenquadradas as localizações e concentradas as aldeias pois já se sabia onde estavam as pessoas. Os realojados pelo exército português, os que estavam nas "baixas", os que estavam já "salvos" no Kongo belga e os que foram levados para Luanda pelo regime colonial assim como os detidos nas cadeias da Pide. Nesta altura, CAMILO, o Padre, já tivera visitado a comunidade dos mindambas no Kongo belga onde se deslocara de propósito para saber como estavam as pessoas da sua paróquia.

Camilo, o Padre, viveu todo esse clima de devastação provocado com o eclodir da guerra em 15 de Março aliás, nada poderia o fazer esquecer pois um seu confrade e compatriota tombou em frente a igreja da Ndamba baleado. Ele sentiu muito bem os efeitos desta gesta e sem rancor nem medo enfrentou as consequências do envolvimento da igreja na pacificação que se impunha

É curioso que esta foto é histórica por muitos motivos e eu, sou suspeito em declarar isso pois, estão aí os meus progenitores mas deixa dizer que todos os que estão nessa foto ficaram "órfãos" com a guerra. A velha Maria, ficou sem os filhos, transportados para Luanda de emergência nos aviões colocados a disposição do governo português; os Tungo, ficaram sem saber onde estavam os familiares todos e só foram reencontrados pelo exército português quase um mês depois do início da luta armada; o mano Ambrósio Lukoki, o Mano Garcia Filipe, todos originários do Nkusu-Mpete, mal sabiam onde andavam os pais, todos refugiados no Kongo Belga e nas "baixas", o mesmo acontecia com o Miyata e outros identificados nesta foto e noutras fotos que se faziam na memórias dos sobreviventes e dos sobrevivos.

Não é verdade dizer que a Ndamba era maioritariamente católica sem citar a proporção. A Ndamba era e continua a ser um dos maiores centros das igrejas protestantes do norte de Angola. Os baptistas tinham uma grande implantação na Ndamba e eles tinham muita influência no mosaico cultural, econômico e religioso da região. As aldeias de Kinkosi, Kinsakala, Lusenga, Nsalambongi, Kiyanika e outras eram todas protestantes e muitos se converteram ao catolicismo temendo a guerra iniciada em 15 de março de 1961. Temiam a vida pois como sabeis, os protestantes eram acusados de terem iniciado as convulsões políticas que culminaram com a guerra de 15 de março de 1961 e concomitantemente a independência. Muitos catequistas protestantes foram mortos, muitos deles enterrados vivos e queimados. Igrejas destruídas nas sedes de Kinkosi, Kinsakala e Kiyanika de onde veio a 1ª pedra da igreja Protestante Baptista que veio do NFINDA A MATUTA.

Nesta façanha dos protestantes na Ndamba! podemos citar a velha MAKUMBU, esposa do Grande KIALA KIA TALU, mãe da tia Adelina, esposa do falecido tio Fonseca, que se manteve protestante mesmo com as ameaças dos colonialistas. Grande parte dos nobres filhos da Ndamba foram educados pelos protestantes tais como o tio Loures Zongo, Afonso Dialamukua, Miguel Alberto, etc... que saíram da Ndamba para estudarem no Kibokolo que era o grande centro educacional do norte de angola, comparado ao Kessua no centro e o Dondi no sul. Muitos destes, foram mesmo para estes centros para continuarem os seus estudos.

Os TUNGO, nunca foram católicos! Os acontecimentos de 1961, desenvolveram uma relação com esta Igreja o que confunde muita gente inclusive padres e bispos desta congregação religiosa. Quando nós fomos "resgatados" pelo exercito português do hospital do LUEKA, em abril de 1961, fomos refugiados na igreja católica. E como sabeis, os protestantes eram perseguidos pela administração colonial pois era acusados deterem iniciado as convulsões políticas que originaram o início da luta armada em 15 de março de 1961 no norte de angola. Logo, a minha mãe, amofináramos de outras protestantes, não aceitou a "conversão" ao catolicismo para poder ter protecção naquela altura o que originou que estivéssemos ao relento em pleno mês de Abril até sermos admitidos na nossa condição o que aconteceu depois da aprovação na altura do Padre Camilo e do padre Rafael de Reana. Aí iniciou uma relação que faz "inveja" a muitos católicos ainda hoje pois, mesmo "obrigados" pela administração colonial a frequentar as missas da igreja católica, nunca deixamos de ser baptistas pois em casa a minha mãe fazia o papel líder religiosa da família ao mesmo tempo que cuidava da nossa educação e sustento. De tal modo era a nossa relação com a igreja católica que, grande parte dos filhos e no meu caso fui até ao seminário menor dos frades menores capuchinhos sem ter sido baptizado pela igreja católica, o que admira inclusive padres e bispos com que falei. O padre Rafael, sempre quiz ser meu padrinho desde os meus primeiros anos pois tentou convencer a minha mãe neste sentido mas, a fé firme baptista da minha mãe assim não permitiu.

A implantação da igreja católica na sede da Ndamba é posterior a 1948, houvem outras missões perto da Ndamba e principalmente na região do Nkusu-Mpete onde se instalaram muitas confissões religiosas antes desta data. Com a entrada dos missionários baptistas em Kibokolo, abriu-se uma grande região de influência protestante pois eles garantiam a partir de Kibokolo empalidecias sobre controle deste a educação que não havia na região que viveu de quadros que estudavam no Kongo belga muito antes destas datas. Se você penetrar bem na tua origem, vais descobrir que tens muitos protestantes convertidos. Pergunte mesmo ao dr. Camilo Afonso, quantos membros da família dele sao ou eram protestantes. As coisas não estão escritas e a geração que vivenciaram esta época foi morrendo.

Fala-se do LUEKA com saudades. É verdade, este local que serviu antes como estação veterinária, passou para maternidade até ser construída a actual Maternidade Rainha Santa e, por necessidade o hospital do LUEKA foi transformada em internamento masculino do hospital da Ndamba e foi nesta altura em que o pai trabalhava aquando do início da guerra de 1961.

Via Facebook/Camilo Macamu

15 de Março de 1961 na Damba, as legendas de uma fotografia histórica (1)

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